Flávia Ayer
Concordamos que precisamos de novas regras de resolução de conflito na Usiminas. Neste momento, porém, a Usiminas deve trabalhar com tranquilidade e em paz
Paolo Bassetti,presidente da Ternium no Brasil
No controle da Usiminas, o grupo ítalo-argentino Ternium/Techint diz não querer forçar a saída dos sócios do conglomerado japonês Nippon Steel & Sumitomo Metal Corporation, mas pede tranquilidade para comandar a empresa. A disputa entre os dois principais acionistas pelo comando da siderúrgica se arrasta há três anos na Justiça. As divergências se reacendem depois de o novo dirigente da Nippon responsável pelos negócios nas Américas, Kazuhiro Egawa, criticar a gestão da empresa em entrevista ao Estado de Minas.
“Não queremos forçar a saída da Nippon. Queremos dar tranquilidade à Usiminas durante o período no qual Sérgio Leite é presidente, nos próximos três anos”, afirma o presidente da Ternium no Brasil, Paolo Bassetti. Ao longo do ano, os dois grupos vêm ensaiando tentativas de conciliação, sem sucesso.
Em menos de seis meses, houve duas trocas na presidência da Usiminas, atualmente presidida por Sérgio Leite, executivo da confiança da Ternium. Em março, ele substituiu Rômel Erwin de Souza, nome defendido pelos japoneses e destituído por decisão tomada pelo Conselho de Administração da companhia.
Representante dos japoneses, Egawa disse, em reportagem publicada na última quarta-feira, que a Usiminas precisa de um “ambiente interno mais eficiente” e lamentou as demissões na siderúrgica. À espera de decisão judicial, a Nippon defende a alternância das empresas na nomeação do CEO e do presidente do conselho. Neste mês, os japoneses comemoram 60 anos do acordo que formalizou a participação do grupo na Usiminas.
Para o presidente da Ternium no Brasil, as declarações em meio a um processo de renegociação financeira geram instabilidade à Usiminas. “A alternância em si mesma não é uma solução, é parte da solução. Agora, trazer instabilidade para Sérgio Leite é um problema”, ressalta Bassetti.
Segundo o executivo, a Usiminas está numa etapa anterior à discussão sobre alternância de poder. “Concordamos que precisamos de novas regras de resolução de conflito na Usiminas. Neste momento, porém, a Usiminas deve trabalhar com tranquilidade e em paz para prosseguir com a reestruturação que já começou”, diz. Sobre as demissões, Basseti afirma que a maior parte delas ocorreu quando Rômel estava à frente da companhia.
RESULTADOS Em meio à disputa, o grupo ítalo-argentino comemora a renegociação da dívida da companhia e os resultados positivos. Depois de amargar prejuízo por quase três anos, a empresa mineira voltou a registrar lucro líquido de R$ 108 milhões no primeiro trimestre deste ano. “Estamos bastante confiantes de que a Usiminas está sendo reestruturada e que o Brasil vai sair da crise. Não estou preocupado com a Justiça, mas que o Sérgio (Leite) possa trabalhar com tranquilidade, apesar de toda essa discussão”, diz Bassetti.
Empresa líder na América Latina, a Ternium abastece de aço clientes do setor automotivo, construção, metalmecânica, linha branca, energia e transporte. Tem 16 fábricas na América Latina e Estados Unidos. Integra o grupo de controle da Usiminas desde 2012, quando comprou as participações da Camargo Correa e da Votorantim. A capacidade de produção da Ternium é de 11 milhões de toneladas de aço. No Brasil, além da participação na Usiminas, comprou em fevereiro, da alemã ThyssenKrupp, a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), no Rio, por 1,5 bilhão de euros (quase R$ 5 bi), tornando-se uma das maiores siderúrgicas no país.