Os motoristas pagaram em dobro pelo desabastecimento dos combustíveis em razão da greve dos caminhoneiros. Se não bastasse o transtorno com o tanque vazio, os preços subiram depois que as revendas começaram a ser reabastecidas. Houve remarcações nos preços da gasolina, do etanol e até do diesel no comércio varejista da Região Centro-Sul de Belo Horizonte. É a conclusão de uma pesquisa realizada pelo site especializado em levantamento de preços Mercado Mineiro, em parceira com o Estado de Minas. A comparação de preços anunciados nessa sexta-feira nas bombas aos praticados no último dia 20 mostrou que a gasolina encareceu 5,78%, em média; o etanol, 8,91% e o diesel, 2,48%, também na média.
A pesquisa foi feita em 20 estabelecimentos (veja os resultados no quadro), cujos preços vêm sendo acompanhados pelo Mercado Mineiro. De acordo com diretor-executivo site, Feliciano Abreu, a incerteza e a ansiedade atrapalham o consumidor. “É necessário abastecer somente em caso de extrema necessidade. Isso porque a tendência é de variação nos preços nas próximas semanas, até a estabilização da oferta”, afirma.
Pelo mesmo motivo, ele aconselha o consumidor a não encher o tanque. Outra dica, segundo ele, é optar pelo etanol em detrimento da gasolina, pois o preço, mesmo com o maior reajuste, ainda vale mais a pena.
Ainda segundo Abreu, os percentuais observados na pesquisa de preços antes e depois da greve dos caminhoneiros representam “aumento considerável”, em relação às pesquisas anteriores.
Para o diretor-executivo do Mercado Mineiro, isso ocorreu porque os donos de postos aproveitaram a oportunidade para reajustar seus preços. Procurado pela reportagem do EM, o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo do Estado de Minas Gerais (Minaspetro) defendeu que o setor trabalha num sistema de “livre mercado”, sendo que há leis que protegem os proprietários quanto ao acréscimo de preços. “Ainda que o preço dos combustíveis seja livre, e o Sindicato não desempenha nenhum papel para interferência na composição do valor de bomba. O Minaspetro ressalta que repudia aumento abusivo do preço dos combustíveis, que mancha a imagem dos bons empresários que trabalham no setor”, diz o sindicato em nota.
Causa parcial
Por outro lado, outros condutores não perceberam alteração nas taxas cobradas pelo serviço. “Eu acho que o preço, nos lugares onde abasteci, estão mantidos. Até aqui, não vi irregularidades”, ressaltou Altamiro Soares, que, depois de encher o tanque em um posto no Barreiro, estava numa revenda da Avenida Álvares Cabral na manhã dessa sexta. Já José Batista Sobrinho salientou que, apesar da estabilidade, a situação pode se reverter. “Até aqui, está o mesmo preço de antes. Mas, os caminhoneiros precisam cobrar a diminuição em todos os combustíveis, senão fica difícil. Eles vão parar novamente no futuro, mas o problema vai continuar. Se não resolver isso, vai nos complicar” afirmou, o motorista, que enfrentava a fila para abastecer pela terceira vez na semana.
Política de preços
O governo federal adotou diferentes medidas para redução nos preços do diesel, de R$ 0,46 em cada litro do combustível, por meio do corte de dois tributos: a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) e o PIS/COFINS. A última projeção do diesel era de R$ 2,23 por litro, em média, nas refinarias do Brasil. Apesar da promessa, o desconto ainda não chegou aos fornecedores, de acordo com Minaspetro. Durante a greve dos caminhoneiros se intensificaram também as críticas à política de preços da Petrobras, que vem resultando em aumentos ou algumas quedas em revisões mensais dos preços, atreladas ao comportamento dos preços do petróleo no exterior.