Houve um tempo em que o comércio de roupas usadas era restrito a consumidores de baixa renda ou a uma pequena parcela descolada da população, em sua maior parte artistas e celebridades, público considerado alternativo.
Mas a crise econômica que se arrasta no país há pelo menos três anos parece ter mudado esse cenário. Em Belo Horizonte, o número de brechós tem crescido, e para estimular esses novos empreendedores, um segmento surgiu: as feiras de brechós e bazares.
Montadas em locais espaçosos, como ginásios ou grandes galpões, as feiras reúnem desde empreendedores do ramo com loja física até pessoas comuns interessadas em vender os próprios desapegos.
A forma de pagamento varia de acordo com o vendedor, mas a maioria dos lojistas aceita cartões de débito e crédito. Já os preços das peças, com grande variedade, de roupas, acessórios e até objetos de decoração, podem ser até 70% menores do aqueles encontrados em lojas do comércio tradicional, segundo a organizadora da feira Brechó e Bazar BH, Giovanna Alkimim.
Formada em publicidade e propaganda, Giovanna começou a vender peças de segunda mão pela internet e logo percebeu a aceitação das pessoas. Decidiu aprofundar-se no conceito de consumo sustentável e expandir a oportunidade aberta pelo negócio. Foi assim que nasceu a primeira feira Brechó e Bazar BH. “Diante do momento financeiro em que vivemos, em que todos buscam economia, surgiu a necessidade de um novo hábito de consumo: os brechós”, explicou.
Embora não haja, ainda, dados que confirmem a expansão do setor, segundo a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) o comportamento do consumidor, de fato, mudou. Se há alguns anos o atendimento qualificado era o fator que mais atraía um cliente na hora da compra, hoje o que mais atrai é o preço. Pesquisa recente sobre as intenções de compra no Dia dos Pais, por exemplo, mostrou que 67% dos consumidores conferem o valor do produto antes de comprar. Apenas 9,9% das pessoas levam em consideração o bom atendimento.
Foi exatamente o preço baixo que atraiu a psicóloga Gizelle Diniz para os brechós. Frequentadora assídua e admiradora do segmento, ela conta que sempre acompanhou perfis de lojas em redes sociais, sites e matérias sobre o assunto. Unindo o gosto à possibilidade de uma renda extra, ela decidiu expor seus desapegos na última edição de uma feira de brechós da capital. “No decorrer do processo, percebi o quanto estava habituada a comprar por impulso. A organização das peças (para a feira) me fez entender como é comprar de forma consciente e sustentável”, conta.
SUSTENTABILIDADE A preocupação com o meio ambiente e o consumo excessivo é outro ponto-chave responsável pelo crescimento dos brechós na cidade. Grupos com poder aquisitivo, mas que abraçam o conceito de moda sustentável, colaboram tanto como fornecedores quanto como compradores. São pessoas que optam por peças de segunda mão por uma questão ideológica. Para a organizadora da feira Brechó e Bazar BH, a curadoria na hora de escolher os expositores dá segurança para esse tipo de público. “O objetivo é ter peças em excelente estado, ótima qualidade e preço baixo, oferecendo assim uma oportunidade de economia e também de colaboração com o universo sustentável”, explica.
“Hoje sei que contribuo tanto com o meio ambiente, quanto com o meu bolso”, conta a analista de projetos Cristhiany Cruz, entusiasta dos brechós. Ela recorda que, quando criança, era influenciada pela mãe, e mais tarde inspirou-se na cunhada, que, segundo ela, “sempre comprou roupas bonitas, com marca, e preços muito em conta”. Cansada do estilo que tinha no guarda-roupa, decidiu renovar o acervo e praticamente refez o armário depois de ter abandonado o comércio tradicionais e passou a buscar a “segunda via”.
Serviço
Feira Brechó e Bazar BH – Mega Feira Buritis
Data: amanhã
Horário: das 10h às 17h
Local: Rua Manila, 570,
Arena Estrela D’Alva, Buritis