Ribeirão Preto (SP) - Esqueça a enxada, a foice e aqueles tratores antigos que puxavam arados. A agricultura brasileira está passando por uma transformação tecnológica, aumentando a produtividade e otimizando o trabalho no campo. Hoje em dia, é comum encontrar nas lavouras tratores e colheitadeiras modernas, com cabines pressurizadas, piloto automático e guiadas por GPS.
Além de softwares, que administram e planejam todas as fases do plantio à colheita, agora também são utilizados drones para identificar problemas na lavoura. Há uma infinidade de novas tecnologias que estão transformando a agricultura e trazendo cada vez mais ganhos de produtividade e redução de custos. “Essas últimas supersafras que colhemos começaram a ser plantadas há pelo menos 40 anos, no início da evolução tecnológica no campo”, diz Francisco Maturro, vice-presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e presidente da 25ª edição da Agrishow.
Considerada a maior feira de tecnologia agrícola da América Latina, e que prosegue até sexta-feira, em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, o evento se tornou referência quando se fala em evolução tecnológica no campo. Grandes e pequenas empresas (neste ano, mais de 800) trouxeram para a Agrishow o que há de mais moderno em termos de sistemas digitais, equipamentos e motores que serão utilizados no agronegócio nos próximos anos.
Werner Santos, vice-presidente de vendas e marketing da AGCO, dona de várias marcas de tratores e colheitadeiras, destacou que uma nova família de motores elétricos começa a chegar ao mercado, com transmissão eletrônica que permite trocas de marchas com maior rapidez. “Os motores se ajustam à velocidade e à carga desejadas”, diz ele, lembrando que até os pneus, dependendo do peso, serão calibrados automaticamente.
Num futuro próximo, afirma o executivo, e com a evolução dos sensores, “as máquinas vão entrar na lavoura para se regular automaticamente.” Segundo ele, os grandes produtores terão em breve frotas 100% autônomas. “Mais à frente teremos robôs nas lavouras para analisar as plantas.”
A John Deere, outra gigante no fornecimento de equipamentos e serviços aos produtores rurais, está de olho no futuro dos negócios que vão envolver o uso da tecnologia IoT (internet das coisas). Pesquisa realizada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e Comunicação estima que o impacto dessa tecnologia no campo atinja entre US$ 5 bilhões e US$ 21 bilhões até 2025. “Essa é a agricultura do futuro, e ela começa com o campo totalmente conectado”, afirma Paulo Herrmann, presidente da John Deere no Brasil, que anunciou o lançamento do Conectividade Rural, sistema que levará acesso à internet aos agricultores.
Em parceria com a Trópico, que produz equipamentos de telecomunicações, serão oferecidas torres de transmissão de acordo com o perfil de cada produtor, permitindo que ele esteja conectado à internet em locais que não são alcançados pelas operadoras móveis. “A conectividade rural representa a real conexão entre a lavoura, as máquinas e as pessoas”, diz Herrmann, acrescentando que, com a conexão garantida, o agricultor pode transferir o escritório para o campo e integrar todas as plataformas.
A exemplo do Google e de outros gigantes da tecnologia, a Solinftec, empresa que tem sede em Araçatuba (SP), criou a Alice, assistente virtual que utiliza um sistema baseado em redes neurais e que está sendo treinada para analisar grandes quantidades de dados e detectar padrões que escapam ao olho humano. “O objetivo é melhorar o rendimento, indicar quais seriam as melhores práticas e ajudar a programar as atividades de forma mais eficiente”, conta Daniel Padrão, CEO da empresa.
Gestão
Voltada para propriedades de 50 a 500 hectares, a Aegro trouxe para a feira um sistema de gestão que facilita a administração pelos produtores. Com custo de R$ 250 por mês, o programa pode ser instalado remotamente no computador ou no smartphone. Com ele é possível planejar a safra, fazer a gestão do maquinário, controlar o orçamento e o fluxo de caixa, monitorar pragas e controlar o estoque. “Nossa ideia é atender os produtores que estão procurando tecnologia, mas não têm muito dinheiro para investir”, afirma Pedro Martins Dusso, diretor-executivo da Aegro, pequena empresa de tecnologia que tem o apoio do fundo SPVenture.
Com mais de 200 clientes, a Aegro tem uma parceria com a Horus Aeronaves, que trabalha com drones, utilizados para mapear as propriedades e identificar problemas nas lavouras, como pragas e queda de produtividade. Com o conceito de fazenda digital, Dusso quer fazer com que os produtores se tornem “CEOs agro”, com capacidade de ler gráficos e utilizar a tecnologia para reduzir custos e aumentar a rentabilidade. “Nosso desafio é mostrar que a tecnologia pode trazer retorno”, diz ele.
Simplicidade também é o mote da plataforma e-Agro, oferecida gratuitamente para ser baixada em computadores, tablets e smartphones. A ferramenta, segundo Angelo Palocci, diretor de marketing da empresa, foi criada para descomplicar a gestão e facilitar a tomada de decisões, através da previsão de produção e desempenho da colheita. Com mais de 1,5 mil fazendas cadastradas, o aplicativo funciona de forma simplificada 24 horas por dia e gera relatórios completos com apenas um clique.
» Os números da 25ª Agrishow
Local: Ribeirão Preto (SP)
Data: de 30/4 a 4/5
O que é: Considerada uma das três maiores feiras de tecnologia agrícola do mundo e a maior da América Latina
Previsão de número de visitantes: 159 mil pessoas
Área de exposição: 440 mil metros quadrados
Expositores: 800
Negócios gerados em 2017: R$ 2,2 bilhões.