Brasília, 19 - O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, admitiu nesta terça-feira, 19, que a inflação de 2017 medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve ficar abaixo do piso da meta para este ano, que é de 3%. "(A inflação) está em 2,8%. Vamos aguardar", ressaltou.
O centro da meta de inflação para este ano é de 4,5%, com tolerância de 1,5 ponto porcentual, para mais ou para menos. Quando o resultado anual fica fora desses limites, o presidente do Banco Central precisa enviar uma carta aberta ao Ministério da Fazenda explicando os motivos para o estouro da meta e as ações que a autoridade monetária estaria tomando para o retorno do IPCA à meta.
No último Relatório de Mercado Focus, divulgado na segunda-feira, 18, pelo BC, os analistas de mercado reduziram a projeção de inflação neste ano de 2,88% para 2,83%.
Receitas e despesas
O ministro da Fazenda admitiu que, com a recuperação da economia, medidas para aumento de receita tendem a ser mais viáveis do que corte de despesas. Meirelles deu essa reposta ao ser questionado sobre a ação do governo para compensar a perda de arrecadação em 2018 com a decisão do Congresso de não aprovar proposta de mudança na forma de tributação dos fundos exclusivos.
A medida, mesmo se aprovada, só poderá ser adotada em 2019 devido à regra que exige que alterações no Imposto de Renda têm que ser aprovadas no ano anterior do início da sua vigência.
Ele ponderou, no entanto, que será inevitável a aprovação da mudança nos fundos exclusivos em 2018 para entrada em vigor em 2019. "Não faz sentido privilegiar investidores maiores. Será aprovado, acredito. Mas, se não for aprovado agora, só terá validade em 2019", afirmou.
Meirelles fez questão de ressaltar que a economia está num momento mais favorável em termos de receitas. "Vamos trabalhar firme pela aprovação das medidas fiscais a partir de fevereiro", comentou.
Segundo Meirelles, a reforma da Previdência é mais relevante e tem prioridade, mas medidas fiscais terão atenção, inclusive, o projeto de reoneração da folha que tramita no Congresso.
Questionado se sente frustrado por o Congresso não ter aprovado as medidas de ajuste, Meirelles respondeu: "Existe mais do que a melhora de alguns indicadores. Há uma melhora forte e impressionante de uma economia que estava destruindo empregos", afirmou. Para ele, não houve uma derrota da reforma da Previdência porque ela não foi aprovada.
Candidatura
Segundo Meirelles, a votação da reforma da Previdência "extrapola" o debate sobre sua possível candidatura ao Palácio do Planalto. De acordo com ele, a aprovação da proposta que muda as regras de aposentadoria e pensão no País é "de interesse de todos, declarados ou não".
Ele negou que uma eventual campanha política sua vá afetar as negociações pelo apoio ao texto. "Temos desafio da aprovação da reforma da Previdência, que será votada em fevereiro. Esperamos que seja aprovada", disse Meirelles, em café da manhã com jornalistas.
O ministro disse que, com o adiamento da votação da proposta, haverá "uma batalha" de convencimento, mas o tempo extra será positivo para o governo trabalhar no esclarecimento de parlamentares e da opinião pública.
Meirelles lembrou que nesta terça a Argentina aprovou sua reforma da Previdência e disse ser "normal" que o país vizinho tenha conseguido "margem pequena" para colocar a proposta em vigor. "O tema da Previdência é controverso, mas não é questão de opção, e sim numérica", afirmou o ministro.
Segundo ele, o impacto da reforma da Previdência é de longo prazo, mas é importante agora para consolidar expectativas e o crescimento do País. Ele mencionou ainda que a redução da Selic proporcionará uma queda da taxa de juros para todos.
(Eduardo Rodrigues, Adriana Fernandes e Idiana Tomazelli)