A poucos meses de concluir a graduação em engenharia de controle e automação, o estudante Augusto Henrique Pighini Silva, de 25 anos, já tem a carteira de trabalho assinada por uma empresa de tecnologia em Belo Horizonte que, somente no último ano, aumentou sua equipe de quatro para 10 pessoas. O jovem ainda nem pôs as mãos no diploma, mas se tornou trainee nos últimos meses e tem pela frente uma promoção para um cargo de gestão, que deve se concretizar assim que ele concluir o curso na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Em tempos ainda sombrios para a economia brasileira, saber que Minas Gerais tem ido na contramão do país ao apresentar resultados positivos na geração de empregos formais é um alento tanto para quem está entrando agora no mercado de trabalho quanto para aqueles que buscam uma recolocação.
O saldo positivo é indicado pelos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), um dos principais termômetros do mercado de trabalho, e aponta que o estado fechou o último ano com aumento de mais de 24 mil postos de trabalho, enquanto o país teve saldo negativo de 20,8 mil vagas formais. O resultado positivo em Minas foi puxado principalmente pelo setor de serviços, que, sozinho, gerou 14,8 mil vagas em 2017. Mas outras áreas também tiveram bons resultados, como o comércio, as indústrias de transformação e extrativa e o setor agropecuário.
ESTÍMULO ÀS STARTUPS
Uma medida que tem sido explorada pelo governo do estado para alavancar ainda mais a economia e gerar novos postos de trabalho em Minas é o incentivo às startups (empresas de pequeno porte em fase inicial, muitas vezes de base tecnológica, que têm um modelo de negócio capaz de aumentar rapidamente sua receita a um custo baixo). Esse estímulo é feito por meio de programas que levem empreendedores mineiros e de outros estados e países a investir em Minas. Como resultado do fortalecimento da cultura empreendedora em território mineiro, a expectativa é de que um dos benefícios gerados para Minas Gerais seja a criação de mais vagas de emprego.
“Trazer as grandes empresas para cá pode ser muito difícil e caro. Já uma startup é barata, gera emprego, renda e conhecimento. É uma aposta do governo para criar uma máquina de fazer empregos, além da geração de impostos e outros benefícios para Minas”, destaca a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sedectes).
Consciente do potencial das startups, a universitária Isadora Marques Lima, de 21 anos, espera aproveitar o crescimento da empresa em que atua como estagiária para evoluir como profissional e conquistar uma vaga efetiva. “Procurei um estágio por seis meses e foi maravilhoso consegui-lo em uma startup, porque a experiência de crescimento que estou tendo aqui vai me qualificar muito para tentar um emprego quando me formar”, avalia a estudante.
NOVAS VAGAS
Para Matheus Luiz Pontelo, fundador e diretor-executivo da Seja Direto – startup destaque no ranking do Seed, programa do governo estadual de aceleração de empresas interessadas em desenvolver negócios em Minas –, um dos trunfos do empreendedorismo tecnológico é conseguir gerar valor de forma diferente de outros modelos de negócio. “Isso por si só gera novos empregos”, diz Pontelo. “Cada startup que surge em Minas gera novas vagas e elas geralmente demandam mais qualificação, o que resulta em salários maiores e na retenção de talentos para o nosso estado”, avalia.
Pontelo explica que no caso de empresas como a dele, baseadas quase inteiramente em tecnologia, o crescimento tende a ser muito rápido, com um aumento veloz da base de clientes a um custo relativamente baixo. “Isso demanda mais braços, o que fez com que aumentássemos a equipe de quatro para 10 pessoas em pouco mais de um ano”, explica o empresário, que levou o estudante Augusto para trabalhar com ele nesse período, com pretensão de promovê-lo assim que ele tiver condições de deixar a função de trainee.
ESPECIALIZAÇÃO
Outra startup que começou a crescer enquanto a economia brasileira afundava e saltou de quatro pessoas em dezembro de 2016 para 19 em maio de 2018 foi a Monetus, uma gestora de investimentos digital com sede em Belo Horizonte. Segundo o CEO Daniel Calonge, o segredo pode estar no fato de as startups saberem lidar melhor com a crise, já que nascem sem dinheiro e precisam inovar para conquistar espaço.
“Uma coisa que fica muito clara é o fato de que, como uma startup cresce e muda muito rapidamente, estamos sempre à procura de quem gosta de aprender, não se assusta com mudanças e sabe lidar com um nível alto de cobrança”, explica Calonge. Ele lembra ainda que é muito importante ter conhecimentos específicos sobre a área de atuação da empresa, mas um fator que conta muito na hora de contratar um profissional é a disponibilidade em aprender. “Até mesmo os fracassos de uma pessoa são importantes porque trazem experiência e podem nos ajudar a crescer. O que procuramos são pessoas que queiram propor ideias, que gostem de debater”, diz o CEO da empresa, que já tem três novas vagas abertas.
Ao se enquadrar neste perfil, Fábio Teixeira conquistou uma das vagas abertas pela empresa de Calonge recentemente. Antes de chegar à Monetus, ele teve uma trajetória bem-sucedida profissionalmente, com passagem por várias empresas e com a experiência do próprio negócio. No entanto, ele se viu diante da necessidade de mudar, por sentir que havia perdido o propósito de vida, trabalhando em algo que não acreditava.
Depois de seis meses fora do mercado de trabalho, Fábio conseguiu uma das duas vagas abertas no início de 2018 pela startup de BH. “Minha preparação profissional foi essencial para conseguir a vaga, mas, além disso, encontrei o propósito que procurava por acreditar nas ideias da empresa”, conta.
Aproveitamento de vagas do Sine cresce 26%
Um dos aliados do trabalhador em busca de uma vaga no mercado de trabalho, o Sistema Nacional de Emprego (Sine) em Minas também tem dados animadores. Segundo informações do Ministério do Trabalho e Emprego, das 14.664 oportunidades disponibilizadas pelas empresas por meio do sistema em Minas durante os três primeiros meses do ano, 10.570 foram ocupadas.
O resultado é comemorado pela Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social (Sedese), que pondera que, apesar de o número total de vagas ter caído de 15.004 no primeiro trimestre de 2017 para 14.664 no mesmo período de 2018, o aproveitamento das oportunidades de emprego registrou alta de 26,3%, uma vez que no ano anterior houve a colocação de apenas 8.554 pessoas no período.
Entre os setores com mais vagas disponíveis estão agropecuária, indústria, construção civil e administração pública.
BUSCA ATIVA
Outra iniciativa que tem sido utilizada para diminuir os impactos do desemprego no estado é a busca do fortalecimento da parceria entre as empresas e o Sine em Minas. Para isso, foi desenvolvido um programa que identifica setores da economia e instituições com maior probabilidade de ter vagas de emprego disponíveis. Isso é feito por meio da análise de dados do Caged e também de informações cadastrais de pessoas jurídicas contribuintes do ICMS no estado.
Feito o cruzamento desses dados, são criados boletins mensais que contêm informações sobre o mercado de trabalho e uma lista de empresas que podem vir a contratar. Esses relatórios são enviados aos postos do Sine em todo o estado e servem como um guia para que as equipes do Sistema Nacional de Empregos identifiquem oportunidades em potencial e entrem em contato com as empresas por meio de visitas ou telefone.
Com a metodologia do programa, batizado de Busca Ativa, o Sine passa a ser mais ativo na seleção de oportunidades em vez de apenas receber ofertas espontâneas.