Rio de Janeiro – A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou fevereiro com alta de 0,33% ante uma variação de 0,38% em janeiro, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O percentual é o mais baixo para o mês desde 2000, quando estava em 0,13%. Com a alta em fevereiro, o resultado acumulado em 12 meses desacelerou de 5,35% em janeiro para 4,76% em fevereiro, menor patamar desde setembro de 2010, quando estava em 4,70%. A inflação registrada no mês de fevereiro de 2016 tinha sido de 0,90%. Em Belo Horizonte, segundo o IBGE, a inflação de fevereiro foi de 0,34%.
Os preços dos alimentos tiveram uma queda de 0,45% em fevereiro, contribuindo para conter a inflação do mês em 0,11 ponto porcentual, de acordo com os dados do IPCA divulgados pelo IBGE. O grupo Alimentação e Bebidas, maior impacto negativo sobre o índice, apresentou o menor resultado desde julho de 2010, quando os alimentos ficaram 0,76% mais baratos. Considerando apenas os meses de fevereiro, o resultado de alimentação foi o mais baixo da série histórica a partir do início do Plano Real, em 1994.
Considerando os alimentos para consumo em casa, o recuo nos preços alcançou 0,75% em fevereiro, devido a reduções em todas as regiões pesquisadas: de -0,39% em São Paulo até -1,57% em Campo Grande. Vários itens importantes na cesta de consumo do brasileiro ficaram mais baratos em fevereiro, como feijão-carioca (-14,22%) e frango inteiro (-3,83%). Já os alimentos consumidos fora do domicílio ficaram 0,11% mais caros.
Demanda fraca O impacto da demanda fraca ainda está presente no arrefecimento da inflação medida pelo IPCA, mas foi abafado em fevereiro pelo impacto da redução nos preços dos alimentos, avaliou ontem o analista da Coordenação de Índices de Preços do IBGE, Fernando Gonçalves. “A safra está mais favorável. Saiu ontem (anteontem) o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (do IBGE), com (previsão de) aumento de mais de 20% (ante a safra 2016). Isso favorece a queda nos preços dos produtos. No caso de alimentação, é oferta maior mesmo, não demanda menor, porque as pessoas precisam se alimentar”, afirmou.
“O que afetou o IPCA de fevereiro foi essa oferta enorme de grãos, afetou bastante, porque alimentação pesa quase um quarto do IPCA”, confirmou Gonçalves. “Continua o efeito da demanda fraca, mas neste mês agora a oferta de alimentos ajudou muito a conter o índice. Mesmo com essa alta de educação, a alimentação ajudou bastante a conter”, completou.
A principal pressão altista sobre a inflação do mês partiu de educação, com alta de 5,04%, mas ainda menos acentuada do que o registrado no mesmo período de anos anteriores. E 2016, o grupo tinha aumentado 5,90%; em 2015, 5,88%; em 2014, 5,97%. “Descontos estão sendo oferecidos para conseguir manter os alunos. Então os reajustes foram um pouco menores este ano”, confirmou Gonçalves.
Transportes e serviços Segundo o pesquisador, a demanda fraca também pode ser vista em fevereiro no item passagens aéreas, que teve queda de 12,29%. “Passagem aérea foi demanda mesmo”, declarou. O item exerceu a principal pressão individual para baixo sobre a taxa de 0,33% registrada pelo IPCA do mês, o equivalente a -0,05 ponto percentual. O movimento quase anulou a contribuição de 0,06 ponto percentual proveniente dos reajustes dos ônibus urbanos, que ficaram 2,33% mais caros no mês. As tarifas dos ônibus urbanos subiram em oito das 13 regiões pesquisadas em fevereiro. Também houve aumento nas tarifas de ônibus intermunicipais em cinco regiões.
Como consequência, as despesas com o grupo Transportes subiram 0,24% em fevereiro. Houve aumento ainda no seguro de veículos (2,59%), mas combustíveis ficaram mais baratos (-0,25%). O preço do litro da gasolina recuou em média 0,21% em fevereiro, apesar de aumentos e Salvador (8,79%) e Campo Grande (0,74%). Já o etanol teve redução média de 0,72%, embora Salvador tenha verificado uma alta expressiva de 9,50% no item. Esse comportamento levou a inflação de bens e serviços monitorados a arrefecer de 0,80% em fevereiro para 0,58% em fevereiro.
Previsão de avanço, mas dentro da meta
O arrefecimento da inflação oficial no país deve continuar pelo menos até o fim do terceiro trimestre, segundo estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). No último trimestre, a taxa acumulada em 12 meses pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) voltará a subir, mas encerrará 2017 dentro do centro da meta estipulada pelo governo, de 4,5%, prevê a pesquisadora Maria Andréia Lameiras.
“A partir de setembro é quando começam as variações menores no IPCA (de 2016), então é possível que, por efeito estatístico, a taxa em 12 meses volte a subir no fim do ano. Mas o 4,5% está virando teto. Não só porque os resultados dos últimos dois meses foram muito bons, mas porque o ambiente inflacionário está ajudando”, explicou Maria Andréia. Segundo o Ipea, o movimento de retração em fevereiro reforça ainda mais a trajetória de desaceleração da inflação, iniciada no último trimestre de 2016.
A melhora é puxada pelo forte recuo nos preços dos alimentos, mas também pelos efeitos da valorização do real frente ao dólar e da demanda interna mais fraca, avaliou o Ipea, em nota do grupo de Conjuntura. Segundo Maria Andréia, é possível ver os reflexos da retração na demanda na desaceleração dos preços dos serviços pessoais e dos bens industriais. “A gente ainda vai ter o mercado de trabalho com dificuldades ao longo deste ano, contribuindo para o ambiente de desaceleração da inflação. As pessoas estão adiando as decisões de compra”, disse a pesquisadora do Ipea.