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Estado de Minas

Vendas em baixa levam lojistas a deixarem a região da Savassi, em BH

Praça Sete Calçados decide passar o ponto, pela segunda vez em dois anosi. Vizinhos já fecharam portas


postado em 15/06/2017 06:00 / atualizado em 15/06/2017 08:08

Tradicional sapataria de BH completa 60 anos sob a pressão de aluguéis caros e falta de giro das mercadorias(foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)
Tradicional sapataria de BH completa 60 anos sob a pressão de aluguéis caros e falta de giro das mercadorias (foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)


Com 60 anos de atuação, uma das mais tradicionais sapatarias de Belo Horizonte se prepara para a segunda mudança de endereço em pouco mais de dois anos, na tentativa de evitar fechar as portas. A Praça 7 calçados, que em 2015 encerrou suas atividades na Avenida Afonso Pena, no Centro da capital, planeja deixar, agora, a Praça Diogo de Vasconcelos, na Savassi, Zona Sul de BH. O apelo pelo aluguel mais barato havia se mostrado uma experiência bem-sucedida até o início do ano, mas a empresa sofreu revés e os donos do negócio se viu obrigado a procurar nova localização para manter a marca. “O movimento caiu muito e agora nossa intenção é ir para o Barro Preto ou mesmo voltar para o Centro”, afirmou Manoel Reis, gerente da loja e funcionário mais antigo.

Além do custo do ponto, somado à crise econômica que vem reduzindo o emprego e derrubando as vendas do varejo, outros aspectos mais pontuais fizeram os donos abandonarem o ponto. No fim do ano passado o Banco do Brasil resolveu fechar uma série de agências por todo o Brasil e só em BH foram 11 pontos de atendimentos encerrados. Um deles ficava ao lado da Praça 7 Calçados, na Avenida Getúlio Vargas. “Em fevereiro, quando o banco fechou as portas, nosso faturamento despencou 50%. A agência trazia movimento para o quarteirão. Com a saída dela, poucas pessoas passam por aqui. Fizemos um teste e marcamos no relógio cerca de 40 minutos sem passar ninguém em frente a loja”, contou o gerente.

Segundo Manoel Reis, os donos querem dar continuidade à loja no mesmo formato – contudo mais enxuta, com dois ou três vendedores -, em local mais movimentado. O novo endereço ainda não foi escolhido, Na loja da Savassi, que ainda segue em funcionamento, a vitrine já avisa que “passa-se o ponto”, indicando aos possíveis interessados em que breve o local estará disponível.

Quando fechou a loja do Centro da capital, a justificativa dada por Walter Casanova Costa, proprietário da marca, de que o aumento exorbitante do preço do aluguel deixou o negócio impraticável no ponto tradicional. A nova localização, então na Savassi, trouxe também realidade diferente deixando o espaço menor. Pelo menos para a atual mudança de endereço a expectativa é deixar o formato nas mesmas medidas. “Aqui também tentamos negociar uma redução do aluguel. Não houve aumento, mas sem redução não deu para manter. Até então estava tudo funcionamento muito bem, mas com essa queda das vendas ai a equação passou a não fechar”, disse Manoel Reis. Para diminuir o trabalho com a mudança, o estoque da sapataria está sendo liquidado e está em promoção.

Entre a Avenida do Contorno e a Rua Alagoas, onde está localizada a sapataria, é possível ver os sinais da crise e da falta de consumidores. Só nesse quarteirão a reportagem do Estado de Minas contou cerca de 10 lojas e espaços exibindo placas de aluguel, e muitas já aguardam por novo locatário há meses.

Sem perspectiva


O desânimo é palavra corrente na boca e nos pensamentos dos lojistas da região da Savassi. O “desalento”, como classificou Maria Auxiliadora Teixeira de Souza, presidente da Associação dos Lojistas da Savassi, com a economia paralisada e a crise política no país têm deixado os comerciantes sem perspectivas. “Infelizmente, não é só na Savassi que a situação está complicada. A economia não deixa o comerciante pagar suas contas, não permite ao consumidor colocar o dinheiro em circulação. Isso deixa todo mundo sem horizontes.”, afirmou.

Maria Auxiliadora conta que lojas tradicionais da região estão fechando as portas ou tendo que demitir funcionários. Não é só o comércio de rua que está sofrendo. Ela cita que até mesmo os shoppings nas redondezas estão com boxes vazios e não conseguem alugar os espaços. A presidente da associação dos lojistas da Savassi ainda destaca que a região está linda depois das obras de revitalização, mas diz que o “golpe foi muito duro”, em referência à crise das vendas. “É muito triste isso. Eu fui contra as obras na época, muitas lojas não aguentaram o período de fechamento da praça por cerca de um ano e meio. Aí, quando a gente começou a recuperar, veio a crise”, lamenta.

 

Difícil reação

O movimento do comércio subiu 2,7% em maio em relação a abril na série com ajuste sazonal, mas ainda recuou 1,1% no comparativo com o ano passado, segundo indicadores de vendas divulgados ontem pela empresa de serviços financeiros Boa Vista SCPC. Em 12 meses, o indicador acumula retração de 3%. “Desde novembro de 2016, o indicador do varejo vem gradualmente se recuperando quando observado na aferição acumulada em 12 meses, ainda que apresente um ritmo menor do que o esperado no início do ano”, pondera a instituição em nota. A empresa espera que o movimento do comércio mostre resultados mais positivos nas próximas medições, já que os efeitos da redução de juros, iniciada no terceiro trimestre de 2016, devem ser observados com mais intensidade, assim como uma melhoria dos níveis de renda, como continuidade da redução do nível de preços.


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