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Estado de Minas

Famílias e descendentes de japoneses movem economia no Rio Doce

Há décadas em Minas, os empreendedores prosperaram em negócios próprios no comércio e nos serviços de alimentação


postado em 16/01/2018 06:00 / atualizado em 16/01/2018 07:34

Cristina Mayumi e Celso Yukio (E), Luzia Mitiko e o marido Rioite Taguchi conduzem a empresa montada na garagem de casa em Ipatinga(foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
Cristina Mayumi e Celso Yukio (E), Luzia Mitiko e o marido Rioite Taguchi conduzem a empresa montada na garagem de casa em Ipatinga (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)

As mãos que ajudaram a transformar o minério em aço e a construir a história do Vale do Rio Doce são pródigas também em preparar alimentos, atuar no comércio, cultivar a terra e fomentar atividades culturais e esportivas. Em Ipatinga, distante 209 quilômetros de Belo Horizonte, ex- funcionários da Usiminas e descendentes dos pioneiros japoneses na usina siderúrgica continuam a fazer do trabalho e do respeito pela terra brasileira a sua bandeira maior. E fazem a roda da economia girar. “Vou ficar aqui, mesmo, porque não dá mais para começar do zero. Afinal, encontrei amizade e boa convivência”, diz Mário Rioite Taguchi, de 76 anos, casado com Luzia Mitiko e pai de Celso Yukio, engenheiro e sushiman, e de Cristina Mayumi, farmacêutica.


Proprietário do restaurante Sushi-Ten (Casa do Sushi, em português), considerado um dos melhores da região em comida japonesa, o casal tem nos filhos a linha de frente do restaurante que funciona há nove anos no Bairro Cariru. Natural da região de Bauru (SP) e filho de lavradores, Mário, nome que recebeu no batismo católico, trabalhou na siderúrgica de 1963 a 1991 e conta que se adaptou bem à vida em Ipatinga, que lhe deu a oportunidade de criar os filhos e, depois de aposentado, se dedicar a uma nova atividade.


Noite de terça-feira e o movimento é constante no restaurante, que agrada pelo ambiente aconchegante, comida deliciosa e atenção dos proprietários. Com voz tranquila, Mário se recorda dos primeiros tempos em Ipatinga, que, há 60 anos, recebia a primeira leva de imigrantes japoneses dispostos a trabalhar na siderúrgica implantada graças à parceria comercial entre o Brasil e o Japão. Naquela época, a empresa iniciava a escalada no futuro Vale do Aço e a união da mão de obra nipônica com os mineiros transformaria a região em todos os aspectos.

“Era tudo difícil, principalmente para chegar aqui, por causa das estradas. Asfalto, só até João Monlevade”, conta Mário, que, solteiro, foi recrutado em Araçatuba, onde morava, para trabalhar em Ipatinga: “Depois voltei lá, me casei e trouxe a esposa”. A ideia do restaurante começou pelas mãos de Luzia, que, enquanto o marido trabalhava, pôs em prática seus dotes culinários, começou a fazer pratos típicos e vender numa feira local.

O comerciante Kengo Taniguchi e a mulher Kazuco já precisaram buscar arroz japonês em São Paulo(foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
O comerciante Kengo Taniguchi e a mulher Kazuco já precisaram buscar arroz japonês em São Paulo (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)

Frutos da terra A comida brasileira não seduziu de cara os imigrantes e muitos deles, passadas seis décadas, mantêm a maior parte do cardápio doméstico com os pratos da sua terra. Lá pelo fim da década de 1950, para suprir a necessidade de alguns gêneros alimentícios, a Usiminas convocou famílias no interior paulista para cultivar hortaliças e atender os novos moradores. Entre os primeiros nesse setor, estavam os Shibata, os Mihara e os Imazaki, que formaram a “Horta do Amaro Lanari (nome do primeiro presidente da companhia), num bairro pertencente a Coronel Fabriciano.


Hoje, a comunidade japonesa, estimada em cerca de 100 famílias, segundo a Associação Nipo-Brasileira de Ipatinga (ANBI), encontra produtos para os pratos típicos da gastronomia oriental. No Bairro Bom Retiro Leste, são encontradas algas para fazer sushi, molhos, óleo de gergelim, macarrão japonês e outros itens. No balcão do Taniguchi Ten, está o simpático casal Kengo Taniguchi, de 90, que chegou ao país com cinco anos, e Kazuco, brasileira filha de japoneses.


De memória prodigiosa, Kengo conta que trabalhou no setor de laminação e também como intérprete na siderúrgica. “Mão de obra era muito difícil, o pessoal era analfabeto”, ressalta, lembrando que chegou a Ipatinga casado e com três filhos, sendo que um deles, Mário, foi vereador e presidente da Câmara Municipal. Olhando os produtos dispostos nas prateleiras, o comerciante diz que, nos primórdios, era preciso mandar buscar o arroz japonês em São Paulo. “Hoje, tudo mudou. E até no Natal, as pessoas querem comer sushi. Não falta nem no churrasco”, diz com bom humor.

Hospitalidade aprovada

Em Ipatinga, a equipe do Estado de Minas foi recebida pela família do metalúrgico Kenji Inoue na casa do Bairro Ideal. Na mesa comprida e com muitos lugares, todos se serviram do bule de chá de gérmen de trigo torrado, biscoitinhos de gengibre e morangos desidratados com recheio de chocolate branco, recém-chegados do Japão na bagagem de Toshiko, casada com Shizuo Suenaga. À mesa, além do casal Inoue, está Bárbara, de 16, filha de Taeko. “Temos gratidão por Ipatinga, houve muito respeito conosco. Se os japoneses trouxeram uma grande responsabilidade pelo trabalho, receberam de volta uma amizade calorosa e a alegria de viver dos brasileiros”, afirma Yoshiko. As famílias também guardam lembrança do país distante não só no coração, como também em casa, como é o caso das bonecas (foto) artesanais japonesas. Na tradição do Japão antigo, as bonecas eram preservadas de geração a geração, com a crença de que algumas delas poderiam adquirir vida e abrigar a alma do homem.

 A Força das famílias

1958 – Em 16 de agosto, ocorre a cerimônia de Cravação de Estaca para início das obras da usina siderúrgica de Ipatinga, com a presença do presidente da República Juscelino Kubitschek, do embaixador Yoshiro Ando e de outras autoridades dos dois países. Embora não haja registro, conta-se que a primeira família japonesa a chegar a Ipatinga foi a de Hakal Sato.

1958 – Embora tenha recebido muitos imigrantes, a região do futuro Vale do Aço não tinha verduras e legumes, o que levou a Usiminas a criar a horta do antigo Maringá, conhecida como “horta japonesa”. A primeira família a trabalhar nesse local foi a de Shizuo Shibata (viúvo) e do filho Nobaru. A esposa de Nobaru, conhecida como dona Maria, chegou em abril de 1960.

1960 – Em fevereiro, chegou a primeira família de comerciantes (Natsuo e Yoca Esaki), que abriu armazéns de secos e molhados e miudezas em geral, no Bairro Horto. Depois se instalaram a senhora Cecília Eguchi, Joaquim e Maria Haru (armazém de secos e molhados) e família Haibara (bar no antigo centro comercial do Bairro Bom Retiro Centro).

1960 – Em maio, chegou à região a família de Yukata e Mitsuko Mihara. No ano seguinte, em 12 de setembro, vieram Mitsuo e Ana Imasaki.

1960 – Em 18 de outubro, nasceu a primeira descendente de japoneses, Sônia Esaki. E em 26 de dezembro, veio ao mundo o primeiro descendente de um funcionário da Usiminas, Júlio Tahara, que se formou em medicina na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na capital, e se especializou em cirurgia plástica.

1962-1963 – Com o andamento das obras da Usiminas e início da operação, o número de japoneses e familiares chega a mais de 350. Além desses, vieram mais 80 de outras empresas e, na sequência, horticultores e comerciantes, que formaram a comunidade japonesa.

1963 – Em 22 de maio, a Usiminas construiu uma escola, onde fica atualmente a sede da Associação Nipo-Brasileira de Ipatinga (ANBI). No auge da instalação da siderúrgica e início da operação, foram promovidas diversas atividades educacionais, culturais, esportivas e sociais: concurso de haiku (pequeno poema de 17 sílabas), realização de undokai (gincana poliesportiva), jogos de madjan (dominó chinês), go (jogo de conquista de território), shogui (xadrez), baseball (muito apreciado pelos japoneses), sumô (luta), a arte marcial ninjutsu  e vôlei e apresentações da tradicional bon-odori (dança folclórica).

1970-1973 – Com o impulso dado pelos programas do governo brasileiro de desenvolvimento da agricultura do cerrado, com parceria de investidores japoneses, Prodecer e Padap, começaram a chegar a Minas as primeiras famílias de empreendedores nipônicos da terra, que se destacaram na produção agrícola em São Gotardo (foto) e Carmo do Paranaíba, no Alto Paranaíba. Esses municípios se tornaram grandes produtores de alimentos.


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