Brasília, 26 - Uma sequência de reclamações ignoradas pelo governo e um acordo costurado de última hora em meio a trapalhadas políticas pararam o Brasil. Desde outubro de 2017 os caminhoneiros têm se queixado ao Planalto, mas, sem dinheiro e com outras preocupações, o governo deixou o tema de lado até que a paralisação começou. Quando a negociação foi iniciada, nesta semana, o governo ofereceu parte dos pedidos, mas o movimento já era maior que os líderes, e o acordo foi ignorado pelas estradas.
Com os preços do combustível ajustados quase diariamente pela Petrobras, que segue a cotação do petróleo no mercado internacional (em alta constante), os mais de 1 milhão de autônomos começaram a sofrer achatamento da renda. O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, recebeu a primeira reclamação formal de duas entidades em 5 de outubro. Caminhoneiros dizem que foram ignorados.
Para piorar, a desvalorização do real potencializou o fenômeno. Assim, em 14 de maio, Padilha e o presidente Michel Temer receberam nova carta. Dessa vez, com ameaça: "Caso não tenhamos apoio deste governo federal, uma paralisação será inevitável". Sem resposta, caminhoneiros convocaram greve para a última segunda-feira.
O movimento começou forte e teve mais de 100 pontos de manifestação naquele dia. O governo reagiu e convocou uma reunião com as principais entidades um dia depois do início do movimento.
No Planalto, a avaliação é que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) falhou ao não prever o alcance da greve, que instalou caos no País. Sob condição de anonimato, fontes criticaram o fato de a agência não ter informado Temer de que o movimento, ao contrário dos anteriores, vinha com tanta força.
A agência não alertou sobre a previsão de desabastecimento. O governo avaliou que o diferencial, neste caso, e que também não foi detectado pela inteligência, foi o apoio dos empresários do setor aos caminhoneiros.
O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sérgio Etchegoyen, refuta que a Abin tenha falhado.
Os mais de dez grupos de caminhoneiros chegaram sem um discurso único. Havia a reclamação comum do diesel, mas muitos traziam pautas distintas. Para o governo, essa pauta sem foco era um sinal de alerta do problema da pulverização dos trabalhadores.
Para tentar mostrar protagonismo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pré-candidato à Presidência, correu e aprovou na Câmara, na quarta-feira, um projeto para zerar a alíquota do PIS/Cofins sobre o diesel, com projeções erradas do custo aos cofres públicos. Maia contrariou Temer e irritou o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE).
"Infelizmente, as palavras do presidente Temer estão tendo pouca credibilidade com a sociedade", disse Maia na sexta-feira sobre o não cumprimento do acordo.
Apesar da dificuldade financeira, o governo conseguiu costurar um pacote de medidas. Não houve dinheiro para reduzir o preço do diesel em até R$ 0,80, como pedido. O governo acenou com a redução de alguns impostos para reduzir o preço, mas muitas das medidas ainda precisam de aprovação do Congresso.
A Petrobras concedeu um desconto de 10% no diesel por 15 dias. O governo ampliou esse prazo por mais 15 dias, e criou uma câmara de compensação para subsidiar o preço até o fim do ano.
Mesmo com governo, Petrobras e Câmara cedendo aos pedidos dos caminhoneiros, eles mantiveram a paralisação e coagiram o Planalto em busca de uma redução ainda maior no preço do diesel. As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.
(Fernando Nakagawa, Tânia Monteiro e Vera Rosa)