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Estado de Minas

Cartões perdem espaço para smartphones na hora do pagar as compras

Meios de pagamento vêm ganhando cada vez mais investimento em tecnologia para que o uso do plástico se torne um hábito do passado. Mercado movimenta trilhões de dólares no mundo


postado em 09/05/2018 12:00 / atualizado em 09/05/2018 08:17

Ampliação do samsung pay é um desafio para marca coreana(foto: Samsung Pay)
Ampliação do samsung pay é um desafio para marca coreana (foto: Samsung Pay)


São Paulo – Com os dias contados ou não, o fato é que o uso do cartão como estamos acostumados, no formato de plástico, seja para operações de crédito ou de débito, está passando por mudanças. O Apple Pay é a novidade mais recente no mercado brasileiro de meios de pagamento. Lançado no Brasil há cerca de um mês, em parceria com o Itaú, o aplicativo permite o pagamento por meio do uso do celular, sem a necessidade de sacar o cartão da carteira e passá-lo pela maquininha, como se costuma ver.

Depois de disponibilizar a tecnologia em 20 países, a Apple trouxe o serviço para o Brasil e assim seguiu a mesma estratégia de outras duas concorrentes. Com o app Samsung Pay, a fabricante sul-coreana inaugurou esse tipo de serviço de pagamento no Brasil em meados de 2016. Hoje oferece a opção em 20 modelos de smartphone e três de smartwatch em parceria com 10 bancos e com duas bandeiras, Visa e Mastercard. Já o Google trouxe esse serviço para o país em novembro do ano passado, ainda com o nome Android Pay. Em fevereiro, trocou a denominação do app para Google Pay.

Com os aplicativos do tipo “pay”, a comunicação entre o smartphone e as máquinas de cartão (as POS, sigla para point of sale) é feita por meio da tecnologia NFC (Near Field Communication), que permite a troca de informações entre dispositivos apenas com a aproximação física entre o plástico e a maquininha. No caso da Samsung, há a opção de uma outra tecnologia, o MST (sigla de Magnetic Secure Transmission), que funciona por meio da geração de campo magnético.

Vestindo o cartão

Há outras duas frentes tecnológicas disponíveis entre os meios de pagamento. Uma delas são os acessórios como pulseiras, anéis, colares e adesivos que trazem as informações do cliente do banco e substituem o cartão. São os chamados “wearables”, categoria na qual se enquadram também os relógios inteligentes, como o Apple Watch e o Samsung Gear.

Assim como no caso dos smartphones, a comunicação entre esses equipamentos e as máquinas de cartão é feita por meio do NFC. O Santander é o banco que mais tem apostado nesse tipo de tecnologia no país. Antes, durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, a Visa fez uma campanha com os atletas brasileiros para que utilizassem o modelo de anel para pagamentos, mas naquele momento a novidade não se firmou.

Outra modalidade se enquadra no conceito de internet das coisas (IoT), que já tem hoje equipamentos conectáveis à rede e permitem, por exemplo, que uma geladeira identifique que um produto está chegando ao fim, envie o pedido a um supermercado e assim garanta o suprimento da casa. Como esse tipo de tecnologia é acessível a poucos por causa do preço, segue como uma promessa até conseguir se popularizar.

Trilhões

Segundo estudo divulgado em 2017 pela consultoria americana Gartner, cerca de 20 milhões de máquinas estarão conectadas e vão fazer transações entre si até 2020. Outra consultoria, a britânica Jupiter Research, em outro estudo (Contactless Payments: NFC Handsets, Wearables & Payment Cards 2017-2021), também apresentado no ano passado, estimou que, até 2019, se chegue a US$ 1,3 trilhão em transações globais sem contato feitas por meio de cartões de pagamento, seja por smartphones ou os “wearables”. Se esse número se confirmar, o valor terá mais do que duplicado em comparação a 2017, quando o valor global chegou a US$ 590 bilhões.

Números com essas proporções têm aumentado o apetite de quem faz parte do ambiente de meios de pagamento. Rubens Fogli, diretor do Itaú Unibanco, se revela surpreso com o volume de clientes que baixaram o app do Apple Pay. Em um mês, segundo ele, já são cerca de 300 mil usuários. “A adesão foi mais rápida do que o esperado. Já temos uma das maiores carteiras digitais do país”, diz o executivo.

Uma das estratégias do banco para ganhar espaço rapidamente com o Apple Pay foi investir em campanhas para ensinar o consumidor como usar a tecnologia. Além disso, foi montada uma operação dedicada ao produto para tirar dúvidas. Para Fogli, apesar de ouvir há pelo menos duas décadas que o cartão de crédito na forma de plástico iria acabar, agora essa mudança está mais próxima de se confirmar.

“Estamos entrando em um momento com mais condições, inclusive culturais, para a adoção de novas tecnologias e de meios substitutos do plástico. Agora veremos um ritmo mais acelerado de mudança”, avalia Fogli. Para o executivo, a quantidade de smartphones – mais de um aparelho por brasileiro – é a principal impulsionadora desse novo comportamento na hora de fazer pagamentos. Por enquanto o Itaú Unibanco tem parceria apenas com o Apple Pay, mas ainda neste ano deverá oferecer também os apps da Samsung Pay e Google Pay.

Contagem regressiva

 Executivo sênior da EY, Guilherme Vitolo acredita que o plástico, como existe hoje, deixará de existir em um período entre cinco e 10 anos e dará lugar a outros meios de pagamento, tanto para operações de crédito quanto de débito. “Isso só não aconteceu mais rapidamente no Brasil porque há uma questão de tecnologia. Como há muitos players, os credenciadores de cartões não estabeleceram um padrão único de tecnologia para pagamento, como se vê no Chile, por exemplo”, diz.

Também pesou no atraso dessa evolução tecnológica no mercado brasileiro o fato de o país ter um histórico grande de fraudes em operações com cartão, que só começou a arrefecer depois da adoção do chip no lugar da tarja magnética. Vitolo acrescenta ainda a questão cultural por parte dos comerciantes: “Como a tecnologia é nova, ainda há muita desconfiança e desinformação.”

Líder da área de serviços financeiros da Accenture para a América Latina, Marcello Mussi prefere não arriscar quanto a um prazo para que o plástico seja trocado definitivamente por outros meios de pagamento digitais. “Já vemos muitas evoluções. É só lembrar, por exemplo, que hoje pagamos por serviços como o Uber e outros aplicativos de transporte sem ter de usar dinheiro ou o cartão físico”, comenta.

Para Mussi, os jovens, nascidos no ambiente digital, deverão ser os responsáveis por acelerar esse movimento de adesão a meios de pagamento que dependam cada vez menos do plástico. “Eles procuram conveniência nas novas formas de pagamento”, lembra o executivo.

Aposta em meios versáteis

Rodrigo Cury, diretor de cartões do Santander, também é cauteloso quanto ao prazo de validade do cartão de plástico. Para ele, ainda existe lugar para diferentes formas de pagamento e cabe ao consumidor decidir qual é mais conveniente à sua necessidade. “Para nós, também conta o momento em que o cliente vai usar seu dispositivo, por isso apostamos também nos ‘wearables’, como a pulseira. Ela foi lançada pelo Santander junto com o adesivo, que também faz a leitura da operação por NFC, e acreditamos que ele teria uma procura maior. Mas quase ficamos sem estoques de pulseira por conta do interesse que despertou”, conta. Os dois acessórios são cobrados pela instituição financeira.

Além dos “wearables”, o banco espanhol tem parceria para o Samsung Pay e oferece seu próprio aplicativo, o Santander Pass, para fazer o pagamento com smartphone por aproximação. Outro executivo que não acredita na trajetória descendente do plástico é Alessandro Rabelo, diretor de produtos da Visa. Para ele, o brasileiro ainda vive um momento em que ensaia a desconstrução do cartão, mas por ora ainda é a opção da grande maioria. “Outras formas de pagamento vêm sendo adicionadas pelos clientes, que as utiliza como alternativa ao plástico. Mas acredito que o crescimento de outros meios de pagamento, como vemos nos Estados Unidos com a internet das coisas, será exponencial à medida que houver mais opções”, afirma.

Segundo Rabelo, o brasileiro já vem se acostumando com a tecnologia NFC, por aproximação, em outras operações – como o Bilhete Único, usado para pagamento de passagens de ônibus e metrô da cidade de São Paulo. Isso, acredita, deverá servir para impulsionar novas formas de uso do cartão de pagamento por meio digital.

 

Padaria foi laboratório da Samsung

 



Uma padaria ao lado do escritório da Samsung, em São Paulo, foi usada para os primeiros testes feitos por Renato Citrini, gerente sênior de produtos da área de dispositivos móveis, antes de colocar o Samsung Pay à disposição dos brasileiros. O dono do comércio, revela Citrini, estranhou das primeiras vezes aquela forma diferente de pagar a conta. “Ele ficava surpreso de não precisar usar o cartão de plástico para pagar a conta. Bastava aproximar o smartphone da maquininha que ele já usava”, recorda.

Hoje, quase dois anos depois, a operação do Samsung Pay é grande no Brasil, segundo Citrini, que não revela números. O executivo acredita que o crescimento desse tipo de dispositivo será rápido, já que para os comerciantes não é preciso fazer investimentos em novas máquinas de pagamento – cerca de 90% já contam com as tecnologias NFC e MST.

Um outro desafio para a marca, no entanto, é ampliar o serviço do Samsung Pay para mais modelos de smartphone. Hoje são 20, mas o mais barato, o J5 PRO, custa R$ 1.099. Como o preço é alto, exclui uma parcela grande da população do radar da empresa. Conforme a tecnologia ganhar mais escala, será possível incluir o serviço em modelos de outras faixas de preço. Quando lançamos o Samsung Pay, por exemplo, o modelo mais barato adaptado para a tecnologia era vendido entre R$ 1.500 e R$ 1.800”, exemplifica Citrini.

 


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