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Estado de Minas

"O mundo conspira a favor do Brasil", afirma o economista Tony Volpon

Para o ex-diretor do Banco Central, mesmo com a crise política no país, crescimento será de 0,9%, graças ao ambiente internacional


postado em 02/07/2017 06:00 / atualizado em 02/07/2017 08:16

O excesso de liquidez na economia global e o apetite por risco dos investidores estrangeiros mantém o país atrativo, avalia o economista-chefe do UBS para o Brasil, Tony Volpon. O ex-diretor do Banco Central (BC) avalia que, enquanto não houver uma piora das condições financeiras, a recuperação da atividade continuará, mesmo que moderada. Nas contas dele, o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá 0,9% em 2017, estimativa acima do consenso do mercado.

Volpon ressalta que a alta da geração de riquezas no Brasil se sustentará diante do processo de recomposição de estoques e de estabilização das empresas, que já adaptaram a operação e os custos à nova realidade econômica. “Alguns dados mostram que temos empresas gerando lucro. Elas estão mais rentáveis”, avalia.

O economista lembra que o viés de estabilidade está lastreado na confiança dos investidores estrangeiros e em uma equipe econômica que conta com a simpatia do mercado. “Os investidores acham que a equipe ficará até o fim, independentemente do que ocorrer no lado político”, afirma. Volpon ainda aponta que os brasileiros estão mais pessimistas que os estrangeiros. “Quando eles olham para os mercados emergentes, percebem que todos estão em crise. Isso ocorre na Turquia e na África do Sul. O mercado emergente paga um prêmio para que os investidores estejam nele”, diz.

O país vive a mais grave crise política da história, com um presidente indiciado em pleno mandato por corrupção passiva e ainda faltam 18 meses para acabar a gestão. O Brasil suporta essa crise política por mais 18 meses?
Se olharmos para o mercado financeiro, os reflexos foram quase nulos. Os movimentos foram muitos discretos. Temos o índice de condição financeira no UBS, semelhante ao do Banco Central (BC). Quando observamos esses índices, percebemos que eles estão variando muito pouco. Portanto, diferentemente do que a gente viu em 2015, entre junho e agosto, não houve um brutal aperto nas condições financeiras. Naquele momento, se tinha um estado recessivo. Atualmente, não se tem esse tipo de aperto nas condições financeiras. Objetivamente, não tem um dado concreto para prever uma queda na economia ou, de repente, uma reversão nesse processo lento de recuperação.

Por que o mercado não tem reagido?
Eu acho que tem um conjunto de explicações. O cenário externo é muito bom para os emergentes. Você tem as bolsas perto das suas máximas e os juros perto de suas mínimas, com condições excelentes do ponto de vista do mercado financeiro. O mundo está crescendo mais. Vemos crescimento bom no Japão e na Europa, surpreendendo. Os Estados Unidos estão indo bem. A comoção com o Trump era um desafio, porque poderia ter colocado o dólar em alta internacionalmente, assim como os juros. O que seria ruim para os emergentes. Então, o fato de o governo Trump estar andando de lado com suas agendas mais agressivas, tem sido, num primeiro momento, algo positivo. Estamos num cenário internacional benigno, mas também estamos vivendo a maior crise da história. Não tenho dados objetivos que leva para baixo minha previsão de crescimento.

Qual sua previsão de crescimento?
Estamos com uma previsão de 0,9% para esse ano, um pouco acima do consenso. E, para o ano que vem, um crescimento de 2,3%, que é mais ou menos o consenso. Eu não quero dizer que as condições financeiras são a única coisa que determina crescimento. Houve um certo erro por parte do mercado em 2016, quando houve aquela bruta melhora nas condições financeiras pós impeachment, e tinha muita gente que esperava a economia começar a crescer no quarto trimestre do ano passado. As previsões financeiras até indicavam isso. Mas num primeiro momento, quando se tem uma mudança do cenário político, as condições financeiras são o primeiro fator que se olha. Nesse cenário de hoje, não mudou.

E não mudou por quê?
Primeiro, por causa da questão internacional. Os investidores estrangeiros estão dispostos a dar apoio ao mercado. Não há reação semelhante à de 2015, quando houve uma decepção fiscal. Em agosto de 2015, teve aquela desvalorização da moeda chinesa, que trouxe uma crise internacional. Foi a semana em que a Dilma divulgou que ia enviar um déficit para o Congresso e chocou todo mundo. De lá para cá, nós só mandamos o orçamento com déficit, ninguém mais fica chocado. Acho que é um quadro que exige muito cuidado em termos de fazer previsões e julgamentos.

O Brasil deixou de ser um bom negócio?
Acho que não. O dinheiro não para de entrar no país. O gringo está muito mais otimista que o local. Essa é verdade nos últimos dois anos. Quando eles olham para os mercados emergentes percebem que todos estão em crise. Isso ocorre na Turquia e na África do Sul. O mercado emergente paga um prêmio para que os investidores estejam nesses lugares.

A inflação continuará a cair no Brasil?
Houve uma mudança do regime inflacionário no Brasil por várias razões. Houve uma mudança muito benéfica. Os mecanismos de indexação e inércia devem perpetuar a inflação baixa para o futuro. Tudo que era negativo vira o oposto. Se tem inflação abaixo de 4% este ano, ela se perpetuará nesse patamar em 2018.

E os juros?
Acho que o BC está certo em não querer apostar nessa mudança de cara. Tem que ser conservador e prudente. Acho que, tranquilamente, o BC baixa os juros para o patamar de 7,5% ao ano neste ciclo.

Com isso o BC cortará 1 ponto da Selic na próxima reunião do Copom?
Sim. O BC adotou uma postura conservadora inicial e sinalizou um corte de 0,75 ponto percentual. Mas o dólar está comportado. Independentemente da crise política, o mundo conspira a favor do Brasil.

A decisão do CMN de mudar o regime de metas foi correta?
Sim. Levar a meta para 4,25% em 2019 e 4% em 2020 é uma oportunidade única, em função dessa quebra de regime. A inflação vai cair. Se deixassem a meta onde está, a inflação voltaria para 4,5%. Baixar a meta de uma maneira segura é correto. O governo precisa fazer as coisas quando pode e não quando quer. Podemos fazer agora. O importante é direcionar e se comprometer com um processo. Foi uma excelente sinalização para o mercado.


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