A expectativa frustrada nas filas das agências de emprego leva os brasileiros a um mundo inusitado, e porque não admitir também criativo, de profissões típicas dos bicos sempre procurados em momentos de crise na economia.
Que tal tentar uma oportunidade como psicólogo de cachorro, tocador de cavaco, técnico DTH, aquele instalador que ajusta a TV para que o aparelho receba o sinal digital, ou, ainda, trabalhar como gasista, o prestador de serviços de manutenção de tubulações de gás?
Essas e outras funções aparentemente curiosas são algumas das campeãs das ofertas nada comuns de vagas, mas que podem interessar aos candidatos num momento em que o nível de desocupação no país resiste a cair.
O Brasil contou o recorde anual de 13,2 milhões de desempregados em 2017, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Outro reflexo das dificuldades de quem procura uma ocupação e se vê forçado a recorrer aos bicos é que, pela primeira vez, o número de trabalhadores por conta própria e sem a carteira de trabalho assinada, de 33,390 milhões de pessoas, ultrapassou o grupo dos empregados formais, ou seja, com registro, que foi de 33,321 milhões.
Para conseguir um lugar ao sol e garantir o ganha-pão, o brasileiro tem se virado, como mostra levantamento das profissões mais inusitadas feito pelo aplicativo iPrestador, que identificou os bicos mais estranhos que os interessados buscam no site.
De acordo com Ronaldo Barros, um dos sócios-fundadores da ferramenta, a plataforma tem 5.500 profissionais cadastrados. Desse total, 6% são de Minas Gerais. Ele acredita que a crise pela qual passa o país, com baixa de oferta de trabalho formal, contribui para o número crescente de profissionais que aceitam fazer trabalhos eventuais.
A função de psicólogo de cachorro pode parecer algo fácil, mas está longe disso e exige muito aprendizado do candidato, pois consiste em tentar resolver situações adversas envolvendo o animal, inclusive o que sofre de algum transtorno. Há ainda a possibilidade de encontrar emprego como gasista. Esse profissional é demandado para fazer manutenções e instalações de tubulações de gás e também a troca de botijões.
Algumas oportunidades surgem para durar pouco tempo. Um bom exemplo é a troca do sinal analógico das TVs abertas e a incorporação da qualidade digital na transmissão, que gerou o bico de técnico DTH, abreviatura do termo direct to home na expressão em inglês. Essa é a denominação para aquele trabalhador que instala a antena e faz os ajustes para que o aparelho receba a programação das emissoras na nossa tecnologia.
Outra leva de profissões eventuais, contudo, bem-vindas, é capitaneada, segundo Ronaldo Barros, pela mudança de comportamento do consumidor com o orçamento encolhido. “A crise gerou um comportamento que tinha se perdido, de reformar aquilo que quebrou. A TV quebrou? Antes ela seria jogada fora; o sapato perdia a sola e, normalmente, comprava-se outro. Com a crise, a gente vem notando opção maior em reformar esses objetos”, conta.