Brasília, 09 - A crise econômica e a Lava Jato provocaram uma deterioração da carteira de crédito do BNDES nos últimos dois anos. Em 2014, 71% das operações financeiras do banco eram classificadas com nota “AA” ou “A”, que significam um risco muito pequeno de calote. No ano passado, esse número caiu para 42%. Entre 2015 e 2016, as provisões para risco de crédito do banco subiram 524%, de R$ 1,468 bilhão para R$ 9,156 bilhões.
A reavaliação da carteira foi feita após o banco verificar um aumento nos atrasos de pagamentos, principalmente depois da deflagração da Lava Jato, em 2014. No fim de 2016, quase 60% dos financiamentos, ou R$ 196,4 bilhões, tinham notas entre “B” e “H” - o que significa atrasos entre 15 dias a mais de 180 dias. Dois anos antes, essa fatia era de 30%.
Nos grandes bancos comerciais, privados ou estatais, essa relação é bem diferente. Entre os maiores nomes do setor, o Safra tem a melhor composição com 89,5% das operações “AA” e “A” e apenas 10,5% com B ou pior. Itaú e Santander têm mais de 70% das transações com as melhores notas, enquanto Caixa, Bradesco e Banco do Brasil operam na casa de 60% do crédito em “AA” e “A”, segundo dados declarados ao Banco Central.
O professor de finanças do Insper, Ricardo José de Almeida, diz que a deterioração da carteira do BNDES é esperada em um momento como o atual. “Alguns dos setores com grande exposição têm reduzida margem de lucro. Diante da recessão, é muito fácil cair no prejuízo, e o caixa aperta”, diz.
Almeida nota que, nessas situações, empresas passam a priorizar pagamentos. Nessa estratégia, financiamentos de bancos públicos e impostos costumam ir para o fim da lista de prioridades. “A cobrança de uma instituição como o BNDES é muito diferente da feita pelos bancos comerciais, que costumam ser implacáveis”, diz. O professor explica que uma cobrança feita por um banco público ou pela Receita Federal gera menos risco ao patrimônio do que os débitos com empregados ou fornecedores, por exemplo.
Conjuntura
- Para o BNDES, a deterioração da qualidade das operações de crédito em um momento de recessão é “previsível” e não chega a causar surpresa. O banco, que financia investimentos de longo prazo, reconhece que houve “moderada queda da qualidade de classificação da carteira” e argumenta que o fenômeno reflete “a conjuntura da economia”. A instituição argumenta ainda que “são considerados satisfatórios” créditos com nota entre “AA” e “C”.
“No cenário de recessão econômica, é previsível a deterioração da situação financeira das empresas provocada por fatores como a queda do faturamento e margens de lucro ou o aumento da relação entre endividamento e geração de caixa”, afirma a direção do banco, em nota enviada ao jornal O Estado de S. Paulo. “A carteira do BNDES, por seu tamanho e abrangência, reflete a conjuntura da economia como um todo.”
A instituição explica que o ajuste e a reclassificação dos empréstimos são feitos permanentemente. Nesse processo, a inadimplência não é o único motivo que determina a nota de cada operação. “Esse rating é resultado da aplicação de vários critérios de uma metodologia que leva em consideração não apenas a adimplência, mas a avaliação acerca da saúde financeira da empresa tomadora e sua capacidade de pagamento”, explica.
O BNDES lembra que há situações em que o cliente cumpre os compromissos financeiros em dia, mas acaba tendo a classificação alterada para patamares entre “C” e “H” por outros motivos. A instituição ressalta ainda que, pelos critérios internos, “uma empresa com rating ‘C’ continua habilitada a receber crédito do BNDES”. O Banco Central também faz a ressalva de que um empréstimo só é denominado em “atraso” quando o pagamento está vencido há mais de 60 dias. Ou seja, a partir da nota “D”.
A instituição diz que prefere explorar todas as possibilidades de negociação antes de executar as garantias dos clientes. “Como um banco de desenvolvimento, o BNDES tem como principal objetivo viabilizar os projetos apoiados”, justifica. As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.