São Paulo, 17 - A sobretaxa que será implementada nos Estados Unidos, a partir da próxima sexta-feira, na importação de aço e alumínio não deve desencadear uma guerra comercial, na avaliação do economista-chefe do Santander, Mauricio Molan. Para ele, mesmo que os países tentam aplicar medidas de retaliação, historicamente esses movimentos protecionistas não costumam ser duradouros. "A visão que persiste é a que a abertura favorece mais as economias", afirma. "Medida (protecionista) é contraproducente."
No Brasil, diz Molan, a política de Donald Trump deve afetar apenas o setor exportador de aço, responsável por 1% dos embarques do País. “A economia brasileira é muito maior do que esse segmento”. A seguir, trechos da entrevista.
Uma guerra comercial é iminente?
A probabilidade é baixa. Esse tipo de medida (sobretaxação de importação) é contraproducente para o próprio país que a adota: eleva os preços internos e piora a competitividade. Reduz o bem estar menor da sociedade e beneficia apenas um setor específico. Esse tipo de medida não deve se espalhar.
Os outros países não podem responder ao Trump com medidas retaliatórias?
Alguns países podem tentar. Isso levaria a um fechamento maior das economias, mas todas as medidas de retaliação que começam a ser cogitadas são pouco relevantes. A história mostra que movimentos (protecionistas) tendem a ser esporádicos e que, no longo prazo, persiste a visão de que a abertura favorece mais as economias. Por exemplo, o maior prejudicado das medidas relacionadas ao aço será a indústria automobilística americana. O preço do aço aumentará no mercado domestico.
Para o Brasil, qual o impacto?
O Brasil exporta algo como US$ 2 bilhões em aço para os EUA. Então pode ter um impacto nas exportações, que são ao redor de US$ 200 bilhões. Mas é um impacto que tende a ser concentrado no segmento. Pode haver redução de preço de ações (das empresas do setor), mas de forma geral não é algo que ameace o cenário macro. A economia brasileira é muito maior do que o segmento de exportação de aço.
Falando em Brasil, o PIB do País cresceu 1% em 2017, puxado pelo agronegócio e pelo consumo alavancado pela liberação do FGTS. Diante disso, dá pra dizer que existe uma trajetória sólida de recuperação?
Sim. A hora que a gente vê o filme, ele é bem melhor que a foto. A recuperação de investimentos foi bastante importante no fim de 2017. O consumo está crescendo e a expansão industrial se consolidou no segundo semestre. Para 2018, a situação é ainda melhor. Projetamos crescimento de 3,2%.
Para 2018, vocês têm um cenário claro. Para 2019, as eleições tornaram as projeções mais incertas?
A gente se baseia na hipótese de que o crescimento econômico (de 2017 e 2018) vai levar a um apoio por parte dos eleitores a propostas reformistas, a um projeto que seja consistente com ajuste fiscal, controle de inflação e baixo nível de intervenção do governo, que foram os ingredientes para a retomada. Por isso, temos uma projeção também favorável para 2019, de novo de 3,2%.
O crescimento do PIB até agora não é muito baixo e o desemprego alto para o eleitor sentir uma diferença e acreditar nessa proposta reformista?
Em termos de números, sim, o crescimento foi pequeno. Mas temos o componente de expectativas. O otimismo já melhorou bastante. Outra coisa é que, no segundo trimestre de 2018, os números de crescimento vão ser mais favoráveis do que os que estamos vendo agora. As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.
(Luciana Dyniewicz)