O Brasil, que depois do Canadá é o maior fornecedor de aço para o mercado norte-americano, prepara recursos a dois órgãos do governo dos Estados Unidos, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Pedirá para ser incluído na lista de isenções à sobretaxa das importações do alumínio e do aço, anunciada pelo presidente Donald Trump na quinta-feira. Eles serão apresentados ao Departamento de Comércio dos Estados Unidos (instância governamental) e ao Representante de Comércio dos EUA (órgão responsável por desenvolver a política comercial do país).
Os pedidos têm de ser encaminhados em até duas semanas, que é o prazo para a medida entrar em vigor. Trump impôs tarifas de 25% sobre importações de aço e 10% sobre o alumínio, com a justificativa de conter importações baratas, principalmente da China. Canadá e México, membros do Tratado Norte-Americano de Livre-Comércio (Nafta), que está em renegociação, ficaram de fora da medida por tempo indeterminado.
O ministro interino da Indústria e Comércio Exterior, Marcos Jorge, disse, durante reunião em Assunção, no Paraguai, que, se aplicada, a medida terá impacto significativo na economia brasileira. “O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os EUA e, somente no ano passado, o comércio gerou US$ 2,6 bilhões.” O presidente norte-americano disse, no entanto, que “amigos reais” dos Estados Unidos poderiam ganhar isenções das medidas, que entram em vigor no dia 23.
Segundo Marcos Jorge, “já que foi aberta a possibilidade de recurso”, o Brasil vai recorrer. “E, se necessário for, em todas as instâncias, inclusive multilaterais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC)”, disse o ministro.
BARREIRA
A decisão do governo americano terá duas consequências diretas para o Brasil. Além do efeito sobre as exportações, representantes do setor e analistas já se preocupam com outro problema. Com a barreira imposta pelos Estados Unidos, o mercado brasileiro pode se tornar destino de outros produtores, o que pode causar excesso de oferta e queda de preços por aqui, com prejuízo para a indústria siderúrgica nacional.
Segundo estimativa do Instituto Aço Brasil, o mundo tem hoje um excedente de 750 milhões de toneladas de aço. Como o país não tem barreiras tarifárias para o produto, pode ser impactado por outros produtores. “Os EUA importam 30 milhões de toneladas que vão deixar de importar. Para onde vai esse aço? Vai para onde tiver maior facilidade de entrar. Temos que ter rapidez e eficiência em estabelecer uma barreira para essa entrada também”, defende Marco Polo de Mello Lopes, presidente-executivo do Instituto Aço Brasil.
Na avaliação de José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), Coreia do Sul, Rússia, Japão e China são os principais produtores que podem direcionar seu fluxo de vendas para o país. “Vamos servir de opções para outros mercados que vão deixar de exportar para os EUA. Em janeiro, foi aprovada a sobretaxa para China e Rússia, mas a aplicação foi adiada” explica.