Na época da instalação da Usina de Biodiesel de Montes Claros foi criada muita expectativa de que haveria com o produto uma melhoria na condição de vida dos produtores que sofrem com a seca no Norte de Minas. Oito anos atrás, a Petrobras Biocombustiveis divulgou que 30% da matéria-prima para o programa de biodiesel teriam de vir da agricultura familiar. Pelo planejamento inicial, as parcerias com os agricultores seriam firmadas em contratos de cinco anos de duração, com preço mínimo negociado com entidades do setor, fornecimento de sementes e suporte técnico para o plantio e o transporte da safra.
“Ocorreu uma grande expectativa na classe rural da região, mas o projeto do plantio de mamona morreu no nascedouro. Houve uma grande frustração na região”, afirma o presidente do Sindicato Rural de Montes Claros, Ricardo Laughton.
A meta anunciada para Minas era de fazer parcerias com 20 mil agricultores familiares para produção de mamona, girassol, macaúba e soja. A Petrobras Biocombustíveis também anunciou que planejava um programa de correção do solo em 56 municípios do Norte de Minas, do Vale do Jequitinhonha e da Região do Alto Paranaíba, visando aumentar a produtividade da agricultura local.
Conforme lembra o gerente da Emater-MG no Projeto Jaíba, Ivan Alves de Souza, uma força-tarefa foi criada no Norte de Minas com integrantes de diversos órgãos, como Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), além da própria Emater-MG e da Petrobras Biocombustiveis. O objetivo era divulgar o programa do biodiesel na região. Com as promessas, pequenos agricultores acreditaram que teriam um novo alento para superar a seca e investiram no plantio de mamona.
Mais de 100 pequenos produtores da região de Jaíba chegaram a plantar plantaram mamona, segundo Ivan. Muitos deles, entusiasmados com a expectativa de lucro na parceria com a Petrobras, fizeram financiamento bancário para investir na cultura. Como o projeto do uso da matéria-prima no biodiesel não vingou, acabaram enfrentando dificuldades para pagar a dívida. “Vieram os técnicos, se reuniram com a gente e falaram como seria a assistência para plantio de mamona para a produção do biodiesel. O pessoal ficou animado”, lembra o pequeno produtor João Batista Cruz, do Projeto Jaíba. Ele plantou mamona durante duas safras – 2011/2012 e 2012/2013. “Até que a produção foi boa. Mas, tive de parar de plantar, pois não tinha para quem vender a mamona”, afirma.
CULTIVO INVIÁVEL Outro que sonhou com os lucros a serem proporcionados com a venda de mamona para o biocombustivel foi José Pereira Lima, também do projeto Jaíba. “Falaram que a mamona geraria mais emprego e renda no campo. Mas, tudo parou em seguida”, lamenta. Seu último cultivo da oleaginosa foi na safra 2014/2015, quando plantou cinco hectares. O agricultor Delci de Olveira Pereira cultivou mamona por dois anos seguidos em uma área de três hectares, mas teve de interromper atividade. “Pensava em chegar até a 10 hectares, mas não foi viável continuar”, diz. Os municípios do Norte de Minas tiveram maiores áreas de plantio de mamona são Matias Cardoso, Jaíba e Manga. Além da Usina de Biodiesel de Montes Claros, a cultura na região era incentivada por uma indústria beneficiadora da oleaginosa instalada em Itacarambi, às margens do Rio São Francisco, que já foi fechada.
“Os produtores realmente embarcaram na proposta da Petrobras do cultivo da mamona para o biodiesel. Mas, depois que o negócio não deu certo, foi muito constrangedor”, afirma Ivan Alves de Souza, gerente do escritório da Emater-MG no projeto de irrigação do Jaíba. No perímetro irrigado, chegou a ser feito até plantio experimental de mamona, bancado pela Petrobras, visando o estimulo da cultura para o fornecimento da matéria-prima para a usina de biodiesel de Montes Claros.
RESPOSTA DA PETROBRAS A reportagem entrou em contato com a Petrobras e perguntou sobre o funcionamento da usina de biodiesel de Montes Claros e sobre o processo de aquisição de oleaginosas dos pequenos agricultores do estado. A assessoria de imprensa da companhia estatal respondeu que, desde a safra 2016/2017, deixou de atuar com agricultores individuais e passou a trabalhar apenas com cooperativas de agricultores familiares em diversos estados. “Em Minas Gerais, deixamos de atuar com a mamona, uma vez que a produção local é baseada em agricultores individuais”, informou, em nota, a Petrobras.
Segundo a estatal, “como contrapartida local, passamos a atuar, em 2016, com uma cooperativa que produz óleo de macaúba e que forneceu, no ano passado, oito toneladas para a Usina de Biodiesel de Montes Claros. Para 2017, estamos negociando com essa mesma cooperativa um volume que poderá chegar a 30 toneladas de óleo, que serão destinadas para a produção de biodiesel e contabilizadas para o selo combustível social”, informou a Petrobras.
Usina desativada no Nordeste
A Petrobras Biocombustível, subsidiária da Petrobras, encerrou em novembro do ano passado as atividades da Usina de Biodiesel de Quixadá (foto), no Ceará, que chegou a ter cerca de 300 funcionários. Segundo comunicado do fim de 2016, a companhia estatal reduziu em 25% os investimentos e prevê focar suas atividades na produção de petróleo, saindo de diversos setores, como de biocombustíveis. “Considerando que de acordo com as projeções, não haveria uma solução para a usina em curto prazo e sem novos investimentos, o Conselho de Administração da Petrobras Biocombustível optou por encerrar a produção de biodiesel no Ceará e assim focar recursos em projetos com maior rentabilidade”, afirmou a Petrobras em nota, na época. Os empregados próprios foram transferidos para as outras duas unidades da Petrobras Biocombustível e os empregados cedidos serão realocados em outras instalações da empresa.