Fortaleza – No Brasil, existe espaço para o crescimento de jovens empreendedores. É preciso que esses novatos, além de simplesmente pensar em projetos, se preocupem logo em tirar as ideias do papel. Eles também devem deixar de lado a diversão, para fazer algo diferente. A receita é de Tallis Gomes, de 31 anos, mineiro de Carangola, na Zona da Mata, que virou fenômeno de empreendedorismo. Criador do aplicativo Easy Taxi, ele é também detentor de vários títulos de reconhecimento de seu trabalho no exterior.
Com a fortuna da venda da Easy Taxi, Tallis Gomes montou um fundo de investimentos e partiu para outro negócio inovador: criou a Singu, empresa que oferece, por meio de aplicativo, desta vez o serviço de beleza em domicílio. Ainda que com todo o sucesso e sua capacidade empreendedora, engana-se quem pensa que Tallis Gomes tem, digamos, aquele aspecto de executivo. Ele não abre mão de vestir calça jeans e tênis e preserva o estilo jovial, tendo ministrado palestras em algumas das melhores universidades do mundo, como as de Columbia e Harvard, nos Estados Unidos. Nesta entrevista ao EM, ele fala da carreira e de casos de sucesso.
Como foi o seu aprendizado como empreendedor até criar o Easy Táxi?
Comecei a empreender aos 14 anos. Criei um market play de venda de telefones celulares usados e fazia prints de telefones na internet, criava um catálogo físico e vendia localmente os aparelhos, falando para as pessoas me adiantarem 75% do valor. Comprava o produto na internet, colocava o endereço do comprador. Aos 16 anos, saí de Carangola e fui para o Rio de Janeiro, onde frequentei a faculdade (ele cursou publicidade na Escola Superior de Propaganda e Marketing/ESPM). Montei uma empresa, uma agência de gameficação (jogos na internet) e mídia social. A ideia deu errado e fali. Já entreguei panfletos em sinal e fui prestador de serviços de manobrista para poder me manter. Fui para o mercado, trabalhei em grandes empresas, como Unilever e a Ortobom, quando ví a necessidade de criar um modelo de negócio em que você construía softwares para grandes companhias. Em 2011, criei um dos primeiros aplicativos de transporte do mundo, o Easy taxi, que sob a minha gestão tornou-se o maior aplicativo de transporte do mundo, valendo mais de R$ 1 bilhão. Vendemos para um fundo alemão em 2015.
Qual é o potencial de seu novo negócio?
Ao sair da Easy Taxi, montei um fundo de investimentos. Dentro desse fundo, olho para o mercado de beleza, que no Brasil movimenta mais de R$ 100 bilhões por ano. Dessa maneira, criei a Singu, que é o maior market place de beleza da América Latina, em que a gente leva serviços de manicure, massagem, depilação e escova para as casas das pessoas, atendendo a centenas de milhares de clientes e empregando milhares de pessoas nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo.
O que o levou a vender o Easy Taxi, se era uma empresa com grande potencial de crescimento?
O que acontece é que, à medida que cresce o seu negócio, você precisa levantar mais capital. Todas as vezes que levanto capital, há diluição dentro da empresa. Com isso, eu e outros fundadores tínhamos menos de 10% do negócio. O nosso custo ficou muito alto. Tínhamos muito pouco do negócio para continuar à frente dele. Decidimos liquidar nossa participação (na Easy Taxi) e desenvolver outros projetos.
"O principal é tirar as ideias do papel"
Que perspectivas vê no mercado da beleza?
É muito grande. Acredito que quatro vezes maior do que o mercado de transporte, um oceano azul. Ninguém faz tão bem o que fazemos hoje, nessa iniciativa, na América Latina. Somos a maior empresa do setor no gênero. E há um aspecto emocional, minha mãe também é cabeleireira. Então, existe um ponto emocional e o fato de querer mudar a forma como esse mercado funciona. É uma forma quase nefasta – os salões de beleza retêm 70% do valor que os profissionais recebem dos clientes. Invertemos essa ordem, pagando 70% aos prestadores dos serviços e retemos 30%. Queria essa plataforma de ascensão social e provo isso na prática. Hoje, uma manicure, nesse negócio, consegue ganhar até R$ 6 mil por mês É um dinheiro inimaginável no setor.
Existe espaço, então, para a ascensão social, por meio do empreendedorismo?
Sem a menor sombra de dúvidas. O Brasil tem bastante espaço. Esse espaço não será criado apenas com investimentos estatais. Acho que o estado tem seu valor de fomentar parte da capacidade que o empreendedor tem de desenvolver o seu negócio, principalmente, quando se fala em empréstimos oferecidos a taxas de juros mais baixas. Isso ajuda a viabilizar o empreendedorismo.
Qual é o conselho que você dá aos jovens que querem se tornar empreendedores?
O principal é tirar as ideias do papel. Os jovens que ainda moram com seus pais e frequentam a universidade estão numa hora em que podem errar. Quando estiverem saindo da faculdade, em lugar de ir para a night, ou de sair com os amigos para beber, a melhor coisa que podem tentar é fazer alguma diferença na vida de alguém. Se eles realmente têm uma dúvida, que podem resolver, solução que podem criar, que façam o seu protótipo, criem o seu MVP (Produto Mínimo Viável), e tentem colocar a sua ideia na prática. A hora é essa.