Pará de Minas, Nova Serrana e Divinópolis – Ao costurar os primeiros jogos de cozinha no fundo de quintal de sua casa em Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas Gerais, Maria das Dores não esperava que três décadas mais tarde estaria à frente de uma empresa com mais de 500 funcionários e vendendo roupas para todas as regiões do Brasil. Depois de anos de contenção de gastos e adiamentos de grandes investimentos, empresas dos setores calçadista, vestuário e de alimentos voltam a anunciar abertura de empregos e a expansão de suas fábricas. A indústria de confecções de Maria das Dores é um bom exemplo desse reaquecimento. Desde o fim do ano passado, a abertura de duas novas células de produção está em andamento, sendo que na primeira já foram contratados 50 trabalhadores e outros 50 devem ser empregados até junho.
“Em período de crise e dificuldade financeira, as pessoas optam por produtos com custo mais baixo. Em Nova Serrana, para se adaptar a essa realidade as empresas passaram a produzir calçados com preços mais acessíveis”, explica Júnior César Silva, vice-presidente do Sindicato da Indústria de Calçado de Nova Serrana (Sindinova) e dono de uma das fábricas instaladas no município,a Cromic. Segundo ele, em 2017 a situação do setor continuou difícil, com queda de 5% no faturamento até novembro.
Apesar de um fim de ano difícil, 2018 começou com boas perspectivas e com a abertura de vagas em várias fábricas de calçados de Nova Serrana. “Os primeiros contatos de lojistas têm sido muito positivos, com a percepção de aumento na demanda por produtos e boas vendas no período do Natal. Em comparação com o início de 2017, quando eram muitas incertezas sobre quando o mercado começaria se recuperar, sem dúvida estamos em um momento melhor. Se essa tendência se concretizar podemos alcançar em breve o número de empregos de 2014, no momento pré-crise”, aposta Júnior César.
Volta às obras
Em Pará de Minas, um dos maiores abatedouros da região – Cooperativa dos Granjeiros do Oeste de Minas Gerais (Cogran) æcomeçou no ano passado a desengavetar um projeto que estava parado desde 2015. Para manter a produção durante a crise econômica, a empresa optou por reduzir o preço dos produtos, mas, ainda assim, foi preciso congelar o plano de expansão e demitir funcionários.
“Quando a crise começou, estávamos no início das obras de nossa quarta unidade, uma indústria de suínos. Não sabíamos como seria o mercado dali para frente e preferimos segurar para não gastar capital próprio e descapitalizar a empresa. Ficamos dois anos com obras paradas”, conta Paulo Henrique Simão Pena, gerente industrial da granja. O reaquecimento do consumo e das vendas fez com que o projeto de ampliação fosse retirado da gaveta em 2017 e a previsão é que a nova fábrica seja inaugurada em junho. A empresa abriu processo para preencher 100 vagas da nova unidade.
História de superação e ousadia
Aos 70 anos, Maria das Dores não pensa em deixar a fábrica da MX-72 que criou em 1989. Embora a empresa seja conduzida por dois filhos dela, a empresária-costureira acompanha de perto a produção das camisas que são vendidas para vários estados do país. Ele admite que nunca pensou que o trabalho que começou praticamente sozinha, no fundo de seu quintal, se tornaria uma das maiores fábricas de vestuário de Divinópolis, com mais de 500 funcionários. Em 2018, a empresa voltou a crescer e mais 100 trabalhadores devem ser contratados.
“Comecei tendo apenas minha irmã como parceira. Ela era enfermeira e trabalhava à noite, então podia me ajudar durante o dia. Até então eu trabalhava lavando roupa para hóspedes de um hotel aqui de Divinópolis, mas, ao mesmo tempo, ia mexendo com minhas costuras e bordados que aprendi com minha mãe”, lembra Maria das Dores.
Ela começou produzindo jogos de cozinha com tecido que buscava em Itaúna – “Hoje acho que as pessoas nem usam mais esse tipo de coisa, mas antigamente era ótimo para enfeitar a cozinha” – e o sucesso entre vizinhas foi um grande incentivo para dar o próximo passo. “Resolvi então produzir calcinhas e depois passei a fazer camisas. Era tudo bem artesanal, mas os bordados eram caprichados e as pessoas gostavam muito”, conta Maria das Dores. Em três meses a produção passou de 100 peças para 500 e ela contratou outras três costureiras.
Este ano – quase 30 anos depois da inauguração e com 500 funcionários a mais – a empresa volta a planejar o aumento da produção e de seu quadro de funcionários. “Hoje não conseguimos atender alguns clientes porque não temos produção suficiente. Já investimos em maquinário de alta tecnologia para acelerar a confecção e com as duas novas células que estamos abrindo poderemos alcançar mercados em mais cidades do Brasil”, explica Eugênio Humberto Pacelli, gerente comercial da camisaria.