O governo de Minas lança nesta segunda-feira oficialmente o programa +Artesanato, a primeira política pública voltada para o setor no estado, envolvendo uma série de ações destinadas a apoiar e impulsionar a atividade.
Estima-se que o estado tenha hoje cerca de 300 mil artesãos e artesãs e que o trabalho deles movimente aproximadamente R$ 300 milhões por ano. O lançamento está sendo feito numa data especial, uma vez que hoje é comemorado o Dia Nacional do Artesão.
Além de reunir todas as ações do Estado para o setor, o programa +Artesanato também será responsável pela elaboração do Plano Quadrienal de Desenvolvimento do Artesanato de Minas Gerais.
Com as duas iniciativas, as ações serão coordenadas para incentivar a formalização e a organização da cadeia produtiva formada por artesãos e associações e no sentido de preservar a tradição artesanal, identidade local e senso de comunidade.
Neste ano, grupos de trabalho constituídos para definir as diretrizes do plano e o Comitê Gestor do programa estarão envolvidos na promoção de eventos e fóruns para debater e divulgar suas ações, acompanhar e apoiar as iniciativas necessárias à sua implementação.
A 2ª Semana do Artesanato Mineiro contará com mutirão de cadastramento na Penitenciária Feminina Estevão Pinto, entrega da Carteira do Artesão, lançamento do Portal do Artesão, abertura de exposição e lançamento de livro, entre outras destaques da programação.
Para o subsecretário da Secretaria Extraordinária de Desenvolvimento Integrado e Fóruns Regionais (Seedif) e coordenador do programa +Artesanato, Pedro Leão, o estado gera oportunidade para o artesanato e oferece uma resposta dinâmica à crise econômica que também afeta artesãos e artesãs.
"O + Artesanato vem para pagar uma dívida histórica com um setor de quase meio milhão de mineiros. Retiramos o artesão do ‘coitadismo’ e o colocamos como vetor de desenvolvimento econômico”, afirma Pedro Leão.
Mostra da importância que a nova política estadual ganhou, o governador Fernando Pimentel entregou à artesã Cecília Matias do Carmo Ferreira, de Ouro Preto a Carteira Nacional do Artesão.
Aos 80 anos, nascida e criada na cidade histórica da Região Central de Minas Gerais, Cecília, que é conhecida pelo seu trabalho manual de ponto de arraiolo, recebeu a visita de Pimentel em seu ateliê.
Criada em 2012 pelo pelo Programa do Artesanato Brasileiro (PAB), do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), a carteira do artesão regulamenta a atividade artesanal e possibilita que o titular do documento tenha acesso a cursos de capacitação, feiras e eventos ligados ao artesanato.
“Além de ter uma identidade como artesão, profissionalizado o trabalho, ela (a carteira) concede direito a crédito nos bancos oficiais, além de descontos para o artesão em diversos estabelecimentos”, explicou o governador.
Pimentel destacou que à época em que o documento foi instituído, quando ele ocupava o cargo de ministro da Indústria e Comércio Exterior, durante o governo da presidenta Dilma, não havia nenhum projeto de apoio à arte popular no país.
Com 56 anos de experiência na produção de tapetes, colchas e demais produtos artesanais com os chamados pontos de arraiolo, dona Cecília se tornou referência em Ouro Preto nessa técnica secular, característica da vila de Arraiolos, no Alentejo, em Portugal.
A artesã vende seu produto nas feiras e lojas de Ouro Preto, além de participar de exposições em outras cidades. “Essa carteira significa muito para a gente, que somos pessoas trabalhadoras. Agora todo mundo pode ver que o nosso serviço é garantido, que sou eu mesma quem faço. É tudo feito à mão. Isso dá muito mais valor ao nosso trabalho. Tem trabalho que dura oito, nove meses para terminar. É feito ponto por ponto”, contou dona Cecília.
Renda e identidade
O programa +Artesanato foi também bem recebido entre artesãos do estado. Edgard Giarola, de Juiz de Fora aplica todo o seu talento na produção de caixas organizadoras para joias, relógios, óculos e canetas e, graças à ações de incentivo, expõe seu trabalho em feiras, eventos primordiais para garantia de renda e divulgação da arte popular feita no estado. “Vivemos do trabalho de nossas mãos e este apoio é de grande importância, pois sem investimento muitos artesãos não dariam vida a seu dom”, comenta Giarola.
Outra artesã que está feliz com o programa lançado pelo governo estadual é Elisabete Rosa Soares, presidente da ECO Ações Unidas, nome fantasia da Associação de Artesãos do Bairro Boa Vista (AABBV), em Belo Horizonte.
“O aluguel de stands para a exposição do trabalho dos artesãos tem um valor elevado. Na Feira Nacional de Artesanato, por exemplo, o metro quadrado vale R$ 350 e, na condição financeira do nosso artesão, seria quase impossível arcar com esse custo. Assim, o apoio para custeio à participação em feiras e exposições é fundamental”, destaca.
Ao abrir a 28ª Feira Nacional de Artesanato, em dezembro de 2017, no Expominas, o governador Fernando Pimentel falou da importância do trabalho dos artesãos para Minas.
“O artesanato faz parte da nossa cultura, da nossa tradição. Vou mais fundo. Faz parte da nossa alma. O artesanato, no fundo, nunca esteve no centro das preocupações do governo, e agora está”, disse. Segundo ele, o artesanato retrata aquilo que Minas representa.