Durante 22 anos seguidos ele saiu para o serviço temporário nos canaviais. Hoje, está desempregado. “Sempre vivi do corte de cana, mas as usinas acabaram com a queima da cana. Mecanizaram tudo e não levam mais ninguém”, lamenta Edgar, mostrando várias carteiras de trabalho com o registro de contratos temporários nas usinas de açúcar e álcool, quase todas no interior de São Paulo, onde a mecanização avançou desde 2014.
Este ano é o primeiro no qual ele não viajará para cortar cada, em mais de duas décadas. Com o dinheiro do esforço no corte de cana em São Paulo comprou moto e um lote, construiu casa e montou até um bar na Vila São José, hoje fechado devido à falta de dinheiro no lugarejo. “Aqui é assim: um dia você come direito, no outro, não, pois a dificuldade é demais”, afirma. “Pretendo ir para a colheita de café, mas também está difícil, porque ela também está sendo mecanizada”, comenta Edgar. O mesmo drama é enfrentado pelo irmão de Edgar, Archiles Batista, de 36, que viajou para o corte de cana durante nove anos seguidos e, agora, está desempregado. “Nem sei como vou viver. Na nossa região não tem emprego”.
MIGRAÇÃO
O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Araçuaí não tem números sobre o impacto da mecanização na migração de mão de obra da região para lavouras em outras cidades mineiras ou em São Paulo. Porém, segundo o diretor Warciso Jorge dos Santos, a estimativa é de que somente em Araçuaí e outras cinco cidades próximas 3 mil trabalhadores que saíam anualmente para o corte de cana agora têm de buscar trabalho nas lavouras de café ou outra opção de renda.
Pablo Dias Campos, de 23, morador de Araçuaí, relata que no ano passado, pela primeira vez, viajou para o corte de cana em uma usina no interior do Rio de Janeiro. Gostou da experiência e do dinheiro que ganhou. Em dezembro, retornou a Araçuaí para rever a mulher e as duas filhas, uma de 6 e outra de 4 anos. Tinha esperança de trabalhar novamente neste ano. No entanto, está desempregado, sobrevivendo de bicos. “Está difícil conseguir emprego. A saída do pessoal para o corte de cana diminuiu. As usinas só levam agora aquelas mais experientes, com muitos anos de registro em carteira, o que eu não tenho”, lamenta Pablo. (LR)