São Paulo – A sobretaxa ao aço importado, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no dia 1º de março e formalizada ontem, provocou forte reação entre os executivos das siderúrgicas brasileiras. Depois do fracasso da comitiva de empresários, liderada pelo ministro interino da Indústria e Comércio, Marcos Pereira, que viajou na semana passada a Washington para tentar escapar da sobretaxa, as entidades da indústria do aço e do alumínio (que também foi atingida pela medida) vão sugerir ao governo brasileiro a criação de uma tarifa extra no mesmo percentual para o aço importado pelo Brasil.
“O que podemos fazer é aplicar, por exemplo, uma mesma sobretaxa ao aço importado. Lá (nos Estados Unidos) aplicou-se 25%, aplicam-se os mesmos 25% aqui. Seria uma saída. Mas é só uma ideia. Não somos a favor da retaliação. Só queremos proteger o mercado interno de aço”, diz Sérgio Leite de Andrade, presidente da Usiminas. A ideia de Andrade é compartilhada por outros empresários, que consideram que a sobretaxa vai causar um desequilíbrio no comércio mundial."Um das sugestões é essa: aplicar a mesma sobretaxa pelo tempo que durar a medida americana. Aí estamos praticando a isonomia. Eles põem 25%, nos colocamos 25%. Equilibrou. Essa é a nossa visão. Queremos equilíbrio, diálogo, busca de entendimento"
Sérgio Leite, presidente da Usiminas
O executivo salienta que uma medida do governo brasileiro no sentido de sobretaxar o aço trazido de fora é apenas uma sugestão, que poderia ter a mesma duração da sobretaxa americana. “Uma das sugestões é essa: aplicar a mesma sobretaxa pelo tempo que durar a medida americana. Aí estamos praticando a isonomia. Eles põem 25%, nós colocamos 25%. Equilibrou. Essa é a nossa visão. Queremos equilíbrio, diálogo, busca de entendimento”, reforça o executivo, lembrando que as autoridades brasileiras devem continuar conversando com o governo americano por meio dos canais oficiais ao longo do tempo.
Para Andrade, pode haver até uma revisão do próprio governo americano, hipótese que não deve ser descartada. “Assim como o presidente Trump tomou uma decisão dessas, daqui a dois meses pode reverter, ou tirar o Brasil”. O Brasil é o segundo maior exportador de aço para o mercado americano e, no ano passado, 32% das vendas externas tiveram como destino os Estados Unidos. No total, foram 15,4 milhões de toneladas, sendo cinco milhões desembarcadas na terra de Trump. Desse volume, cerca de 80% são de produtos semiacabados, segundo dados do Instituto Aço Brasil.
Alexandre Lyra, presidente do conselho diretivo do Instituto Aço Brasil, entidade que representa a indústria siderúrgica, diz que o setor teve o pior desempenho da história em 2016 e iniciou uma recuperação em 2017, puxado pela retomada da atividade na indústria automotiva. Mesmo assim, as siderúrgicas têm operado com 35% de capacidade ociosa.
Segundo ele, o Brasil não tem conseguido exportar produtos finais por conta das medidas antidumping contra o aço acabado brasileiro. Um exemplo disso é a própria Usiminas, que foi sobretaxada e acabou exportando apenas 1% de suas vendas externas no quarto trimestre de 2017. “A decisão dos EUA de sobretaxar é porque consideram que o produto chega com preços anticompetitivos”, diz Lyra.
Analistas observam que, antes do anúncio da sobretaxa, o aço brasileiro vinha ganhando espaço no mercado americano ano a ano, tanto em volume quanto em produção, por conta dos ganhos de competitividade das siderúrgicas brasileiras. Talvez, por conta disso, o Brasil tenha sido incluído na lista dos países que foram sobretaxados.
OFERTA A taxa extra que atinge o aço e também o alumínio, de acordo com empresários e especialistas, deve forçar uma redução nos preços dos produtos a nível internacional, e redução de margens. Nos EUA, o efeito deve ser o oposto, com aumento nos preços. “Essa sobretaxa não vai modificar o panorama de oferta mundial. Seria ingênuo achar que a indústria chinesa, que exporta para o mundo inteiro, vai diminuir a sua produção. Não vi. O que vai fazer é tentar colocar essa produção em outros países. O excesso de oferta não ficará na China”, afirma Milton Rego, presidente executivo da Associação Brasileira do Alumínio (Abal).
O executivo da Abal lembra que, durante o período de vigência das sobretaxas do aço e do alumínio, o custo vai aumentar, o que já está acontecendo com os preços. A grande questão, diz ele, nem são as exportações de alumínio brasileiro para os EUA, porque o setor não é um grande exportador. “O problema é que a maior oferta de alumínio vai pressionar as exportações brasileiras. Somos um grande exportador de alumínio, por exemplo, para a América Latina e é óbvio que teremos mais dificuldade de colocar nosso produto nos países latinos”, lamenta ele.