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Estado de Minas

Fabricante da armas Taurus avança até sob pressão

Questionada na Justiça sobre a qualidade de seus produtos, a fabricante gaúcha de armas enfrenta teste para melhorar imagem. Mesmo assim, vendas crescem no Brasil e no exterior


postado em 19/02/2018 12:00 / atualizado em 19/02/2018 10:55

Loja de armamentos nos Estados Unidos, principal mercado da produtora brasileira de armas(foto: Reprodução da internet)
Loja de armamentos nos Estados Unidos, principal mercado da produtora brasileira de armas (foto: Reprodução da internet)

São Paulo – A bandeira de uma parte do Congresso Nacional pela flexibilização do Estatuto do Desarmamento e o crescimento do número de candidatos pró-armamento já vinham sendo observados com atenção não apenas pelas ONGs que defendem as restrições atuais, mas principalmente por empresas ligadas direta ou indiretamente a essa indústria. Agora, com a decisão do governo federal, anunciada na sexta-feira, de recorrer à intervenção militar no Rio de Janeiro para conter a onda de violência, esse movimento pode ganhar apoio. Se a pressão por mudanças no Estatuto do Desarmamento crescer, empresas que produzem armas e munições serão diretamente beneficiadas. A Taurus, maior fabricante de armas da América Latina, é conhecida pelo grande volume exportado. No terceiro trimestre de 2017, 13,15% da sua receita total veio de contratos assinados no mercado interno. A maior parte ainda vem das exportações, principalmente para os Estados Unidos.

Apesar de toda a visibilidade como grande exportadora para o mercado americano, nos últimos anos a empresa tem se deparado com uma sequência de dificuldades e por isso pode não tirar vantagem de políticas pró-armamentistas, como seria de se esperar. O problema mais grave enfrentado pela empresa gaúcha diz respeito a acusações de falhas em suas armas. O Exército já suspendeu a compra de alguns modelos fabricados pela Taurus e a companhia vem enfrentando processos em vários estados onde seus equipamentos são usados pelas polícias.

Depois de algumas denúncias pontuais nos últimos anos, em novembro passado, o Ministério Público Federal pediu uma investigação contra a Taurus porque, segundo os promotores, foram registrados disparos acidentais e defeitos de fabricação em seus produtos, o que oferece risco para quem tem de carregar as armas. Em Goiás, a Polícia Militar tirou 2,5 mil armas de circulação. Na ocasião, a fabricante informou que recorreria, “até porque a Polícia Militar de Goiás foi a responsável por elaborar a especificação do armamento e fazer o recebimento das pistolas, sobre as quais nunca havia apresentado objeções e que utilizou por cinco anos”.

Em Sergipe, o MPF pediu que seja retirada a restrição à importação de armamento e munições e que 10 modelos de armas produzidas pela Taurus sejam recolhidos para reparos, substituição ou indenização. Com o crescimento das denúncias, o inimigo da fabricante pode estar no mercado interno.

Em 2016, antes de se intensificarem as queixas sobre falhas nos equipamentos, a Taurus já tinha enfrentado outro problema. Dois ex-executivos ligados à área de exportação foram denunciados pelo Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul por vender armamento a um traficante do Iêmen, que teria enviado o carregamento ao seu país, em guerra civil, o que é considerado um ato de violação a sanções internacionais. Na época, a empresa negou envolvimento.

Reestruturação Nesse intervalo, em 2015, a empresa colocou de pé um plano de reestruturação com o objetivo de reduzir sua dívida e aumentar a produção. Mas as queixas sobre seus produtos aumentaram e criaram uma pressão interna na empresa no sentido de recuperar a imagem arranhada. Pouco antes da virada do ano, a Forjas Taurus, que tem suas ações negociadas na bolsa paulista, anunciou a renúncia do presidente, Marco Aurélio Salvany, e do diretor financeiro e de relações com investidores, Thiago Piovesan. O motivo não foi informado no fato relevante divulgado pela companhia. Para o cargo de Salvany foi nomeado Salesio Nuhs, diretor de vendas e marketing, que passou a acumular a diretoria de RI. O conselho de administração decidiu ainda eleger mais dois executivos, Eduardo Minghelli e Ricardo Machado, como diretores sem designação especial.

O novo comandante da Taurus é bastante conhecido no mercado de armas e munições, onde atua há 27 anos. Nuhs é presidente da Associação Nacional de Armas e Munições (Aniam) desde 2012. Além disso, o executivo integra o Conselho Consultivo do Sistema de Fiscalização de Produtos Controlados do Exército Brasileiro. Ele teria sido escolhido para reestruturar a companhia. A empresa foi procurada, mas não retornou o contato.


A força do mercado americano

A gaúcha Taurus tem nos Estados Unidos seu principal mercado. Segundo dados do balanço do terceiro trimestre de 2017, de uma receita líquida total com a venda de armas de R$ 182,5 milhões no período, R$ 142,7 milhões vieram das vendas para compradores americanos. O mercado doméstico aparece em segundo lugar, com uma receita de R$ 24 milhões. Os demais países apresentaram vendas de R$ 15,8 milhões.

O mercado americano é tão peculiar que durante a Black Friday, principal data de promoções do comércio, foi registrado um recorde histórico de consultas sobre antecedentes criminais ao FBI (o Federal Bureau of Investigation, ou Gabinete Federal de Investigação) em um único dia, com o objetivo de efetivar a venda de armas. Segundo o FBI, foram 203.086 pedidos, 10% a mais do registrado no ano anterior.


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