O contrato prevê seguro para o período do aluguel, caso ocorra algum acidente, roubo, entre outros problemas. A plataforma, que conta com 400 carros em São Paulo, está funcionando como um projeto-piloto em BH, cuja frota ultrapassa 1,7 milhão de veículos. “Vendemos o acesso ao carro. Fazemos o meio de campo entre quem tem um carro ocioso e quem precisa de um. Os veículos ficam cerca de 22 horas parados por dia”, ressalta um dos sócios, Conrado Ramires. Em vez de alvo de depreciação, o aluguel permite que o carro se torne fonte de renda. “Quem aluga por 10 a 12 dias consegue em torno de R$ 1,5 mil”, diz o também sócio Bruno Hacad.
Na mesma lógica do carro, uma criança não precisa ter o brinquedo se ela pode usá-lo pelo tempo que for necessário. O Clubinho da Didi, criado há oito meses, aluga brinquedos para crianças de até 5 anos. “A grande vantagem é que é possível ter acesso a brinquedos caros, que a pessoa usa por pouco tempo e viram trambolho em casa”, conta uma das proprietárias, Ana Amélia Ávila. São mais de 200 opções a preços que variam de R$ 5 a R$ 140. Os pais alugam durante 15 ou 30 dias, renováveis. A taxa mínima é de R$ 50.
Ana Amélia e a sócia, Paula Costa, já atenderam a mais de 600 clientes e enxergam que o negócio vai muito além de uma economia para o bolso. “Está dentro de uma proposta de consumo sustentável. Além disso, as crianças acabam não tendo apego com o brinquedo. É uma relação leve”, ressalta Ana Amélia.
Numa palestra em Sidney, cujo vídeo teve mais de 1 milhão de acessos, a autora do best-seller O que é meu, é seu – Como o consumo colaborativo vai mudar o mundo, Rachel Botsman, afirma que a sociedade está acordando de “um período de ressaca enorme do vazio e do desperdício” rumo a um sistema mais sustentável. “No consumo colaborativo, você paga pelo benefício que algo faz a você, sem precisar pagar por ele completamente”, explica. Segundo ela, esse novo paradigma “nos ensina quando o suficiente é realmente suficiente”.
O consumo compartilhado inclui desde iniciativas de trocas ou reutilização, como bazares e brechós, até o uso compartilhado de serviços e produtos. “Isso está acontecendo por uma renovada crença na importância da comunidade, numa recessão global que chocou radicalmente os hábitos de consumo, na torrente de redes sociais e tecnologias em tempo real mudando a maneira como nos comportamos e na maior preocupação ambiental”, ressalta a pesquisadora.
Nessa perspectiva, não há mais a necessidade de um chef de cozinha ter seu próprio restaurante para comandar os fogões. O House of Food BH, inaugurado no ano passado, é uma cozinha compartilhada cujo resultado é um restaurante com múltiplos chefs. “Faço uma curadoria. Em geral, são chefes que querem testar uma receita ou divulgar o trabalho. Gente que pensa em abrir um negócio, donos de food trucks que vêm divulgar a marca”, conta a captadora de chef, Marcela Fernandes. Os interessados pagam uma taxa de R$ 200 ou R$ 300 para cobrir custos de gás, energia e água, além do repasse de um percentual do faturamento do dia, que pode variar de 25% a 30%.
Pioneiros
Pioneiros na ideia de compartilhar, os coworkings já emplacaram e se disseminaram por BH. Esses espaços compartilhados de trabalho oferecem estrutura para o profissional, sem que ele precise arcar com as despesas de um escritório próprio. “A economia pode chegar a 70% em relação a uma sala comercial. E ainda há um networking de conhecer outras pessoas que trabalham no mesmo lugar”, comenta Letícia Mendanha, sócia-proprietária do Studio Coworking Sion, no bairro da Região Centro-Sul de BH.
O aluguel do espaço de trabalho – seja estação individual ou sala – varia conforme a demanda do cliente. “Há aluguéis por hora, por dia”, explica. Com R$ 15, o profissional tem acesso a wi-fi, água e café por uma hora, além de serviços de recepção e manutenção. A maior procura vem de profissionais liberais e autônomos. Há dois anos, a psicóloga Lisley Cristina, de 45 anos, encontrou no coworking o melhor custo/benefício para exercer sua profissão. “É muito mais cômodo. Não tenho que me preocupar com nada. Teria que pagar aluguel para sustentar 31 dias uma sala que uso de três a quatro horas por dia”, afirma Lisley.