A lanchonete O Vegano – especializada em produtos sem origem animal – ganhou mais três clientes na hora do almoço dessa segunda-feira (20): três rapazes que resolveram experimentar novos sabores.
No caso, pão com linguiça de soja. A razão? Medo de comer um bife, diante das denúncias apresentadas pela Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que revelou um esquema de fraude no processamento de alimentos envolvendo mais de 20 marcas dos principais frigoríficos do país.
“Eles se disseram assustados com as notícias e criaram coragem para entrar e comer”, brinca o proprietário do local, Fabiano Osório, há quase um ano no mercado voltado para veganos – aqueles que optam por não consumir nenhum produto de origem animal ou que envolva testes em bichos.
A chef de cozinha e proprietária do Veganiza, Iza Clara Pantuso, diz que amigos já a procuraram para discutir alternativas ao consumo de carne. “As pessoas já estavam tomando um pouco mais de consciência sobre o que consomem. Agora, passaram a ver com mais preocupação a procedência das carnes. Acho que essa operação foi mais uma forma de abrir os olhos das pessoas que já estavam com uma sementinha na cabeça”, avalia ela, que está no mercado há um ano e dois meses e fornece produtos veganos para estabelecimentos na capital.
Iza Pantuso ressalta ainda o crescimento de restaurantes e lanchonetes desse tipo de alimento em Belo Horizonte. Se há pouco mais de um ano havia apenas três estabelecimentos do setor, agora o consumidor tem muito mais opções. Para se ter uma ideia, em 2012, o Ibope revelou que 9% da população da capital era vegetariana. Por sua vez, a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) calcula que um terço desse contingente é vegano.
Na tentativa de mostrar às pessoas o dano causado pelo consumo de carne – especialmente para os animais –, o Veganiza usa as redes sociais para tratar do assunto. Na sexta-feira, dia da Operação Carne Fraca, a página do Facebook compartilhou uma matéria sobre as denúncias. No alto, o texto: “Veganos e vegetarianos, compartilhem! Consumidores de carne (animais retalhados), parem de uma vez por todas! Se não vai por amor, que seja através da dor”.
Verdadeiros carnívoros
Proprietário da Venne Açougue e Mercearia, Cláudio Bonetti diz que é cedo para falar em um reflexo da operação da Polícia Federal para o consumo de carnes. Mas ele acredita que o temor de comer produtos estragados vai fazer com que muita gente repense sobre aquilo que vai servir à mesa. “As pessoas estão inseguras de comprar carne com papelão ou podre”, avalia ele, que está no mercado há quatro meses. Embora admita que os verdadeiros carnívoros dificilmente deixarão essa condição.
Independentemente das denúncias, Bonetti pondera que o número de vegetarianos e veganos tem crescido mundialmente. Em Portugal, por exemplo, todos os restaurantes são obrigados a oferecer um cardápio vegetariano para seus clientes. “Tem havido uma mudança de hábito, de paladar. Muitos não querem mais a maldade com os animais”, diz ele, para quem a opção de não comer produtos de origem animal é uma questão de filosofia de vida.