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Estado de Minas

Meirelles pinta Brasil dos sonhos nas redes sociais

A convite do EM, economistas analisam publicações em rede social feitas pelo ministro da Fazenda e potencial candidato a presidente


postado em 09/10/2017 06:00 / atualizado em 09/10/2017 07:59

Meirelles usa o Twitter para pregar o otimismo na economia(foto: Fabio Rodrigues Pozzebom)
Meirelles usa o Twitter para pregar o otimismo na economia (foto: Fabio Rodrigues Pozzebom)

Taxa de juros em queda, inflação sob controle, redução de desemprego, aumento do poder de compra da população mais pobre, empresários mais confiantes na economia. Esse é o retrato do Brasil que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, constrói desde junho, quando inaugurou sua página na rede social Twitter. Quase diariamente, Meirelles escreve frases de otimismo sobre a recuperação da economia brasileira.

Em 140 caracteres, limite atual da rede, o recado para o mercado é de que tudo vai bem. No mundo real, entretanto, nem tudo vai tão bem como afirma o ministro, apontado como provável nome do PSD para a candidatura à Presidência da República em 2018, partido do qual é filiado. A pedido do Estado de Minas, economistas avaliaram os tuítes postados por Meirelles.

A constatação é de que há uma boa camada de verniz nas falas do ministro, que, segundo especialistas, exagera nas análises positivas e simplifica em poucas palavras uma realidade complexa. Também alertam sobre o baixo investimento que o governo tem feito na economia, fato ignorado por Meirelles “As frases soltas de Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, e talvez candidato à presidente da República em 2018, expressam muito mais vontades do que razão”, afirma o professor titular no Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Marcio Pochmann, ao comentar frases sobre o crescimento econômico e reversão da recessão.

 

“A TLP vai ajudar a reduzir as taxas de juros, aumentando a eficiência da política monetária no controle da inflação” (publicação de 4 de agosto)
“Meirelles dá a informação, mas não conta a história anterior e nem fala que o efeito dessa medida é bem pequeno a cada mês. Pela regra anterior, o BNDES captava títulos via Taxa Selic e emprestava a uma taxa menor. E, por isso, ficava no negativo. Com a TLP, a operação deixa de ser tão negativa para o BNDES, que era a melhor Bolsa-Família para rico no Brasil. O BNDES consegue ter menor demanda de captação e o Banco Central tem que emitir menos título para isso. O efeito é um volume maior de créditos livres no mercado e, portanto, a tendência é a queda da taxa de juros”.

Márcio Salvato,
coordenador do curso de
economia do Ibmec/MG


“Estamos reduzindo o desemprego e criando mais vagas de trabalho. A recuperação será ainda + forte com a implementação da agenda de reformas” (publicação de 5 de setembro)
“Com base na Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), o desemprego se agravou de 2015 a 2017. Antes, estávamos numa situação de quase pleno emprego em lutares como as regiões metropolitanas (RM) de Belo Horizonte (6,9% em 2013) e Porto Alegre (6,4% em 2013; 5,9% em 2014). Em 2017, projeta-se taxas de desemprego bem maiores, próximas às que foram do início da década de 2000, no governo FHC. Pelos dados do primeiro semestre, a RM Porto de Porto Alegre apresentou taxa de desemprego de 10,9%. Praticamente o dobro do período anterior. O mercado de trabalho se fechou, principalmente para os segmentos mais fragilizados da sociedade, ou seja, para as mulheres, negros e jovens. Na Região Metropolitana de São Paulo, projeta-se uma taxa desemprego recorde de 38,1% para jovens de 16 a 24 anos. É a maior taxa de desemprego desde que a PED surgiu, na década de 1980. Não vejo cenário que sustente visão otimista de inversão da tendência de piora do mercado de trabalho, com as políticas que estão sendo praticadas.”

Mário Rodarte,
professor da UFMG e pesquisador do Cedeplar


“Inflação mais baixa, redução de juros e maior estabilidade da economia abriram espaço para as famílias consumirem mais” (publicação de 6 de setembro)
“Vale perguntar: como a população tem reagido a este aumento de poder aquisitivo? A pesquisa de vendas no varejo nos dá uma pista. No acumulado do ano até julho, segundo o IBGE, as vendas de supermercados, produtos alimentícios e bebidas ainda está 0,5% menor do que no mesmo período de 2016. Especificamente no mês de julho, porém, as vendas subiram 0,3%, sugerindo que o comportamento do consumidor está em transição e começa a crescer. Outra indicação é fornecida pelo Índice de Confiança do Consumidor, calculado pela FGV. Em setembro, as famílias pesquisadas, depois de aumentos e diminuições, voltaram aos níveis de abril passado. Ou seja, tudo somado, o bem-estar da população começa a avançar, em decorrência de melhora da economia, mas os ganhos são ainda muito pequenos. Esses progressos devem continuar, com juros menores e recuperação do emprego, mas, nos próximos meses, tendem a se dar de maneira bastante gradativa e sujeita a flutuações.”

Salomão Quadros,
superintendente-adjunto de Índices Gerais de Preços do FGV IBRE


“A maior produção fez o emprego no setor (setor automotivo) crescer, o que ajuda a reverter consequências da maior recessão da nossa história, iniciada em 2014 (publicação de 6 de setembro)
“Os empregos gerados não são em quantidade, mas, sobretudo, que se fracionam dos já existentes. A nova legislação trabalhista estimula empregos com jornadas inferiores às oficiais e o próprio IBGE expressa, nas suas pesquisas recentes, a ampliação do emprego precário.”

Marcio Pochmann,
economista, professor
da Unicamp


“Vamos entrar 2018 com a economia crescendo a um ritmo em torno de 3% e poderemos crescer mais ainda em 2019” (publicação de 8 de setembro)
“A economia brasileira em 2017 deixou de cair, estabilizou-se em um patamar muito baixo, influenciado especialmente pelas exportações e pela melhora da safra agrícola, setores quase nada devedores da política econômica atual. O resultado da política atual tem sido a queda continuada nos investimentos sem reação nas importações. Portanto, a atuação é muito frágil para admitir uma recuperação a esse nível estimado pelo ministro. Até porque situação que o país vive hoje é muito mais uma ocupação da capacidade ociosa do que uma retomada do investimento.”

Marcio Pochman,
economista, professor da
Unicamp


“O Brasil deixou para trás a recessão mais grave de sua história e a economia está reagindo de forma sustentável” (12 de setembro)
“De fato, o Brasil vem acumulando indicadores que sugerem um processo de recuperação da economia, mas gradual. Alguns deles são a evolução do PIB, de muitos setores da indústria, do comércio varejista, melhora do emprego, queda da inflação e dos juros. O contraponto a alertar é que existem fatores capazes de reverter esse quadro de reação da economia, como os riscos fiscal, de descontrole das contas públicas, e político, inclusive eleitoral.”

Guilherme Leão,
economista da Fiemg


“Setores como construção civil demoram um pouco mais a reagir e demonstrarão sinais de recuperação nos próximos trimestres” (publicação de 12 de setembro)
“O setor da construção civil depende da melhora do emprego e da renda, além da redução do endividamento das famílias e da retomada do financiamento habitacional. Quanto à construção pesada, o cenário mais provável é de uma recuperação somente em 2019, após o governo conseguir avançar no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) e nas concessões. Não se pode esperar do governo qualquer capacidade de elevar seus investimentos em infraestrutura. E a iniciativa privada na Brasil está descapitalizada e altamente endividada.”

Guilherme Leão,
economista da Fiemg


“Mais confiantes na melhora da economia, as empresas tendem aumentar investimentos e contratar mais trabalhadores” (publicação de 3 de outubro)
“Em 2015, o investimento representava 18,09% do PIB. Caiu para 15,49% do PIB no segundo trimestre de 2017. Isso ajuda a entender que a melhora do mercado de trabalho não virá, pois houve redução dos investimentos, diminuindo as possibilidades de aumento de vagas. As reformas previstas podem agravar a situação já muito ruim no mercado de trabalho, pois elas podem diminuir ainda mais a renda do trabalhador. A consequente retração do mercado interno faz aumentar estoques e gera novas rodadas de demissão de empregados.”

Mário Rodarte,
professor da UFMG e pesquisador
do Cedeplar


“A melhora da economia já reflete no dia a dia das pessoas: a queda no valor dos alimentos aumentou o poder de compra do salário mínimo” (3 de outubro)
“As afirmações estão corretas em linhas gerais, mas é preciso determinar em que medida a queda de valor dos alimentos melhorou o bem-estar das pessoas. Quando se fala em poder de compra, é necessário se considerar o conjunto de bens e serviços consumidos pela população e não apenas uma das parcelas, como a alimentação, que embora importante não esgota as despesas familiares. Segundo o IPC-M da FGV, os preços dos alimentos adquiridos para consumo domiciliar caíram 2,89% de janeiro a setembro. No mesmo período, a energia elétrica subiu 6,80% e a tarifa de ônibus, 3,76%. De toda forma, a taxa de inflação diminuiu sensivelmente este ano. Isso não significa que todo o conjunto de bens e serviços consumidos pela população tenha baixado de preço. O que ocorre é que esses itens, tomados em conjunto, têm subido mais devagar. Esta redução no ritmo de crescimento dos preços em si já é benéfica porque faz com que a perda de poder aquisitivo dos salários seja menor do que quando a inflação era mais alta. Com a inflação mais baixa, a perda de poder aquisitivo do salário mínimo, e dos salários em geral, tem sido menor.”

Salomão Quadros,
superintendente-adjunto de Índices Gerais de Preços do FGV IBRE


“Os níveis de confiança das empresas na recuperação da economia também estão subindoIsso mostra que após reverter a pior recessão da história do Brasil, estamos ajudando a melhorar a vida de quem ganha menos” (publicação de 3 de outubro)
“A frase é verdade, mas ele exagera. Se a economia melhora, aumenta o emprego, mas Meirelles quer vincular os efeitos aos mais pobres, porque são os que mais sofrem com a recessão por serem mais susceptíveis ao desemprego. O impacto é para todos e não apenas para quem ganha menos.”

Márcio Salvato,
coordenador do curso de economia do Ibmec/MG


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