Um dia depois de ter entrado no olho do furacão, atendendo filas quilométricas nos postos de combustíveis de Belo Horizonte, os frentistas se viram obrigados a cruzar os braços. Com mais de 90% das revendas de Minas Gerais sem combustível, ontem alguns estabelecimentos dispensaram os funcionários e os que foram trabalhar aproveitaram para lavar o pátio, organizar as bombas e, uma vez cumprida a tarefa, não tinham mais o que fazer.
“Ontem (quarta-feira) estava tumultuado, carro demais, fila para todo lado. Hoje, os carros param, perguntam se tem combustível, e vão embora”, conta o frentista Almiro Afonso da Silva, que nunca passou por situação semelhante em 48 anos de profissão. “De faltar gasolina, como hoje, não lembro. Já teve fila, na época do Sarney, mas depois disso, não”, conta o frentista, que trabalha em um posto na Avenida Nossa Senhora do Carmo, na Zona Sul da capital.
Nos postos que ainda havia reserva de combustível, ontem à tarde, os próprios consumidores precisaram se organizar para que mais pessoas fossem atendidas. Na Via Expressa, uma fila de carros de quase 3 quilômetros, entre os Bairros Carlos Prates e Coração Eucarístico, foi formada à tarde por motoristas que tentavam abastecer em posto da Petrobras. Era a concorrência com outra longa fila formada por pessoas munidas de todo tipo de vasilhame, como galões de combustível e de água mineral, e garrafas pet, entre outros.
O posto destinou três bombas apenas para quem estava a pé e a fila dava voltas no quarteirão. Houve tumulto quando a gerência do estabelecimento avisou que o combustível não seria suficiente para todos. Alguns frentistas reclamaram do tratamento dos clientes que, nervosos com a situação, acabam descontando neles a insatisfação.
“Para trabalhar está bem difícil. Como o preço está alto, a pessoa acha que é a gente que está aumentando. A gente vai explicar que não é a gente, aí o cliente acha que é cambalacho e vai tratando a gente mal”, afirma Felipe Michel, de 22 anos, que trabalha há seis meses como frentista em um posto na Avenida do Contorno, no bairro Santo Antônio.
Alguns postos visitados pela reportagem do Estado de Minas, estavam vazios, apenas com segurança e cercados por cones e cordas. Na Avenida do Contorno, na esquina com Rua Niquelina, no Bairro Santa Efigênia, os frentistas foram dispensados na noite de quarta-feira, depois de todo o combustível ser vendido até 23h.
Ponto crítico
Balanço divulgado ontem pelo Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo de Minas Gerais (Minaspetro) apontou que 93% dos postos cadastrados na entidade registravam falta de combustível. Belo Horizonte e região metropolitana, Zona da Mata, Sul de Minas e o Triângulo são as áreas do estado mais afetadas pelos efeitos da greve dos caminhoneiros. O sindicato responde por 4.300 postos em Minas. Desses, 71,3% estão com desabastecimento geral de combustíveis. Outros 21,7% têm apenas um produto (gasolina, gasolina aditivada ou etanol) para vender.
Em um posto da Avenida dos Andradas, os próprios motociclistas definiram que cada moto poderia receber até 5 litros. Ainda assim, por volta das 15h30, mais de uma centena de motociclistas ficaram sem abastecer. “Fiquei na fila por três horas e, quando estava perto da minha vez, a gasolina acabou. Agora, vou tentar em um outro posto onde fiquei sabendo que ainda tem gasolina. É encarar mais filas, sem saber se vou conseguir abastecer”, afirmou Ênio Américo.
Quem conseguiu abastecer, comemorou. “Passei em mais de 30 postos e nada. Entrei na fila lá perto da Câmara Municipal (a 200 metros do posto) e, quando contaram as últimas 20 motos que abasteceriam, eu consegui entrar. Mais de 100 pessoas não tiveram a mesma sorte que eu”, contou Carlos Eduardo.