Londres, 13 - O economista brasileiro Edmar Bacha ganhou um espaço elogioso a sua trajetória na revista britânica The Economist. Ele foi citado pela publicação que chega às bancas neste final de semana como um "lutador brasileiro contra a inflação" e também como o criador do termo "Belíndia", um país fictício e contraditório, fruto da conjunção de leis e impostos da Bélgica e da realidade social da Índia.
Em várias ocasiões, o semanário usufruiu do termo ao se referir ao Brasil. Em 2014, por exemplo, avaliou que o país lembrava mais uma mistura da Itália com a Jordânia (Italordânia), já que havia avançado para uma situação menos radical nas duas pontas. No ano seguinte, em fevereiro, voltou a cunhar a expressão ao tratar da forma como o País fazia negócios, já que tinha algumas empresas de classe mundial em um mar de regras precárias.
O perfil desta semana se inicia lembrando que, no último dia 7, quando o IBGE divulgou que a inflação em 12 meses havia chegado em 4,57% em março, o nível mais baixo em sete anos e o mais próximo da meta de 4,5% perseguida pelo Banco Central, Bacha assumiu o posto na Academia Brasileira de Letras. "Numa coincidência apropriada, no mesmo dia, um dos arquitetos do Plano Real, que domesticou a inflação em 1994, vestiu o casaco verde e dourado dos 'imortais'."
A revista salienta que Bacha é apenas o terceiro economista a juntar-se ao grupo, formado por intelectuais e os usuários das palavras mais requintadas. A eleição em novembro passado foi uma das mais polêmicas em seus 120 anos de história. "Pode ser um sinal dos tempos", considerou a The Economist. A história profissional do economista é toda voltada aos números, como lembrou a publicação, mas em paralelo ele traçou um caminho com as palavras.
Num ensaio publicado em 1974, "Fábula para tecnocratas", ele descreveu o Brasil, como lembra o semanário, como "Belíndia", uma pequena e rica Bélgica cercada por uma vasta Índia pobre. Em "Fim da inflação no reino de Lizarb" - onde "tudo está de volta para a frente" - ele despertou a crença de que o aumento dos preços causa déficits fiscais, continuou o perfil.
"Alguns duvidam que Bacha mereça a imortalização. Romancistas e poetas da academia argumentaram que a maioria de sua dúzia de livros é formada apenas por tratados secos. Sua economia liberal é um anátema para os humanistas enamorados de Karl Marx." Ainda assim, ele venceu Eros Grau, um ex-ministro da corte suprema que escreve ficção erótica.
O voto inusitadamente fechado (de 18 a 15) expôs, como relatou a revista, uma fenda entre a "ala da cultura" da academia e seu grupo de servidores públicos, incluindo dois ex-presidentes. "A elevação de Bacha pode ser um sinal de que o liberalismo econômico está recuperando terreno", concluiu a The Economist.
Em março, menciona a publicação, manifestações nas ruas pediram privatização e desregulamentação, entre outras coisas. O governo de Michel Temer pode vir a ser um dos mais liberais que o Brasil já teve. "Alguns imortais estavam dispostos a eleger um ex-banqueiro para supervisionar seus investimentos", ironizou.