Um cenário do tipo tempestade perfeita, com uma conjunção de fatores, fez o preço da arroba do boi gordo apresentar, no mês passado, a mais significativa baixa dos últimos 20 anos. A quantidade de reais que o produtor recebeu em maio por 15 quilos de peso dos animais prontos para abate caiu 4,63%, chegando aos R$ 128, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), vinculada à Universidade de São Paulo (USP).
A má notícia para o pecuarista timidamente chega – ou nem chega – como boa nova aos açougues. Especialistas no ramo e observadores da dinâmica do mercado do boi gordo concordam que três motivos resultaram, simultaneamente, na realidade de hoje, que preocupa o fazendeiro, o principal responsável pelo Brasil ter se tornado referência mundial na produção de carne. Sobre o futuro, predominam cautela e pessimismo.
“É uma campanha, a hora é de conscientização, o pecuarista só deve vender o necessário para pagar as contas do dia a dia”, recomenda o diretor técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), Valdecir Marin Júnior. “Essa foi uma queda histórica.” A crise econômica é a primeira razão que explica o recuo dos preços, devido à baixa demanda interna, sacrificada pelo menor poder aquisitivo das famílias. A carne bovina, proteína mais cara que o porco e o frango, está cada vez menos presente no prato do brasileiro.
Na pecuária, as decisões são de longo prazo, o ciclo normal da atividade é de pelo menos ano e meio. Entre 2012 e 2016, mais vacas ficaram nos pastos para a reprodução. A matança de matrizes baixou nesse período de 42% do total para 38,6%, segundo o Cepea. Isso também faz com que o boi gordo do fazendeiro passe a valer menos. “No correr deste ano (2017), com a queda do preço do bezerro, houve aumento na participação das fêmeas no abate, ajudando a indústria a preencher as escalas e, consequentemente, pressionando (para baixo) o valor da arroba”, destaca o boletim divulgado pelo Cepea no fim de maio.
Efeito-dominó, o animal desmamado para reposição nas fazendas de engorda, com idade entre 8 meses a um ano, era vendido em janeiro a preço médio próximo de R$ 1.250, de acordo com o centro de estudos da Esalq. No mês passado, foi cotado abaixo de R$ 1,1 mil – desvalorização de 1,95% só em maio. Para fazer valer ainda mais a lei da oferta e da procura, um maio atípico de chuva, com pasto atipicamente frondoso, permitiu alongar o período de terminação dos bois no pasto.
Capim verde e abundante rende animais mais pesados e também a antecipação do abate de reses que tão cedo não seriam levadas ao frigorífico. Com o mercado retraído, o que seria boa notícia vira produto em excesso e faz o preço cair – ainda mais. "O produtor só tem uma alternativa: colocar o produto no mercado”, comenta o economista do Centro de Estudos em Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (GV Agro), Felippe Serigati.
Para confirmar o cenário caótico e fazer a crise chegar forte ao pasto, nada melhor do que um escândalo – que ameaça inclusive o presidente da República. Além do baixo consumo de carne no mercado interno e do abate de fêmeas, o comprovado envolvimento da maior empresa compradora de bois gordos em doações irregulares para políticos ameaça toda a cadeia produtiva. O grupo JBS, dono dos frigoríficos Friboi, é porta de entrada no mercado de aproximadamente 30% dos bovinos que saem das fazendas brasileiras – o número é impreciso porque, segundo a empresa, essa informação é estratégica.
Oligopólio Sozinha, a JBS, conforme estimativa da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), mata três de cada dez animais abatidos no Brasil. No Mato Grosso, que abriga o maior rebanho do País, 49% das reses morrem nos frigoríficos Friboi. É um oligopólio que se estende por 17 Estados brasileiros onde a empresa fincou pé. Estrategicamente, a presença é mais forte no Mato Grosso do Sul, em Tocantins, no Pará e em São Paulo, que, junto com o Mato Grosso, formam o Corredor do Boi Gordo. “Aí, onde ocorrem os maiores abates, o grupo comprou e criou novas plantas”, explica o diretor técnico da ABCZ, Marin Júnior.
O rebanho brasileiro é de 210 milhões de cabeças. A taxa de desfrute, ou de animais que vão para matança, fica, usualmente, entre 15% a 20%, ou seja mais de 30 milhões de reses por ano. Rei deposto, rei morto. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), informou que trabalha no mapeamento de pequenas e médias plantas frigoríficos que podem voltar a funcionar e cogita ofertar linha de crédito para financiar o retorno desses matadouros à operação.
Futuro incerto
A reversão da queda no preço da arroba parece possibilidade remota. Avaliação do Cepea para o mercado futuro indica R$ 128 para outubro e R$ 130 para fevereiro de 2018 – em janeiro de 2017 a medida valia R$ 150. “É uma perspectiva de futuro bem desfavorável, sem expectativa de reversão para o próximo ano e meio”, opina o economista da Macroagro Consultoria Econômica, Carlos Thadeu Filho.
A má notícia para o pecuarista timidamente chega – ou nem chega – como boa nova aos açougues. Especialistas no ramo e observadores da dinâmica do mercado do boi gordo concordam que três motivos resultaram, simultaneamente, na realidade de hoje, que preocupa o fazendeiro, o principal responsável pelo Brasil ter se tornado referência mundial na produção de carne. Sobre o futuro, predominam cautela e pessimismo.
“É uma campanha, a hora é de conscientização, o pecuarista só deve vender o necessário para pagar as contas do dia a dia”, recomenda o diretor técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), Valdecir Marin Júnior. “Essa foi uma queda histórica.” A crise econômica é a primeira razão que explica o recuo dos preços, devido à baixa demanda interna, sacrificada pelo menor poder aquisitivo das famílias. A carne bovina, proteína mais cara que o porco e o frango, está cada vez menos presente no prato do brasileiro.
Na pecuária, as decisões são de longo prazo, o ciclo normal da atividade é de pelo menos ano e meio. Entre 2012 e 2016, mais vacas ficaram nos pastos para a reprodução. A matança de matrizes baixou nesse período de 42% do total para 38,6%, segundo o Cepea. Isso também faz com que o boi gordo do fazendeiro passe a valer menos. “No correr deste ano (2017), com a queda do preço do bezerro, houve aumento na participação das fêmeas no abate, ajudando a indústria a preencher as escalas e, consequentemente, pressionando (para baixo) o valor da arroba”, destaca o boletim divulgado pelo Cepea no fim de maio.
Efeito-dominó, o animal desmamado para reposição nas fazendas de engorda, com idade entre 8 meses a um ano, era vendido em janeiro a preço médio próximo de R$ 1.250, de acordo com o centro de estudos da Esalq. No mês passado, foi cotado abaixo de R$ 1,1 mil – desvalorização de 1,95% só em maio. Para fazer valer ainda mais a lei da oferta e da procura, um maio atípico de chuva, com pasto atipicamente frondoso, permitiu alongar o período de terminação dos bois no pasto.
Capim verde e abundante rende animais mais pesados e também a antecipação do abate de reses que tão cedo não seriam levadas ao frigorífico. Com o mercado retraído, o que seria boa notícia vira produto em excesso e faz o preço cair – ainda mais. "O produtor só tem uma alternativa: colocar o produto no mercado”, comenta o economista do Centro de Estudos em Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (GV Agro), Felippe Serigati.
Para confirmar o cenário caótico e fazer a crise chegar forte ao pasto, nada melhor do que um escândalo – que ameaça inclusive o presidente da República. Além do baixo consumo de carne no mercado interno e do abate de fêmeas, o comprovado envolvimento da maior empresa compradora de bois gordos em doações irregulares para políticos ameaça toda a cadeia produtiva. O grupo JBS, dono dos frigoríficos Friboi, é porta de entrada no mercado de aproximadamente 30% dos bovinos que saem das fazendas brasileiras – o número é impreciso porque, segundo a empresa, essa informação é estratégica.
Oligopólio Sozinha, a JBS, conforme estimativa da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), mata três de cada dez animais abatidos no Brasil. No Mato Grosso, que abriga o maior rebanho do País, 49% das reses morrem nos frigoríficos Friboi. É um oligopólio que se estende por 17 Estados brasileiros onde a empresa fincou pé. Estrategicamente, a presença é mais forte no Mato Grosso do Sul, em Tocantins, no Pará e em São Paulo, que, junto com o Mato Grosso, formam o Corredor do Boi Gordo. “Aí, onde ocorrem os maiores abates, o grupo comprou e criou novas plantas”, explica o diretor técnico da ABCZ, Marin Júnior.
O rebanho brasileiro é de 210 milhões de cabeças. A taxa de desfrute, ou de animais que vão para matança, fica, usualmente, entre 15% a 20%, ou seja mais de 30 milhões de reses por ano. Rei deposto, rei morto. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), informou que trabalha no mapeamento de pequenas e médias plantas frigoríficos que podem voltar a funcionar e cogita ofertar linha de crédito para financiar o retorno desses matadouros à operação.
Futuro incerto
A reversão da queda no preço da arroba parece possibilidade remota. Avaliação do Cepea para o mercado futuro indica R$ 128 para outubro e R$ 130 para fevereiro de 2018 – em janeiro de 2017 a medida valia R$ 150. “É uma perspectiva de futuro bem desfavorável, sem expectativa de reversão para o próximo ano e meio”, opina o economista da Macroagro Consultoria Econômica, Carlos Thadeu Filho.