Rio de Janeiro – O crescimento de 0,2% da economia no segundo trimestre do ano, medido pelo Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto da produção de bens e serviços do país) foi puxado pelas empresas prestadoras de serviços e o consumo das famílias, afirmou ontem a coordenadora de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rebeca Palis. A taxa resultou da comparação dos períodos de abril a junho e do primeiro trimestre, que foi melhor, com elevação de 1%. Do lado da produção, a performance 1,9% melhor do comércio puxou o ramo de prestação de serviços. Pelo lado da demanda, o consumo das famílias surgiu como destaque, apresentando alta de 1,4%.
Entre a série de fatores que explicam a expansão dos gastos das famílias, Rebeca Palis citou o crescimento da massa de salários acima da inflação, “porque o salário real está crescendo, com a forte desaceleração da inflação”. Isso fex com que o salário real, segundo a pesquisadora do IBGE, compensasse a queda no nível da ocupação no Brasil. Outro efeito decisivo, na avaliação de Rebeca, foi a liberação dos recursos das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
A alta de 0,2% do PIB foi a primeira depois de 12 baixas e o consumo cresceu após oito trimestres de retração. Contribuíram ainda para a elevação do consumo as taxas de juros menores, embora o crédito ainda esteja caindo em termos reais. No geral, para a pesquisadora do IBGE, o destaque positivo do PIB do segundo trimestre foi o consumo das famílias, enquanto o destaque negativo foi a queda dos investimentos (de 0,7% ante o primeiro trimestre e de 6,5% em relação ao segundo trimestre de 2016).
Segundo Rebeca Palis, o crescimento do PIB do segundo trimestre confirma a trajetória mais positiva da atividade econômica. “Olhando o ciclo, a partir do segundo semestre do ano passado, estamos em trajetória ascendente”, afirmou. Ela frisou que o IBGE não data os ciclos econômicos, identificando o término da recessão, mas reconheceu que essa trajetória ascendente é “coerente com a saída de uma recessão”.
Em nota o Ministério do Planejamento avaliou que o avanço de 0,2% do PIB de abril a junho aponta para um desempenho melhor que o inicialmente projetado pelas expectativas de analistas do mercado financeiro. A pasta destacou ainda que o resultado corresponde a um ritmo de crescimento anualizado de 1%. Para o ministério, a retomada do consumo das famílias e do setor de serviços decorre de medidas propostas pelo governo, como a permissão de saques das contas inativas do FGTS e a redução dos juros do crédito consignado e do cartão de crédito.
“Vale dizer que, nos próximos meses, outras medidas favoráveis ao crescimento econômico deverão alcançar resultados similares, garantindo a manutenção da retomada da atividade, do emprego e da renda, de maneira sólida e sustentável”, afirmou a nota.
INVESTIMENTOS NO RETROVISOR Na comparação com o segundo trimestre do ano passado, a economia brasileira avançou 0,3%. Foi a primeira variação positiva após 12 trimestres de queda. Já a alta de 0,7% no consumo das famílias, na mesma base de comparação, foi a primeira após nove quedas. O desempenho da agropecuária também chamou atenção. A elevação de 14,9% do PIB do setor representou o melhor resultado desde o primeiro trimestre de 2013, quando o avanço foi de 21,5%.
A queda de 2,1% no PIB da indústria na mesma base de comparação foi a 13ª consecutiva. Treze trimestres é também a sequência de recuos no indicador que retrata o comportamento dos investimentos no país. De abril a junho, houve queda de 6,5% ante o segundo trimestre de 2016.
O bem das exportações
As exportações cresceram 0,5% no segundo trimestre ante o período de janeiro a março, segundo o IBGE. Na comparação feita com o segundo trimestre de 2016, as exportações tiveram elevação de 2,5%. As importações contabilizadas no PIB, por sua vez, caíram 3,5% de abril a junho e 3,3% frente ao segundo trimestre de 2016. A contabilidade das exportações e importações no PIB é diferente da realizada para a elaboração da balança comercial. No PIB, entram bens e serviços, e as variações percentuais divulgadas dizem respeito ao volume. Já na balança comercial, entram somente bens, e o registro é feito em valores, com grande influência dos preços.