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Estado de Minas

Produtores de leite apelam à Justiça para selar venda da Itambé

Manifesto de produtores que abastecem laticínio mineiro pede à Justiça paulista que reconsidere suspensão do negócio


postado em 11/01/2018 06:00 / atualizado em 11/01/2018 08:51

Unidade da Itambé em Uberlândia: garantia de compra de leite e remuneração são decisivas para os produtores rurais de Minas e de Goiás(foto: Itambé/Divulgação 13 2/12/16)
Unidade da Itambé em Uberlândia: garantia de compra de leite e remuneração são decisivas para os produtores rurais de Minas e de Goiás (foto: Itambé/Divulgação 13 2/12/16)

O temor com a indefinição sobre o destino do tradicional laticínio mineiro Itambé Alimentos, objeto de disputa judicial, levou as cooperativas de leite que abastecem a empresa a um apelo organizado feito nesta semana à Justiça de São Paulo, que suspendeu a venda da companhia à empresa francesa Lactalis, maior produtor lácteo do mundo. Manifesto assinado pelos presidentes de 29 cooperativas de produtores rurais de Minas Gerais e uma de Goiás, foi entregue ao juiz responsável pelo processo e a magistrados da 1ª Vara Empresarial e de Conflitos Relacionados à Arbitragem, de São Paulo, onde o processo corre em sigilo.

Logo depois de ter retomado o controle da Itambé, com a recompra de 50% das ações que pertenciam à Vigor Alimentos, a Cooperativa Central de Produtores Rurais de Minas Gerais (CCPR) anunciou a venda do laticínio à Lactalis. O negócio está sendo questionado pela Vigor, hoje pertencente ao grupo lácteo mexicano Lala, que, por sua vez, havia feito três tentativas nos últimos anos de adquirir a companhia mineira.

No documento entregue à Justiça, as cooperativas pedem que a corte reconsidere a suspensão dos efeitos da venda da Itambé à Lactalis, que ofereceu, segundo o grupo, melhores condições de remuneração do negócio e garantiu o recebimento do leite produzido pelos cooperados. “Entretanto, diante das informações recentes de liminar judicial obtida pela Vigor/Lala que inviabilizaria a concretização da negociação ora efetuada com a Lactalis, essa nos colocaria em posição vulnerável e diferente ao acordado, pois não teríamos as mesmas garantias de aquisição do leite por parte da Lala”, diz o manifesto.

Segundo o presidente da Cooperativa Agropecuária da Grande Belo Horizonte e membro do Conselho de Administração da Itambé, Carlos Batista Alves de Souza, que conversou ontem com a reportagem do Estado de Minas, a companhia francesa fez acordo com a CCPR que além de assegurar o recebimento de leite produzido pelos cooperados durante 10 anos, renováveis por igual período, oferece a melhor base de remuneração. O contrato prevê que os preços pagos aos cooperados sejam calculados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo, referência na pesquisa de preços agropecuários no Brasil, dentro da bacia leiteira abrangida pela CCPR.

Carlos Batista Alves de Souza, produtor de leite e membro do Conselho de Administração da Itambé Alimentos:
Carlos Batista Alves de Souza, produtor de leite e membro do Conselho de Administração da Itambé Alimentos: "Achamos que agimos dentro da lei e estamos extremamente preocupados e inseguros sobre o que vai acontecer" (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)


“Quem conhece essa história, e eu conheço bem, tem receio da Lala. Em conversas com a Lala, a empresa não garantiu em condição consideradas boas o recebimento do leite produzido pelos cooperados e a preço ajustado”, afirma Carlos Batista Souza. Dependem do negócio cerca de 6,5 mil produtores de leite, responsáveis por 3 milhões de litros, em média, entregues todo dia ao laticínio Itambé, dos quais 75% são donos de pequenas propriedades rurais, muitas com estrutura familiar.

Remuneração

Produtor de leite há 40 anos em Bom Jesus do Amparo, distante 70 quilômetros de Belo Horizonte, Carlos Batista Souza diz que todo o leite produzido na fazenda tem sido processado nas unidades da Itambé, assim como a produção de outros pessoas da família dele. “O produtor tem duas preocupações. Uma com a qualidade da sua produção e a outra com a garantia de recebimento do leite por preço justo”, afirma. Ele insiste em que fez grande diferença para os cooperados da CCPR a proposta da Lactalis de remunerá-los com base em preços cotados pela Cepea/Esalq nas regiões produtoras de Minas e Goiás.

“O manifesto é fruto de um movimento espontâneo dos presidentes de cooperativas rurais preocupados (com a suspensão do negócio com a Lactalis).” Em 20 de dezembro, depois de ter suspendido os efeitos do acordo com a Lactalis, anunciado pela CCPR, a Justiça paulista acatou parte do recurso apresentado pela CCPR. A gestão do laticínio mineiro foi retomada na diretoria executiva e no Conselho de Administração. De acordo com Carlos Batista Souza, a expectativa da cooperativa é de que nos próximos dias seja feito o pagamento aos cooperados da remuneração de dezembro.

 

Entenda o caso

Cerca de quatro anos atrás, a CCPR aceitou proposta de compra de 50% do capital da Itambé pela Vigor Alimentos, do grupo J&F, dono do frigorífico JBS, dos irmãos Joesley e Wesley Batista

Em outubro do ano passado, a J&F anunciou ter concluído a venda da Vigor para a empresa mexicana Lala e a CCPR decide exercer o direito de preferência e recomprar a participação de 50% da Vigor na Itambé. A Lala já havia feito uma oferta de compra do laticínio mineiro no começo dos anos 2000

Com dificuldade de financiar o negócio, a CCPR opta pela venda da companhia à empresa francesa Lactalis, maior produtor lácteo do mundo. Em 5 de dezembro, a CCPR faz novo anúncio informando ter firmado acordo de venda de 100% das ações da Itambé para a Lactalis. O negócio previu contrato de fornecimento de leite pela CCPR por 10 anos, com renovação por igual período

A Vigor apresenta ação judicial contra a venda da Itambé e no dia 15 a Justiça de São Paulo, onde corre o processo em sigilo suspendeu a compra do laticínio mineiro


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