A correção, que liderou o ranking de altas nos preços, foi aplicada ao quilo da batata negociada pelos produtores rurais. Retrato do caos, com a paralisação do transporte de carga nas estradas, o saco de 50kg batata era encontrado a R$ 400, ante o valor de R$ 70 negociado na terça-feira. De acordo com o informe da Ceasa, os valores médios encontrados foram de R$ 180. Outros 57 produtos também registraram aumentos de terça-feira para ontem, variando de 3,7% a 140%.
A falta de mercadorias já é sentida em sacolões não só na Grande BH como também nas redes varejistas de estados como Rio de Janeiro e São Paulo. “O preço aumentou muito. De R$40 ou R$60 para R$300, R$400 e é muita coisa, né? O pessoal está com medo de carregar mercadoria. Não tem como sair nem entrar no mercado”, afirmou Elenilce Vieira. Outro produtor que estava no local e não quis se identificar, contou à reportagem do EM que as vendas caíram muito nos últimos três dias. De acordo com a fonte, devido à greve, foi necessário “improvisar” para carregar as mercadorias. “A gente teve que ir de van até o caminhão, pegar o produto e voltar”, explicou.
“Não está chegando mercadoria nenhuma e precisamos nos manter com o preço que dá”, contou o vendedor Thiago Silva. De acordo com ele, que vende banana para atacadistas todos os dias no local, a situação é grave. “Parece que o tempo parou”, desabafa. Marcelo Fernandes comprava mercadorias para o sacolão Estação da Fruta, no Bairro Caiçara, em Belo Horizonte. “Bem devagar, faltando mercadorias, os produtos estão bem mais caros”, afirmou. Para ele, a situação é ruim para toda a cadeia de produção e comercialização de alimentos. “É ruim para quem está comprando, para quem está vendendo, para o caminhoneiro”, pontua.
Consumidor paga
“Eles estão totalmente corretos. A população deveria aderir e todo mundo deveria entrar nessa”, protesta Marcelo Fernandes. O empresário, porém, não está sozinho. De acordo com a maioria dos produtores, atacadistas e vendedores consultados pelo EM, a greve dos caminhoneiros é um processo que, apesar de ser complicado, é visto como justo. É o caso do produtor de quiabo, Antônio Alceu Ferreira, de Corinto, na Região Central de Minas Gerais. De acordo com ele “ninguém aguenta aumento de combustível até três vezes na semana. Alguém tem que fazer alguma coisa, não sei se dessa forma, mas é preciso”, ressalta.
Wagner Soares é dono de três restaurantes em Ouro Preto e em Belo Horizonte. Ele acredita que, nos próximos dias, a situação vai piorar. “Encareceu tudo e a dificuldade maior é o preço. A tendência é só piorar. Se não negociarem com os caminhoneiros quem vai arcar com isso é o consumidor final”, argumenta. “Se até amanhã isso não se resolver, tenho certeza de que entraremos num período de caos. E é o cidadão que vai pagar o pato”, diz Soares.
Circula, entre os produtos, a informação de que uma paralisação da Ceasa em Contagem será inevitável hoje ou, no mais tardar, até o fim da semana. À falta de movimento e de mercadoria é credita a especulação com os preços. “Está um zum zum zum de que a Ceasa vai fechar até que se libere o abastecimento. Não se justifica que isso fique aberto sem ter mercadorias”, conta um dos comerciantes.
(*) estagiário sob a supervisão da subeditora Marta Vieira