São Paulo – O Yahoo é um caso único no mundo digital. Poucas empresas fizeram sucesso tão rápido e tiveram, na mesma proporção, um declínio tão avassalador. Em menos de uma década, deixou de ser uma gigante de tecnologia rentável e invejada pelos rivais para ser uma corporação pesada e incapaz de inovar. Agora, diante das dificuldades em seu negócio original, começa a investir em inesperadas frentes. De acordo com o portal de notícias japonês Nikkei Asian Review, o Yahoo aposta suas fichas no mercado de criptomoedas.
Trata-se de uma transação pequena diante de uma gigante que vende mais de US$ 3 bilhões em publicidade por ano, mas ela está carregada de simbolismos. “Significa que uma das pioneiras na internet começa, depois de muitos altos e baixos, a finalmente olhar para o futuro”, diz Eduardo Tancinsky, consultor especializado em marcas e tecnologia. “E o futuro certamente está ligado às criptomoedas.”
O Japão se tornou o mais importante mercado de moedas virtuais da Ásia depois de a China criar uma série de restrições para este tipo negócio. Fundada há um ano em Tóquio, a Bitarg é uma das 16 casas de câmbio de criptomoedas autorizadas no país. Mais importante ainda: seu volume de transações vem crescendo acima de dois dígitos a cada mês. Daí a escolha do Yahoo pelo mercado de criptomoedas japonês, um dos mais pulsantes do mundo.
Pesquisa recente realizada pelo Instituto de Pesquisa New R25 concluiu que 14% dos empresários japoneses entre 25 e 30 anos possuem criptomoedas e que mais da metade dos que ainda não investiram nelas pretendem fazer isso nos próximos meses. De acordo com outro levantamento, 30% dos japoneses estão entediados com investimentos tradicionais e gostariam de ter oportunidades para colocar seu dinheiro em áreas diferentes.
O Yahoo poderia ter escolhido uma casa de câmbio de criptomoedas em qualquer lugar do mundo, mas preferiu o Japão por um simples motivo: ao contrário do que acontece em escala global, a empresa ainda faz sucesso por lá. O Yahoo Japão é o quarto site mais popular do país, enquanto no mundo todo ocupa um tímido – especialmente para quem já foi líder de mercado – 40 º lugar.
Criado em 1994 por dois estudantes, Jerry Yang e David Filo, da Universidade Stanford, o Yahoo se tornou uma das empresas mais valiosas do mundo ao oferecer serviço de busca, e-mail e página de notícias – quando ninguém fazia isso. O sucesso estrondoso, e rápido demais, acabaria obscurecendo a visão de negócios dos dois sócios, incapazes de pensar no futuro.
Com o passar dos anos, eles cometeram o pecado original para corporações da área de tecnologia: a incapacidade de inovar. Para piorar, a concorrência veio pesada. O surgimento do Google, lançado em 1998, e do Facebook, em 2004, representou um duro, e até hoje não superado, golpe para o Yahoo.
Ameaçado por rivais agressivos e parado no tempo, o Yahoo perdeu bilhões de dólares em receitas e seguiu o caminho tradicional das empresas em dificuldades. Demitiu funcionários, reestruturou departamentos, redimensionou o negócio.
Em 2017, seus ativos foram vendidos para a Verizon, uma das principais companhias de telecomunicações dos Estados Unidos, por US$ 4,8 bilhões. O negócio, porém, não incluía o Yahoo Japão – o mesmo que investe agora em criptomoedas. Ao apostar em setores ainda pouco explorados como o de moedas virtuais, talvez o Yahoo reencontre o caminho que jamais deveria ter abandonado: o da inovação.
Leve recuperação
As receitas do Yahoo com publicidade digital (em bilhões de dólares)
Ano Valor
2015 3,32
2016 2,98
2017 3
2108 3,03 (projeção)
Google de olho
A tecnologia blockchain, que está por trás de transações de moedas virtuais como bitcoins, é a nova área de interesse do Google. Segundo a imprensa americana, a empresa mantém a sete chaves um projeto de desenvolvimento de sua própria blockchain e que poderia ser tão revolucionário quanto o próprio advento da internet. O projeto está ainda em fase inicial, devendo sair do papel apenas a partir de 2019.