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Estado de Minas

Conheça a Bitcoin, a moeda eletrônica do presente e do futuro

Dinheiro virtual muda o tradicional modelo financeiro, ao eliminar intermediários, bate recorde de valorização e principais bolsas de valores do mundo já pensam em negociá-lo


postado em 01/12/2017 12:00 / atualizado em 01/12/2017 09:19

(foto: Justin Tallis/AFP)
(foto: Justin Tallis/AFP)

No final da década de 1990, quando a internet ainda engatinhava, alguns bancos se aventuraram a lançar as primeiras iniciativas de uma instituição financeira totalmente virtual, como foi o caso do pioneiro Banco1.net, que funcionou de 1995 a 2004.

Naquele tempo, apesar do apelo de modernidade, poucos consumidores se arriscavam a trocar a agência física pela virtual, acessada por computador. Vinte anos depois dessa iniciativa, uma geração que nasceu na era digital começa a transformar a forma como nos relacionamos com os bancos e o dinheiro.

A explosão do uso dos smartphones para quase tudo, inclusive o acesso à conta bancária, e a digitalização dos meios de pagamento desencadearam agora uma nova revolução: o uso de moedas eletrônicas, ou, para usar um termo atual, as criptomoedas.

“Estamos em uma transição do tradicional modelo financeiro para a disseminação de dinheiro eletrônico, que já está transformando instituições não financeiras em emissoras de moedas digitais”, diz Omarson Costa, consultor especializado em tecnologia e inovação.

A mais famosa delas, o bitcoin, criado no final de 2008, é a primeira moeda digital descentralizada do mundo. Uma de suas principais características é fugir dos padrões convencionais.

Ninguém a controla e a sua emissão e manutenção dependem de uma rede mundialmente distribuída de computadores, os chamados mineradores. Também é o primeiro sistema de pagamentos direto, o chamado peer-to-peer (ponto a ponto, de uma pessoa a outra), ou seja, não existem intermediários como no sistema tradicional (bancos, operadoras de cartão) para a realização de transações. As sim, as transferências são mais rápidas e mais baratas do que em outros meios convencionais de pagamento.

O sistema é de código aberto (utiliza uma tecnologia chamada Blockchain) e o registro de todas as operações financeira é público e acessível, assim como o código-fonte desse sistema. A segurança contra hackers e falsificações é garantida pela sua descentralização, seu código aberto e pelo uso de criptografia. Também foi programado para ser escasso, com uma quantidade máxima de 21 milhões de unidades. É como qualquer outro ativo, com seu preço variando de acordo com a demanda do mercado. Se a tendência de compra é maior, o pre&cce dil;o vai subir.

Nas últimas semanas, a valorização do bitcoin explodiu depois que a CME Group, empresa americana dona da Bolsa de Chicago e que agrega as maiores bolsas de derivativos do mundo, confirmou que contratos futuros de bitcoin passarão a ser negociados a partir de dezembro, junto com contratos de câmbio, juros e commodities. A Nasdaq, outra gigante, mas voltada às empresas de tecnologia, informou que está estudando a utilização de bitcoin a partir de 2018.

PIZZAS Na história, poucas moedas, virtuais ou não, se valorizaram tanto num período tão curto. Nos últimos 12 meses, a cotação do bitcoin avançou impressionantes 1.000%, batendo na casa do US$ 10 mil. No Brasil, o bitcon chegou a ser comercializado a R$ 35 mil.

Como o valor unitário é muito alto, a moeda pode ser comprada fracionada em até oito casas decimais, ou seja, qualquer pessoa pode comprar 0,00000001 bitcoin. “E pensar que a primeira transação realizada em bitcoin foi feita em nova York no pagamento de duas pizzas ao preço de US$ 40, ou 10 mil bitcoins”, diz Marco Vieira, cofundador da Finchain, que controla a corretora FlowBTC, uma das cinco maiores corretoras de criptomoedas do país. A empresa opera desde o final de 2014 e conta com mais 30 mil clientes.

É fácil comprar e vender bitcoins: basta a pessoa entrar no site de uma das 10 corretoras operam no Brasil com criptomoedas, se cadastrar e começar a negociar a moeda como em uma corretora tradicional. “A experiência não tem segredo”, garante ele, que vê um mercado cada vez maior num futuro muito próximo.

Para Carlos André Montenegro, um dos fundadores da BitcoinTrade, as mudanças que estão sendo introduzidas pelas criptomoedas vão revolucionar a maneira como as pessoas lidam com dinheiro. “Falar em moeda digital hoje é o mesmo que falar em internet em 1997”, compara ele, lembrando que estamos apenas  no começo dessa revolução. Segundo o empresário, a grande vantagem do sistema digital de moedas é que as remessas de dinheiro são realizadas de forma descentralizadas e sem intermediação de instituições financeiras ou governamentais.

No momento em que o varejo entrar nesse negócio para valer, dizem os especialistas, a verdadeira mudança virá. “Estamos só no começo. Ainda está faltando no Brasil uma espécie de portão de pagamentos automático que faça a intermediação entre o varejo e as corretoras”, afirma Montenegro. Atualmente, quando uma empresa recebe a moeda digital, ela precisa ter uma conta na corretora de criptomoedas, que recebe, faz a venda dos bitcoins e transfere o valor convertido ao varejista. Quando esses ajustes forem feitos, o bitcoin mudará a vida de milhões de pessoas no Brasil e no mundo.

Valorização causa nó no sistema

 

Depois de atingir a marca histórica de valorização, quando passou a barreira dos US$ 10 mil na terça-feira passada, os negócios com bitcoin causaram um nó no sistema de acesso de corretoras e casas de câmbio que negociam a moeda digital. Na quarta-feira, um dia após a espetacular valorização, milhares de usuários ativos começaram a comprar a moeda. Outros milhares se entusiasmaram com a valorização e partiram para entrar de cabeça no novo investimento. Toda essa movimentação acabou elevando o valor da moeda digital para US$ 11 mil.

A movimentação inesperada, porém, acabou tirando do ar, ou causando instabilidade nos sistemas de acesso das principais corretoras do mundo. A Blockchain, uma das maiores empresas do mundo, dona do sistema de criptomoedas, informou que suas transações tiveram um aumento de 600% na quarta-feira, com a entrada de 120 mil novos investidores.

No meio da tarde quarta-feira, as dificuldades acabaram superando a empolgação dos investidores e as transações acabaram caindo e puxando a cotação para baixo. No final do dia, a queda média chegou a 18%, levando a moeda a um valor mínimo de US$ 9, 3 mil. À noite, porém, os sistemas voltaram ao normal, e o valor da cotação chegou novamente aos US$ 10 mil.

Como em toda operação financeira, comprar e vender bitcoins envolve riscos. Um dos elos fracos desse mercado são as empresas que fazem conversões. Isso porque alguns usuários deixam suas chaves de acesso ao sistema com essas companhias.

É aí que um hacker pode entrar e fazer estragos. Recentemente, clientes da sul-coreana Bithumb perderam milhões de dólares depois que invasores acessaram seus dados. O caso mais dramático aconteceu em 2014, quando a moeda não tinha tanta fama. Na ocasião, a corretora japonesa MT Gox foi à falência depois de perder cerca de 850 mil bitcoins. Os prejuízos totalizaram quase R$ 100 milhões e o dono da empresa aguarda julgamento no Japão.

 


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