Sua história começou a mudar quando abriu uma pequena escola de idiomas na sala de casa. Em uma década, ficou milionário. Em pouco mais de duas, bilionário. A consagração veio em 2014, quando entrou na lista de homens mais ricos do mundo da Forbes.
Hoje em dia é dono de uma série de empresas e marcas, algumas delas ícones do universo empresarial brasileiro, como Rainha e Topper. Entre as novas investidas, apostou em uma rede de produtos naturais, a Mundo Verde, que em pouco tempo se tornou a maior do ramo no Brasil, com mais de 400 endereços espalhados pelo País, e a Aloha, empresa de venda direta de cosméticos.
Nem o mercado financeiro escapou. Há algumas semanas, anunciou a criação do Social Bank, banco digital que permite que pessoas físicas façam empréstimos entre si.
“Foi a estratégia certa”, diz. “Agora que o Brasil começa a sair do fundo do poço, estou bem posicionado para crescer ainda mais.” Nesta entrevista concedida enquanto prospectava negócios (mais um) em Dubai, Wizard faz um diagnóstico animador a respeito do futuro brasileiro. Para ele, crise é coisa do passado.
“Os sinais surgem a cada dia na geração de emprego, no consumo, no PIB. Tivemos um 2017 mais consistente do que 2015 e 2016, e teremos um 2018 muito melhor.”
O senhor não parou de investir mesmo durante a maior crise da história recente do Brasil. Por quê?
A crise foi uma constante em minha trajetória empresarial. Criei a Wizard há 30 anos, no final do Plano Cruzado e início do Plano Bresser. Enfrentávamos uma grande crise no Brasil, com inflação na casa dos 70% ao mês. Depois disso, passamos por outros momentos de instabilidade, como o confisco das contas bancárias no início do governo Collor, a crise dos países asiáticos em 98, a crise dos Estados Unidos em 2007. Durante todos esses anos, enfrentamos muitas incertezas e continuamos investindo, crescendo e inovando. Agora, após vender o Grupo Multi em 2013 e criar a Sforza, continuei com o mesmo pensamento: a crise é sempre passageira, mas o Brasil e seu enorme mercado são permanentes.
Os indicadores mostram que a economia melhorou. O Brasil saiu do sufoco?
Mais importante que a velocidade é saber que estamos no rumo certo. Nesse sentido, todos os indicadores apontam que o Brasil caminha para a retomada do crescimento da economia. Os sinais surgem a cada dia na geração de emprego, no consumo, no PIB. Tivemos um 2017 mais consistente do que 2015 e 2016, e teremos um 2018 muito melhor. No próximo ano, haverá eleição presidencial. Historicamente, esse é o período de grandes investimentos, que contribui para fomentar a economia.
Portanto, é possível afirmar que haverá uma sólida retomada da economia em 2018? Que fatores apontam para isso?
Sou, por natureza, um otimista em relação ao Brasil e seu potencial. Acredito que a economia vai crescer de forma razoável, em torno de 2% a 3%, em 2018. As bases iniciais foram dadas. O governo corrigiu algumas ações irresponsáveis que nos levaram ao desastre nos últimos anos. A Reforma Trabalhista é um avanço, a meta de controle de gastos públicos idem. Mas ainda precisamos de estabilidade. O que não podemos é ter, no ano que vem, a perspectiva de um populista se eleger presidente. Isso seria um desastre para o Brasil. Além disso, é importante manter ativo todo o esforço para combater a corrupção em todos os níveis. Dessa maneira os investidores estrangeiros terão mais confiança em depositar seus recursos no País.
A mudança do cenário e as novas perspectivas têm sido suficientes para garantir a confiança dos investidores?
São importantes, mas não suficientes. O que o Brasil precisa é de estabilidade, tanto econômica quanto política. Depois, precisamos diminuir consideravelmente o tamanho do Estado, tornar o setor público mais eficiente, privatizar as dezenas de empresas que não deveriam existir ou não deveriam ser controladas pelo governo. E precisamos de reformas para colocar as contas em ordem.
De que forma as Reformas Trabalhista e da Previdência podem ajudar o Brasil a se desenvolver?
A Reforma Trabalhista realizada é um avanço, embora eu considere que ainda há muitas coisas na lei trabalhista que deveriam mudar para adequar o Brasil às rápidas mudanças na economia. Mas, sem dúvida, ela dá tanto aos empresários quanto aos trabalhadores condições de negociar e estabelecer acordos sem algumas amarras, sem regras tão rígidas. Já estamos vendo isso acontecer.
Há quem considere a reforma da Previdência ainda mais urgente.
A reforma da Previdência é uma questão de sobrevivência, de fechar as contas. Não queremos ser uma nova Grécia, não é? Se não fizermos as mudanças na Previdência, tornando ela mais justa e isonômica em relação aos funcionários públicos e aos funcionários de empresas privadas, teremos problemas muito sérios em poucos anos.
O senhor mantém contato com muitos empresários. É possível dizer que existe, entre eles, um otimismo renovado com o Brasil?
Sim, a grande maioria dos empresários, dos empreendedores, sejam eles grandes, médios ou pequenos, estão otimistas em relação ao Brasil. O Brasil hoje é um País melhor do que há 30, 40 anos. A renda per capita é maior, o acesso das pessoas aos bens e serviços idem. Claro que ainda há muito a avançar, especialmente nos setores de segurança, saúde, educação e infraestrutura, mas estamos avançando. A Lava Jato é um exemplo. Ela mudou a história do Brasil, despertou nos brasileiros algo que estava dormente, que é a indignação com o que é errado.
De que forma a crise política afetou a economia? O senhor acha que há um descolamento entre o que acontece em Brasília e o mundo dos negócios?
Acho que este ponto é um pouco mais complexo. A crise política se estende desde 2015, com alguns momentos mais calmos e outros mais tensos, e isso acaba criando uma casca de proteção na economia. As pessoas precisam trabalhar, precisam comer, pagar as suas contas. As empresas precisam produzir, prestar serviços, vender. Em resumo: o mundo não acaba quando um presidente sofre impeachment ou quando um grande empresário é preso e faz delação premiada. A vida segue.
O Brasil pós-crise será uma nação diferente? Alguns analistas afirmam que, depois de tudo o que aconteceu nos últimos anos, o País estará mais aberto ao pensamento liberal. O senhor concorda?
Eu sinceramente espero que sim. Torço muito para que o próximo presidente do Brasil seja um liberal.
Qual deve ser o perfil do novo presidente que será eleito no ano que vem?
Político ou não, deve ser alguém ético, honesto, que não entrou na política para enriquecer. Mas isso não é tudo: é preciso também que seja uma pessoa conectada com o mundo em que vivemos, com as demandas da sociedade, com a necessidade premente de redução do tamanho do Estado, e também ligado às ideias da economia de mercado e forte defensor da democracia.
O grupo que o senhor lidera controla marcas de setores diversos como Taco Bell, Aloha, Rainha e Mundo Verde. Como é possível administrar negócios tão distintos?
A Sforza é a gestora dos recursos de minha família e é a responsável pelo investimentos em empresas, seja em projetos green field, como Taco Bell e Aloha, seja em aquisições, como Mundo Verde, Topper e Rainha, seja em startups, como foi o caso mais recente do Social Bank. Para gerir todas essas empresas, contamos com profissionais com vontade de brilhar.
Por que agora decidiu investir em uma fintech como o Social Bank?
O Social Bank é um conceito de negócios revolucionário. Em primeiro lugar, porque a tecnologia mudou a forma de fazer negócios. Cada vez que vou à China fico impressionado como os chineses transferem dinheiro de um celular para outro. Felizmente hoje posso dizer que, por meio do Social Bank, sou pioneiro ao apresentar essa comodidade aos brasileiros. Além de oferecer serviços a todos que já possuem contas bancárias, também atendemos milhares de pessoas que, por uma série de motivos, ou estão à margem do setor bancário tradicional ou não são suficientemente atendidas por ele. O segmento bancário mudará drasticamente nos próximos anos. As pessoas irão cada vez menos às agências bancárias e irão resolver suas necessidades financeiras com um celular na palma da mão.
O senhor teve uma origem humilde e já ganhou muito dinheiro. O que o motiva a continuar investindo no Brasil?
Eu amo esse País. Já visitei mais de 50 países, mas sou apaixonado pelo Brasil. Com o que conquistei em minha trajetória, poderia morar em qualquer lugar do mundo, com conforto e tranquilidade. Mas gosto do Brasil. Assumi a missão de contribuir para a formação de novos empreendedores que estão em busca de qualidade de vida e um futuro melhor. Quero ser conhecido como uma pessoa que auxiliou milhares de brasileiros a alcançar a independência financeira e a conquistar seu sonho de realização pessoal sem precisar deixar o País.
Qualquer pessoa pode empreender ou é preciso ter uma vocação especial?
Os estudos internacionais indicam que o Brasil tem um dos índices mais elevados de empreendedorismo em sua população. Porém, mesmo o indivíduo que tem espírito empreendedor precisa investir em formação e qualificação.
“Acredito que a economia vai crescer de forma razoável, em torno de 2% a 3%, em 2018. As bases iniciais foram dadas.”