A montanha-russa em que se transformou a tabela dos preços dos hortifrutigranjeiros, provocada pela crise de abastecimento durante a greve dos caminhoneiros, está em rota de queda. É o que garantem os comerciantes do ramo, que apostam que, na próxima semana, os preços do sacolão já estarão normalizados. A maior parte dos produtos está sendo comercializada como antes da paralisação, mas há exceções importantes para o bolso. Limão, cebola, tomate e banana, por exemplo, continuam mais caros do que o habitual. Se na dieta saudável, a salada parece, ainda assim, estar garantida, o frango chega ao prato do consumidor inflacionado.
O quilo da cebola branca ficou 99,21% mais caro, seguida de perto pela batata-inglesa, com valorização de 98,64% entre 1º de maio e ontem, de acordo com a mesma pesquisa do Mercado Mineiro. Para economizar, a aposentada Mônica Cattoni, de 66 anos, pesquisa preços ou até deixa de comprar.
Ela saiu do Bairro Vila da Serra, em Nova Lima, na Grande Belo Horizonte, para comprar no Mercado Distrital do Cruzeiro, no Bairro Cruzeiro, na Região Centro-Sul de BH. “É muito mais barato. Compro couve-flor aqui a R$ 5,99, se fosse comprar no supermercado, seria quase R$ 8”, diz. Mas nem tudo entrou na sacola. “A cebola está um absurdo”, comenta.
O diretor do site Mercado Mineiro, Feliciano Abreu, observa que para fugir dos aumentos, o consumidor deve buscar a substituição de produtos mais caros por aqueles itens em período de safra, que, portanto, tende a promover oferta mais regular. Além disso, outra forma de recusar remarcações é optar por mercadoria que não foi tão prejudicada por perda de produção durante a greve dos caminhoneiros.
O gerente do sacolão Catatau, Daniel Araújo, afirma que, aos poucos, os preços estão voltando ao normal, embora haja diversos produtos sendo vendidos ainda acima dos preços de costume. “Antes da greve, beterraba e cenoura eram vendidos a R$ 1,99 (o quilo) e passaram a R$ 3,99. O preço do limão era R$ 3,99 e está R$ 5,99. Gradativamente, vai baixando. O mamão que era vendido a R$ 10 o quilo caiu para R$ 2,99. A banana que chegou a R$ 5,99 o quilo baixou para R$ 2,99”, afirma.
Há 44 anos vendendo verduras e legumes no Mercado do Cruzeiro, Maria de Lourdes de Almeida confirma que os preços começam a diminuir. “Foi a primeira vez que vi uma alta dessa. Agora, já está começando a voltar ao preço normal. O tomate caiu de R$ 7,99 para R$ 5,99. A batata de R$ 7,99 para R$ 3,99”, afirma.
O gerente do Sacolão Canarinho, Gilson Rodrigues, aposta numa normalização a partir da semana que vem. “Hoje (ontem) no Ceasa já havia muita mercadoria e esse ramo funciona assim. Se tem mais produto, o preço cai. As coisas estão se encaixando, voltando ao normal”, garante. No estabelecimento, o preço do limão alcançou R$ 9,80 o quilo e, agora, é vendido a R$ 5,99. A batata-inglesa também estava em R$ 9,80 e abaixou para R$ 4,99.
VARIAÇÃO
Enquanto a situação não entra nos eixos, é a pesquisa de preços que vai fazer com que o consumidor equilibre os gastos no sacolão. A variação de um mesmo produto entre os estabelecimentos é outro problema, ao chegar a 223%, de acordo com pesquisa desta semana do site Mercado Mineiro nas seções de verduras e legumes de supermercados da capital mineira.
Os preços do tomate comum variam de R$ 2,78 a R$ 8,99 o quilo, diferença de 223%. A beterraba é encontrada a partir de R$ 3,98 até R$ 6,99, variação de 75%. A cenoura custa de R$ 2,79 a R$ 4,79, 71% mais cara. A batata-inglesa varia 60%, de R$ 4,98 a R$ 7,98. A cebola branca vai de R$ 6,69 a R$ 8,89, diferença de 32%.
Comércio pagou quase o dobro
O cirurgião-dentista Sebastião Nascimento, de 73 anos, pagou 25% a mais, ontem, na compra no açougue. Na sacola, variados tipos de corte de frango, produção fortemente afetada com a greve dos caminhoneiros. “Mas a gente acaba comprando mesmo com o aumento, porque alimentação vem em primeiro lugar”, comenta Sebastião, cliente há 30 anos do frigorífico Frangolândia.
Um dos proprietários do estabelecimento, Eleir Duque, está assustado com a escalada de preços. “Foi um impacto muito grande. Para o consumidor, o preço aumentou mais de 20%”, afirma. Isso porque, dependendo do tipo de produto, o preço de compra pelo frigorífico dobrou.
“Comprávamos o frango inteiro a R$ 3,30 e, depois da greve, chegou a R$ 5,98. O frango inteiro custava R$ 15 e, agora, passou de R$ 22”, afirma. Segundo Duque, as granjas informam que a tendência é de que os preços normalizem entre 30 a 40 dias.
Durante a greve, o site de pesquisas Mercado Mineiro mostrou que o quilo do frango resfriado, que custava R$ 5,49, passou para, em média, R$5,74, aumento de 4,55%. O quilo da asa resfriada encareceu, em média, de R$9,73 para R$ 10,41, acréscimo de 6,99%. A coxa e a sobrecoxa também ficaram mais caras, passando, em média, de R$ 6,92 para R$ 7,40, valor 6,94% maior.
No Frigorífico Serradão, o preço do frango inteiro está R$ 6, contra R$ 4,50. “O pedaço também encareceu R$ 1 o quilo. Mas acreditamos que vai baixar”, conta o gerente, Ronaldo Fróes. Já no Frigorífico Indaiá, os preços foram mantidos desde antes da paralisação. Isso porque, prevendo a crise de abastecimento, a empresa estocou mercadoria. “Compramos o triplo, quase a mercadoria para o mês inteiro. Agora, o freezer está começando a esvaziar e vamos ver como ficará em relação ao preço”, afirma o dono, Caetano Júnior.
IPCA de 0,22% em BH
Belo Horizonte registrou inflação em maio de 0,22%, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), da Fundação Ipead/UFMG, vinculada à UFMG. Os resultados foram obtidos mediante comparação dos preços médios praticados em abril e maio deste ano. Entre os 11 itens agregados que compõem o IPCA, os maiores destaques foram as altas de 1,07% para o grupo de vestuário e complementos e de 0,82% para os chamados produtos administrados (gasolina, água, luz, telefone).
Já no sentido contrário, tiveram destaque as quedas de 5,93% nos preços dos alimentos in natura e de 1,07% nos alimentos industrializados. As variações positivas foram capitaneadas pela gasolina – em razão à política de reajustes diários de preços adotada pela Petrobras. Em contrapartida, o serviço excursões foi o que apresentou a maior queda em maio. O custo da cesta básica também registrou nova queda em maio, no comparativo com o mês anterior. O valor ficou abaixo de R$ 400.