Ao chegar para a entrevista ao vivo no estúdio do Estado de Minas, o professor Wagner Luiz Monteiro dos Santos, da Escola de Veterinária da UFMG, trazia nas mãos a charge do cartunista Quinho, publicada na edição de ontem do EM (foto).
Estado de Minas - Como o senhor enxerga a repercussão da Operação Carne Fraca e qual a real dimensão do problema?
Nós apoiamos a ação da Polícia Federal, deflagrada pela ação de um colega da própria inspeção federal, para eliminar um problema sério localizado, mas que afeta profundamente a confiança no serviço de inspeção. Isso é lamentável porque temos o melhor serviço de inspeção do mundo e a ação hoje fica muito política, com envolvimento político exagerado no comando dos serviços de inspeção, que se sobrepõem às questões técnicas. E isso precisa ser melhorado.
José Almir Rosa - Até que ponto conseguimos detectar a olho nu os produtos com estado da carne vencida mascarada?
Na carne in natura, não é permitido adicionar nenhuma substância; é a lei. O ácido sórbico é um antioxidante que pode atuar na estabilização da cor, mas isso não é permitido no nível industrial. Mas em linguiça, salsicha e mortadela, a substância é usada na formulação, de maneira previamente aprovada pelas autoridades sanitárias como aditivo. Os detalhes precisam ser divulgados, para saber em que tipo de carne houve irregularidade.
Domingos Nogueira - É verdade que os fiscais agropecuários são médicos veterinários e os agentes de inspeção não precisam ser da área?
É preciso esclarecer que quem detém o conhecimento é o médico veterinário. Ele conta, contudo, com uma equipe de profissionais antigamente chamados de auxiliar veterinários, hoje agentes sanitários, supervisionados por ele. Cada instituição tem que ter ao menos um médico veterinário. Dependendo do volume da produção, três. Para exportação, quatro. A inspeção deve controlar a saúde do animal, as condições estruturais do estabelecimento e o processamento tecnológico. Há um déficit enorme no pessoal necessário para fazer o trabalho. E como o comando não está na mão de técnicos, mas na de políticos...
Cecília Figueiredo - O senhor não acha que isso é guerra de mercado para prejudicar o Brasil?
Pode até ser, mas acredito que não. A situação é muito localizada, com três estabelecimentos até agora interditados, dentro de um parque industrial de mais de 4 mil unidades. Pelo que tem sido divulgado na imprensa, é preciso apurar e verificar as responsabilidades dos colegas à frente da inspeção, principalmente os encarregados dentro dos estabelecimentos.
Gláucia Senna - É melhor evitarmos consumir as marcas envolvidas nesse escândalo, ao menos por enquanto?
Eu acredito que sim, até que o governo, a inspeção federal mostre efetivamente o saneamento que deve ser feito sob o ponto de vista administrativo. Para demonstrar que houve a troca dos fiscais. Porque a coisa funciona assim: sai de Brasília, tem as superintendências aqui em Minas, por exemplo, as regionais e nos estabelecimentos. É preciso demonstrar, ali nessa ponta da inspeção, se as equipes dos veterinários estão completas. A produção de carne no Brasil não é brincadeira, é uma questão de segurança nacional. Nosso rebanho também fica exposto com essa problemática, que tem viés econômico, social e sanitário.