A troca de comando da Usiminas, que novamente passou a ser presidida ontem por Sérgio Leite, indicado da aconista Ternium/Techint, em substituição a Rômel Erwin de Souza, executivo de confiança do sócio japonês Nippon Steel, deve se transformar mais uma vez em caso para a Justiça definir. A Nippon Steel divulgou nota pela manhã informando considerar a eleição de Sérgio Leite violação ao acordo de acionistas da siderúrgica, que prevê consenso prévio na destituição e nomeação do presidente-executivo. Informa, ainda, que estuda todas as medidas cabíveis para anular a decisão tomada na quinta-feira em reunião extraordinária do Conselho de Administração.
A Ternium, por sua vez, também divulgou posicionamento justificando que defendeu a destituição de Rômel Souza devido ao fato de o executivo ter assinado “um memorando estratégico com a japonesa Sumitomo (sócia na Mineração Usiminas) sem o conhecimento do Conselho de Administração, diretoria ou departamento jurídico da companhia”. Segundo a companhia, foi uma “violação extremamente grave” do estatuto social da empresa.
Fonte próxima do Conselho de Administração ouvida pelo Estado de Minas diz que os conselheiros se basearam nos artigos 13 e 22 do estatuto da Usiminas, que estabelecem a representação da companhia nesse tipo de acordo, requerendo assinatura de dois diretores. A nota da Nippon lamentou a retirada de Rômel Erwin do cargo, destacando que sob a liderança do executivo foi “concluído o reforço de caixa (da Usiminas) com uma capitalização de R$ 1 bilhão e a reestruturação de dívidas com os maiores bancos credores no ano passado”. Para a companhia, a decisão do conselho contraria “os melhores interesses da Usiminas”.
Outra fonte próxima dos acionistas da siderúrgica mineira contesta a justificativa que levou o conselho a trocar o comando da companhia. “Foi um memorando que manifestava a intenção da Usiminas de negociar com a Sumitomo. O texto deixou claro que não se tratava de um contrato e nem criava qualquer obrigação entre as partes”. Ainda de acordo com a fonte, a decisão de assinar o documento foi amparada no parágrafo terceiro do próprio artigo 22 do estatuto social da Usiminas, que permite a representação da companhia por meio de um membro da diretoria ou um procurador nos casos de correspondência que não crie obrigação para a empresa.
O novo embate alimenta uma disputa societária na Usiminas que se arrasta há cerca de dois anos e meio e a instabilidade dentro da empresa. As ações preferenciais da siderúrgica encerraram o pregão de ontem da Bolsa de Valores de São Paulo liderando as baixas. O papel Usiminas PNA N1 sofreu desvalorização de 2,88%, cotado a R$ 4,05.
Acordo No começo deste mês, a companhia divulgou ter concluído acordo com a Sumitomo, proporcionando a redução do capital da Mineração Usiminas em R$ 1 bilhão, com a distribuição do valor aos acionistas. Como a siderúrgica detém 70% do capital da mineradora, reforçou seu caixa em R$ 700 milhões.
A negociação era exigência de outro acordo, com os principais bancos credores da siderúrgica, para reestruturação de dívidas. Rômel Souza foi destituído por sete votos a favor, contados aqueles dos conselheiros da Ternium, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), acionistas minoritários e um representante dos funcionários. Contra o afastamento votaram representantes da Nippon e da Previ. Na mesma reunião, Sérgio Leite foi eleito presidente. A mesma mudança de comando ocorreu em maio do ano passado, mas no começo de outubro o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) reconduziu Rômel Souza, ao acatar recurso interposto pela Nippon Steel.