Em apenas três semanas, o chef Bernardo Garcia, de 26 anos, viu o sonho de criar uma kebaberia em Belo Horizonte se concretizar e ruir – contabilizando prejuízo de R$ 24 mil. O empreendedor Pedro Israel, de 34, gastou todas as economias para fundar empresa especializada em livros infantis digitais, até que, quatro anos depois, o negócio quebrou. Mais que dois exemplos nas estatísticas de mortalidade das empresas em Minas Gerais – a cada 100 criadas, 23 fecham as portas em período médio de dois anos –, os empresários buscaram, no fracasso, lições para evitar final semelhante nos novos negócios.
“Não me dei tempo para ficar sofrendo, lamentando e questionando o que ocorreu. Minha preocupação foi abrir uma loja nova e continuar o meu negócio”, diz Bernardo Garcia. A fórmula agora é outra: além de não ter sócio, já providenciou um contrato formal do imóvel. Enquanto não inaugura a kebabeira, o chef continua à frente do Serial Eats, delivery de comida inspirada em séries da Netflix. O cardápio é uma reprodução de comidas servidas nos programas e os pedidos podem feitos pela página no Facebook ou e-mail, com alguns dias de antecedência. Os mais pedidos são aqueles degustados pelas personagens da série Gilmore Girls: comida chinesa, sanduíche, torta de maçã e milk shake.
VIABILIDADE Entre as principais razões para o fracasso de um empreendimento está a falta de um plano de negócios, que inclui a viabilidade econômica e de mercado e o público-alvo. “Fazer planejamento não quer dizer 100% de chance de o negócio dar certo, mas é um momento importante para você tirar a ideia da cabeça, colocar no papel e analisar”, explica a analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Luciana Lessa. Esse, talvez, tenha sido o maior erro de Pedro Israel. “Foram quase quatro anos, e a gente tem muitos indicativos de sucesso. Mas nunca tivemos um modelo de negócio e que fosse sustentável”, recorda.
Depois da experiência que consumiu todas as suas economias, Pedro revolveu encarar novo desafio: participou da criação do aplicativo “Melhor Plano”, voltado para a comparação de pacotes oferecidos pelas operadoras de telefonia e que já tem cerca de 400 mil usuários. “As lições aprendidas foram muito importantes. Começamos a empresa com a formação de sócios que são claramente orientados para venda, com perfis diferentes. Preferimos um caminho com mais pedras, mas que dava mais liberdade para a gestão estratégica”, conta. Hoje, ele comemora crescimento de 500% no último ano.
Não há regra que garanta sucesso absoluto, mas alguns passos são fundamentais para quem quer seguir no mundo empresarial. De acordo com Luciana Lessa, além do planejamento, é necessário analisar o cliente, os concorrentes, os prováveis fornecedores e os gastos. “Muita gente começa um negócio sem saber qual é o cenário, sem definir qual o público-alvo. Se não conheço meu cliente, como vou saber o que oferecer e como divulgar meu serviço?”, argumenta. O controle financeiro é outra dica da analista, que é taxativa: “nunca misturar a conta pessoal com a da empresa”.
HISTÓRIAS Falar do sucesso é facil e todo mundo quer. Mas expôr para o outro histórias de fracasso é para poucos. Inspirado no modelo mexicano, desde 2016, Belo Horizonte é uma das mais de 300 cidades do mundo que sediam reuniões do FuckUp Nights – evento que reúne empreendedores para compartilhar conhecimento e trocar experiências sobre o que deu errado em suas empresas. Mais de 500 pessoas já participaram das 10 edições do FuckUp Nights na capital mineira.
“Convidamos empreendedores que tiveram negócios e projetos que, em algum momento, deram errado. Eles vão contar suas histórias e uns podem aprender com os erros um dos outros. O foco principal é conectar as pessoas e mostrar que, mesmo pessoas que já se deram muito bem, em algum momento, podem fracassar”, diz a fotógrafa Marina Galvão, embaixadora do evento em BH. As reuniões ocorrem a cada dois meses e são promovidas pela empresa Humus.
A primeira experiência que ela teve com o evento foi uma reunião em São Paulo, e o que a atraiu para lá foi justamente o formato, já que, normalmente, as reuniões tratam dos casos de sucesso. Nas várias edições do FuckUp Nights, ela conta que já ouviu, nas justificativas para o fracasso, empresas que não seguiram o plano de negócios, sociedades que não deram certo, parcerias malfeitas e falhas na comunicação. “Há desde fatores bem técnicos a questões mais subjetivas”, diz Marina Galvão.
De acordo com ela, a cada edição são discutidos temas para, a partir daí, convidar pessoas que tenham histórias para contar. Tem também aqueles participantes que se identificam e pedem para falar nos eventos. “Para quem conta, é muito libertador. É um momento de libertação do fracasso. Quando a gente erra, a gente esconde o fato das pessoas, e tenta maquiar o erro. Nesse caso, é o contrário, as pessoas estão ali para falar.”
Taxa de mortalidade empresarial
Pesquisa realizada pelo Sebrae Minas mostra que, a cada 100 empreendimentos abertos em 2012, 23 fecharam as portas até o fim de 2014, o que significa taxa de sobrevivência de 77,4%. Entre as capitais, Belo Horizonte é a 13ª colocada no país, com o índice de 76%.
Por setores, a taxa é a seguinte
Indústria 79,8%
Construção 78,3%
Comércio 77,5%
Serviços 76,3%
Como sobreviver em um mercado em crise
>> Planeje-se sempre
>> Respeite sua capacidade financeira
>> Não misture as finanças da empresa com as pessoais
>> Fique de olho na concorrência
>> Prospecte novos fornecedores
>> Tenha controle do seu estoque
>> Marketing não se resume a anúncio, invista em outras estratégias
>> Inove, mesmo que seja produto/serviço de sucesso
>> Invista sempre na formação empresarial
>> Seja fiel aos seus valores e aos do seu negócio
Fonte: Sebrae-MG