São Paulo, 24 - A direção da Abimaq, entidade que representa a indústria nacional de máquinas e equipamentos, adiantou nesta terça-feira, 24, que, após o desempenho aquém das expectativas no primeiro trimestre, poderá rever para baixo as previsões de crescimento na faixa de 5% a 10% das vendas do setor se o mercado não reagir a partir de abril.
De janeiro ao mês passado, o faturamento das fábricas de bens de capital mecânicos teve leve aumento de 0,8% quando deveria já estar crescendo num ritmo de, pelo menos, 2%, disse o diretor de competitividade da Abimaq, Mário Bernardini, durante a apresentação dos resultados do setor em março.
"O primeiro trimestre é sazonalmente fraco. Mas março não é e não foi muito bom. Se abril também não for bom, terei um quadrimestre abaixo da expectativa e isso me obriga a rever a previsão", comentou Bernardini.
Durante a coletiva, dirigentes da entidade criticaram o aumento do custo dos financiamentos - superior a taxa de retorno dos negócios - após a mudança nos juros praticados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e apontaram baixa confiança das empresas. Juntos, esses fatores impedem que a melhora da produção industrial se traduza em retomada dos investimentos produtivos.
"As empresas investem quando têm horizonte de que vai ter demanda e que vai ganhar dinheiro com o investimento. Se não tiver certeza de que vai ganhar dinheiro, não programa investimento. A condição essencial é a expectativa de demanda e lucro", afirmou Bernardini. "Temos hoje um ambiente hostil ao investimento produtivo no Brasil", acrescentou.
Agenda de medidas
A Abimaq está entregando aos pré-candidatos à Presidência da República uma agenda de medidas de estímulo à industrialização, incluindo no documento propostas como o uso das reservas internacionais em instrumentos de proteção cambial (hedge) mais baratos para as empresas e maior competitividade bancária como caminho para reduzir os juros. "Os bancos seguem muito seletivos porque ainda têm condições privilegiadas de aplicação a risco zero. Hoje, os bancos são uma padaria que não precisa fazer pão", comentou o diretor de competitividade da Abimaq.
Ele defendeu ainda que o governo aproveite o momento de inflação abaixo do centro da meta para permitir a valorização do dólar, dando assim maior competitividade aos produtos nacionais. Segundo Bernardini, seria viável hoje para o Banco Central (BC) permitir que a taxa de câmbio "deslize" lentamente até a faixa de R$ 3,60 a R$ 3,80 - patamar mais competitivo para a indústria - sem grande custo para a sociedade ou estragos na inflação.
(Eduardo Laguna)