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Estado de Minas

Tecnologia de BH assina projetos da Embraer

Conhecida pelas startups e a comunicação virtual, capital já atende a corporações do mundo real, mas tem problemas para se firmar como fornecedora de conhecimento


postado em 11/12/2017 06:00 / atualizado em 11/12/2017 17:17

A economia de BH caminha para prestar serviços de alto valor agregado(foto: Meliuz/Divulgacao)
A economia de BH caminha para prestar serviços de alto valor agregado (foto: Meliuz/Divulgacao)

Endereço recente do primeiro escritório de engenharia da multinacional brasileira da aviação, a Embraer, fora da sede paulista da companhia, Belo Horizonte mergulhou num ambiente de serviços de alta complexidade disputados por grandes competidores no exterior que vai além do mundo virtual, onde as habilidades da capital mineira vêm se afirmando nos últimos cinco anos. Jovens profissionais contratados na capital assinam os projetos dos novos jatos comerciais da Embraer que levarão a marca da companhia e de BH pelo mundo. Eles se juntaram às equipes de outros centros de excelência em tecnologia da informação e projetos já instalados por prestadoras de serviços do porte do Google e da também brasileira CI&T, com 2.500 empregados em cinco continentes.

Investimentos como esses dão a dimensão dos desafios que BH terá de abraçar, ao completar a pouca idade de 120 anos, para se confirmar como fornecedora de conhecimento e tecnologia, a razão que atrai das empresas nascentes do San Pedro Valley, comunidade de startups de base tecnológica iniciada no Bairro São Pedro, sob inspiração do Vale do Silício americano, a corporações com atuação mundial. A cada bilhão de reais que a economia da cidade produz, R$ 680 milhões são movimentados pela prestação de serviços variados. Eles ganham sofisticação, mas também esbarram numa série de problemas que a capital enfrenta, da pressão dos vizinhos do seu entorno, aos gargalos na infraestrutura logística, de energia e comunicações.

Polo da terceira maior região metropolitana do país, a capital mineira dá emprego e renda a pelo menos 380 mil pessoas que se deslocam diariamente em direção à cidade, destino também para tratamento de saúde e ensino. Nas empresas e nas universidades não se discute mais a vocação de BH e as possibilidades de um futuro associado à produção de conhecimento. Na visão do diretor de engenharia do Google para a América Latina, Berthuer Ribeiro-Neto, o maior desafio é transferir o conhecimento concentrado nas universidades para a iniciativa privada. “Esse conhecimento tem enorme valor, mas voltamos aqui às estruturas cartoriais: como a gente move esse conhecimento, que por uma distorção brasileira está incrustado nas universidades, para o setor produtivo.?”

 Parte da resposta foi dada pelos empreendedores de tecnologia que nasceram no San Pedro Valley, como observa Israel Salmen, fundador com Ofli Guimarães, do Méliuz, empresa que apurou vendas de R$ 1 bilhão no ano passado, e emprega 150 pessoas, no chamado segmento do cashback, sistema que devolve ao consumidor parte do valor gasto em compras. “Há cerca de seis anos nenhuma daquelas empresas existia e nem mesmo o conceito colaborativo do San Pedro Valley. Elas surgiram, na maioria dos casos, a partir de ideias de jovens saídos de cursos universitários de tecnologia e que souberam empreender”, afirma.

 Estudo divulgado neste ano pela Associação Brasileira de Startups (ABStartups) mostra que o destaque conquistado por BH no segmento das empresas de base tecnológica e alto potencial de crescimento permitiu que Minas Gerais ultrapassasse o Rio de Janeiro em número de empreendimentos do ramo. Agora, o estado só perde paa São Paulo. Das 5 mil startups cadastradas em 2016 no Brasil, 591 estão instaladas em Minas, das quais mais de 70% (418 empresas) são da capital mineira.

 “Quando a gente olha para o futuro não só de BH, quanto de Minas Gerais, fica muito animado. Se as empresas continuarem crescendo o estado será conhecido não só pela sua riqueza mineral, mas também pela produção de tecnologia”, diz Israel Salmen. As pretensões do Méliuz são de dobrar de tamanho em 2018 a partir da nova linha de atuação, que começou a expandiu o modelo do cashback do comércio on-line para as lojas físicas, entre redes de supermercado e alimentação em Minas, Rio, São Paulo, Goiânia e Porto Alegre.

 Na avaliação do ex-secretário de planejamento de BH e atual presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), Paulo Roberto Paixão Bretas, a economia da capital segue o rumo para se firmar no desenvolvimento da prestação de serviços que dialogam com a indústria de tecnologia de ponta. “O caminho para BH é o caminho do San Pedro Valley, aquele das empresas capazes de desenvolver inovações junto das universidades e prestar serviços de alto valor agregado onde eles forem necessários”, diz.

 Sem volta Do Produto Interno Bruto (PIB, o conjunto da produção de bens e serviços) da capital, estimado em R$ 87 bilhões pela Fundação João Pinheiro, ante dados de 2014, os mais recentes disponíveis, o setor de serviços responde por 68%. A participação da indústria alcança outros 18,5%. A composição do PIB municipal reflete a própria concepção que a capital foi assumindo como prestadora de serviços públicos e privados ao polo industrial do seu entorno, lembra Guilherme Veloso Leão, superintendente de Ambiente de Negócios da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg).

 “Tudo caminha no sentido de que BH seja cada vez mais forte em serviços intensivos de conhecimento, com destaque nas áreas de tecnologia da informação, serviços de saúde e das fintechs (startups que desenvolvem inovações tecnológicas para o setor financeiro), de engenharia vinculada a grandes setores da indústria, como alimentos, e de biotecnologia. Nesta última, a cidade já é reconhecida como polo do Brasil”, afirma Guilherme Leão.

 Os problemas com os quais a cidade se depara, contudo, não são poucos. Para o superintendente da Fiemg, o maior deles é a infraestrutura, em especial a mobilidade urbana em uma metrópole que sequer conta com linhas suficientes e eficientes de metrô. A importância assumida pelo setor de serviços parece ser um caminho sem volta, inclusive no período atual de recuperação da economia do estado e do Brasil, segundo o estatístico Reinaldo Carvalho de Morais, coordenador do PIB municipal na Fundação João Pinheiro.

 “Apostaria que os serviços vão se recuperar mais rápido porque estão bastante associados à reação do consumo das famílias”, afirma Reinaldo Morais. O especialista observa que tanto o comércio quanto as atividades imobiliárias e de intermediação financeira têm particular contribuição na pujança dos serviços na capital mineira. (Colaborou Fred Bottrel)

 

 

três perguntas para...

 

Frederico Aburachid
Presidente do Conselho de Assuntos Metropolitanos e Municipais da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg)

 

Quais são, do ponto de vista das empresas, os principais gargalos para investir em BH?
Os problemas não se distinguem daqueles de grandes cidades no Brasil decorrentes da estrutura burocrática da administração pública e das dificuldades impostos pela legislação. Existem questões específicas, claro, como a falta de espaço para o crescimento da indústria tradicional, mas a cidade não fechou os olhos para a indústria 4.0 e os segmentos intensivos de tecnologia. Temos uma discussão a aprofundar sobre o novo plano diretor de BH, e que vão continuar em 2018, envolvendo, principalmente, os padrões construtivos na capital. Problemas na área de infraestrutura também têm de ser solucionados, como a reforma do anel rodoviário. Já houve avanços no licenciamento urbanístico da cidade, mas precisamos avançar no sentido de uma simplificação de procedimentos, assim como discutir certos padrões do Código de Posturas.

Como a interligação de BH na Região Metropolitana afeta essas discussões?
De fato, a discussão de todos esses problemas não é só local. Quando se fala em BH, temos de tratar da região metropolitana. Há diversas carências em infraestrutura, nos sistemas de segurança e educação que requerem, por isso mesmo, que o Estado atue. Não há como discutir, por exemplo, a mobilidade urbana na capital sem pensar na área metropolitana.

As soluções vão além da autonomia de BH...
As questões da segurança pública e da própria economia, como a geração de empregos, de fato,  exigem intervenções do estado e da União.


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