(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Justiça abre ação contra executivos da Gregory por suposto trabalho escravo

A fiscalização flagrou inclusive um bebê, com um mês de vida, que dormia entre os motores de duas máquinas de costura


postado em 30/08/2017 17:19 / atualizado em 30/08/2017 17:52

(foto: Reprodução/Gregory.com.br )
(foto: Reprodução/Gregory.com.br )


A Justiça Federal em São Paulo abriu ação criminal contra representantes legais da confecção de roupas Gregory por supostamente reduzirem trabalhadores bolivianos a condição análoga à de escravo

Além de Antonio Matos Duca e Delmira Matos Duca Giovaneli, também são réus na ação outras quatro pessoas, responsáveis pelas empresas e oficinas de costura usadas pela marca.

As informações foram divulgadas nesta quarta-feira, pela Procuradoria da República, que apresentou a denúncia à Justiça. Segundo a acusação do Ministério Público Federal, em fevereiro e março de 2012, foram resgatadas 22 vítimas "submetidas a condições degradantes, jornadas exaustivas e atividades forçadas".

Em Minas são quatro lojas da marca. Em Belo Horizonte, são três endereços, todos dentro de shoppings. Dois deles na Região Sul e um na Noroeste da capital. A quarta loja fica em outro centro de compras em Uberlândia, no Triângulo Mineiro.



O resgate dos trabalhadores ocorreu em meio à fiscalização realizada por auditores-fiscais no âmbito de programa de erradicação do trabalho escravo urbano.

Segundo o relatório fiscal que embasou a denúncia, os estabelecimentos e oficinas de costura, localizados em São Paulo e na região metropolitana "eram contratados por fornecedores diretos da Gregory para a confecção de peças de vestuário desenvolvidas pela marca, em um sistema de quarteirização da produção".

Entre os réus estão dois bolivianos que administravam uma oficina no Jardim Peri, zona norte da capital paulista. Cesar Antonio Morales Cardenas e seu pai Jorge Frumencio Morales Mollericon empregavam dez funcionários aliciados na Bolívia, que viviam e trabalhavam no mesmo local, junto com seus filhos.

Segundo a Procuradoria, a fiscalização flagrou inclusive um bebê, com um mês de vida, que dormia entre os motores de duas máquinas de costura, em um berço improvisado com caixas de papelão.

"A mãe, que amamentava o filho durante a jornada de trabalho, nada recebeu durante o período que ficou no hospital após o parto e, ao retornar à oficina, voltou a trabalhar imediatamente."

"Além das péssimas condições dos alojamentos, que incluíam sujeira, infiltrações, instalações sanitárias precárias e irregularidades na rede elétrica, os costureiros eram submetidos a jornadas que variavam entre 14 e 17 horas por dia", destaca a denúncia.

"Os empregadores restringiam inclusive a locomoção das vítimas, que só podiam deixar a oficina para resolver assuntos pessoais mediante autorização prévia."

O Ministério Público Federal sustenta, ainda, que um dos bolivianos, Cesar Cardenas, "não costumava autorizar a saída dos trabalhadores do estabelecimento quando havia muitas encomendas e o prazo estava apertado".

A acusação diz que os costureiros recebiam em média R$ 3 por peça produzida e ainda pagavam com sua força de trabalho pelas passagens utilizadas para virem da Bolívia, "em uma situação de servidão por dívida".

"Além disso, os empregadores limitavam o uso dos salários, coagindo os funcionários a adquirirem bens essenciais na própria oficina, bem como controlavam o acesso à comida, mantendo os alimentos em uma dispensa trancada com correntes e cadeados."

"Somente com muitas horas de trabalho os costureiros conseguiam auferir algum ganho, após descontados os valores de habitação e alimentação, descontos estes que sequer eram percebidos pelas vítimas", afirma a denúncia.

A oficina costurava roupas exclusivamente para a Gregory e para a marca Belart, da empresa WS Modas Ltda., que pertence ao coreano Won Yong Paek, também denunciado.

"A WS Modas funcionava como intermediária na cadeia produtiva, pois, apesar de contratada como fornecedora direta da Gregory, não possuía capacidade técnica para confeccionar o volume de peças encomendadas e, por isso, quarteirizava a produção para a oficina de Cesar e Jorge", afirmam os investigadores.

"O mesmo acontecia com a empresa de propriedade da denunciada Patricia Su Hyun Ha, contratada como fornecedora da Gregory, ainda que não possuísse máquinas de costura e empregados para a confecção das vestimentas. A empresária intermediava a subcontratação de outras três oficinas, localizadas na Vila Dionísia, na zona norte da capital, no Belém, na zona leste, e em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, as quais utilizavam mão de obra informal. Ao todo, 12 bolivianos atuavam nos estabelecimentos, que produziam exclusivamente peças da Gregory."

Nos locais foram encontradas infiltrações, instalações sanitárias precárias e irregularidades na rede elétrica, com grave e iminente risco de incêndio.

"As péssimas condições dos espaços de trabalho e moradia - que se confundiam - ameaçavam a saúde e a segurança dos empregados que, além disso, trabalhavam cerca de 15 horas por dia. Tanto Patrícia quanto Won declararam que desconheciam as condições em que as atividades eram prestadas, pois não realizaram vistoria nas oficinas contratadas."

Para o Ministério Público Federal, "isso evidencia que os denunciados assentiam ou, quando menos, aceitavam o risco de tomar serviços de pessoas submetidas a circunstâncias degradantes de trabalho".

Segundo a denúncia, as provas colhidas reforçam a responsabilidade direta da Gregory e de seus donos pela exploração de trabalhadores em condição análoga à de escravo, por meio da utilização de oficinas de costura subcontratadas.

"Os responsáveis legais da Gregory ocupavam o topo de uma cadeia quarteirizada de produção de peças de vestuário, intermediada pelas empresas de confecção WS Modas Ltda. e Patricia Su Hyun Ha Ltda. As oficinas inspecionadas prestavam, na verdade, serviços encomendados pela Gregory, sendo ela a real empregadora das vítimas resgatadas", destaca a denúncia da Procuradoria.

Os seis réus vão responder pelo crime de reduzir os trabalhadores a condição análoga à de escravo, conforme disposto no artigo 149 do Código Penal.

A pena prevista varia entre dois anos e oito anos de prisão para cada vítima identificada, além do pagamento de multa.

Defesa


Em nota, a Gregory afirma:

"Em relação à notícia divulgada no site do Ministério Público Federal, de recebimento de denuncia contra seus sócios por utilização de trabalho escravo, a Gregory tem a informar que repudia toda forma de exploração do trabalho e que seus sócios ainda não tinham conhecimento do recebimento da denúncia na ação penal citada.

Os trabalhadores bolivianos resgatados nunca trabalharam para a Gregory, que desconhecia o problema. Eles trabalhavam para oficinas, contratadas por empresas fornecedoras, sem autorização ou conhecimento da Gregory ou de seus sócios.

Essas questões já haviam sido esclarecidas à Polícia Federal e é com espanto que a empresa recebe a notícia do recebimento da denúncia, através da imprensa, como, infelizmente, virou costume no Brasil.

A empresa aguardará os trâmites regulares do processo e tem certeza da absolvição de seus sócios."

Com Agência Estado


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)