Rio de Janeiro – Uma empresa do Recife desenvolveu uma tecnologia de geolocalização que transforma o smartphone num super GPS e aumenta o potencial de monetização para anunciantes. Fundada por ex-alunos de ciência da computação da Universidade Federal de Pernambuco, a In Loco permite conhecer e prever o comportamento dos consumidores com inédito grau de precisão.
A tecnologia processa e determina a localização do usuário com grau de acerto de dois ou três metros. Para efeito de comparação, trata-se de uma precisão 30 vezes maior que o GPS usado pelo Waze ou Google Maps. Mais: a tecnologia consome 3 mil vezes menos bateria que um GPS tradicional, permitindo que o algoritmo fique rodando non-stop. Ao longo de um dia, a aplicação da In Loco consome 0,5% de uma carga de bateria.
Atualmente, a tecnologia da In Loco está embarcada em 60 milhões de smartphones no Brasil (por meio de mais de 600 apps), mas a ambição da companhia é global. A In Loco já está em 3,5 milhões de smartphones nos Estados Unidos e deve chegar a 10 milhões em março.
Até agora, a In Loco desenvolveu três aplicações para sua tecnologia. A primeira delas, a In Loco Media, permite a anunciantes obter mais assertividade em suas campanhas e já tem clientes como Pizza Hut, Jeep, Coca-Cola, Mondelez e Boticário. A ideia da In Loco é passar a cobrar dos clientes um CPV (custo por visita à loja física) em vez do famigerado CPM (custo por mil) cobrado nas campanhas do Google e Facebook.
O cliente só paga à In Loco se o usuário for atraído até sua loja e ficar ali mais de cinco minutos. “Um cliente nosso comparou o CPV a um contrato de ‘success fee’ em que os dois lados ganham,” diz Adrian Ferguson, que se juntou à In Loco Media no ano passado depois de 27 anos no mercado publicitário.
A segunda aplicação, o Engage, é uma ferramenta de CRM que permite a companhias identificar o contexto ideal para interagir com seus clientes por meio do aplicativo. Por exemplo, a partir dos insights da In Loco, um aplicativo de táxis descobriu que não estava engajando seus clientes em locais como aeroportos e bares. De posse do diagnóstico, o app começou a fazer promoções usando a geolocalização e conseguiu aumentar o número de corridas.
A terceira aplicação, o In Loco ID, previne fraudes a partir do conhecimento dos hábitos do usuário, e já está sendo usada por dois bancos digitais.
Como quase toda startup, a In Loco já flertou com o desastre. Quando foi fundada em 2013, a companhia levantou recursos junto à Naspers para durar dois anos, mas acabou focando sua tecnologia num produto com uso limitado: serviços de geolocalização, tendo shopping centers como o cliente final. Quando faltavam dois meses para o dinheiro acabar, a In Loco fez o movimento que a salvou da extinção: lançou um novo produto, focado em publicidade, que começou a gerar caixa quase imediatamente.
Em 2015, a companhia faturou US$ 1,5 milhão. No ano seguinte, US$ 5 milhões e, no ano passado, US$ 12 milhões.
À frente de Google e Facebook
A In Loco está fazendo avanços num terreno que tem sido pedregoso para as maiores companhias do Vale do Silício. O Google chegou a ter 150 engenheiros trabalhando para desenvolver uma tecnologia de localização, mas o projeto foi descontinuado em 2017.
Agora, o Google está investindo em outra tecnologia chamada beacon, que depende da instalação de um dispositivo bluetooth para viabilizar a localização. Há dois problemas: o custo do hardware e o fato de menos de 5% das pessoas com smartphones usarem o bluetooth o tempo todo.
Segundo André Ferraz, sócio da In Loco, para conseguir o mesmo mapeamento (em quilômetros quadrados) que a sua empresa oferece hoje, a tecnologia beacon demandaria um investimento de US$ 10 bilhões.
No ano passado, o Facebook abriu uma competição para desenvolvedores de indoor location e teve 6 mil inscritos: o melhor deles obteve 60% da precisão da In Loco. Finalmente, a Apple comprou duas empresas de indoor location technology (uma americana em 2011 e uma israelense em 2014), mas ainda não lançou nenhum produto.