Ao percorrer localidades rurais do Vale do Jequitinhonha, a reportagem do Estado de Minas constatou que a quantidade de pessoas nas casas diminuiu significativamente, não somente por causa da saída dos homens para o corte de cana e para a colheita de café. Houve uma redução da taxa de natalidade. As famílias numerosas, de sete, oito ou mais filhos do passado, foram substituídas por núcleos bem menores.
“De fato, hoje as famílias são pequenas, de dois ou três filhos, no máximo. As mulheres aprenderam a evitar ter filhos”, afirma Eliete Silva Meira, agente de saúde do distrito de Cansanção, em Minas Novas. Ela informa que na unidade de saúde é feita a distribuição de anticoncepcionais, com a orientação aos casais sobre o planejamento familiar.
Além da orientação pelo serviço de assistência à saúde, a redução do tamanho das famílias é influenciada pela questão econômica. Casada há cinco anos, a lavradora Edileusa Soares Alves, de 30, da comunidade de Gravatá, em Chapada do Norte, é mãe de Mikaelly, de 4, e de Guilherme, de 10 meses. Já a mãe dela, Maria do Rosário Soares, de 68, teve sete filhos. Edileusa confessa que, “se pudesse”, também teria uma prole numerosa. “Mas a vida está muito difícil”, afirma a mulher.
Edileuza também é uma das “órfãs da cana”. Recorda-se que durante toda a infância teve pouco contato com o pai, Joaquim Alves Soares, de 74, que, durante quase três décadas, viajava para o corte de cana no interior de São Paulo, onde permanecia na maior parte do ano, longe da mulher e dos sete filhos. “Todo ano meu pai sumia e ficava nove meses fora. Quando ele chegava, a gente estranhava.
”A situação dela foi herdada pelos dois filhos. Desde que se casou, há cinco anos, o marido, Milton Alves Barroso, de 35, migra para buscar o sustento em outras regiões. Ele já esteve no corte de cana. Este ano, o destino de Milton será a colheita de café no interior paulista.
MAIS IDOSOS A professora Gildete Soares Fonseca, do Departamento de Geociências da Unimontes, lembra que há uma tendência da queda de fecundidade em pequenos municípios que sofrem com a saída de jovens em busca de empregos, apresentando taxas mais elevadas de idosos, como já se observa no Vale do Jequitinhonha. (LR)