São Paulo – A Supreme, cultuada grife de skatistas de Nova York, não tem nada a ver com tecnologia, mas já se tornou um unicórnio, como são chamadas as startups com valor de mercado superior a US$ 1 bilhão. Detalhe surpreendente: a empresa chegou a essa marca com apenas 11 lojas no portfólio.
Para se ter ideia da magnitude do fenômeno, a Abercrombie & Fitch, que também começou como uma marca cult entre jovens e adolescentes antes de entrar em decadência, hoje tem 900 lojas e vale US$ 1,8 bilhão.
Para ganhar seguidores, a Supreme usou a mesma fórmula de toda marca millennial: sem fazer anúncios tradicionais nem participar de desfiles, apenas investindo no boca a boca das redes sociais – e apelando a adolescentes e adultos nostálgicos de uma juventude skatista.
Pranchas assinadas por artistas plásticos renomados, como Jeff Koons e Damien Hirst, parcerias com grandes estilistas e uma produção limitadíssima ajudaram a construir a aura “cool” da marca, transformando streetwear em artigo de luxo.
Os fãs enlouquecem sempre que estreia uma coleção nova: filas gigantescas se formam nas portas das lojas, e às vezes é preciso esperar horas para chegar a vez de comprar. Alguns artigos desaparecem em segundos, como a mala vermelha usada por Neymar ao embarcar para a Rússia (R$ 18 mil), uma parceria com a grife Rimowa, do grupo LVMH. A escassez tem produzido um mercado secundário altamente lucrativo, onde os produtos da Supreme chegam a alcançar 10 vezes o preço original.
Marcas como Nike, Vans, North Face e a grife japonesa Comme des Garçons já assinaram coleções exclusivas com a Supreme. Mas a parceria mais barulhenta foi com a LVMH: uma série de produtos estampados com o monograma da Louis Vuitton em branco sobre um fundo vermelho berrante, as cores características da Supreme.
O agora empresário bem-sucedido Jebbia sonhou com essa parceria há 18 anos, quando criou, à revelia da LVMH, pranchas de skate, camisetas e bonés com o famoso monograma. Resultado: tomou um processo do grupo francês. Duas décadas depois, foi a LVMH que pagou para usar a logo e as cores da Supreme.
Na coleção a quatro mãos, houve quem pagasse R$ 13 mil por uma jaqueta de couro, para depois revendê-la por R$ 60 mil na internet. No balanço da LVMH, a parceria foi apontada como um dos principais responsáveis pelo aumento das vendas.
A empresa não vende em multimarcas. A exceção é o Dover Street Market, em Nova York. Para comprar, é preciso ir até uma das 11lojas: três nos Estados Unidos (Manhattan, Brooklyn e LA), duas na Europa (Paris e Londres) e seis no Japão. Também é possível comprar pela internet, mas uma navegada pelo site pode gerar frustração. Tirando um boné e uma camiseta básica, está quase tudo esgotado.
No final do ano passado, o Carlyle pagou US$ 500 milhões por quase a metade do negócio. Agora, o grande desafio será expandi-lo sem perder a aura de exclusividade. Numa rara entrevista ao Business of Fashion, em 2016, um ano e meio antes da entrada do Carlyle, Jebbia se dizia alérgico a investidores. “Não precisamos de investidores e nunca faremos nada que venha a comprometer aquilo que fazemos”, afirmou à época. E emendou, antes de ter que engolir as próprias palavras. “Quero fazer algo que um garoto que venha fazer compras com os pais diga: mamãe, talvez você não devesse entrar comigo nesta loja.”
As preferidas dos jovens
Uma pesquisa recente realizada pelo banco americano Piper Jaffray elencou as marcas preferidas pela chamada Geração Z, formada por jovens nascidos entre 1990 e 2010. Segundo o levantamento, a Nike lidera o ranking, seguida pela Vans. A Supreme aparece em 7º lugar, mas em ascensão: há 2 anos, estava em 10º. Como os preços dos produtos com o selo Supreme costumam custar alguns milhares de dólares, a grife se tornou uma das mais falsificadas do mundo. Em mercados populares nos Estados Unidos, China e Brasil, é comum ver imitações baratas à venda em lojas obscuras e barracas de camelôs.