Rio, 24 - O aumento, em cerca de US$ 6 bilhões, na projeção da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) para o superávit da balança comercial em 2018 vai decorrer muito mais da valorização dos preços de venda de produtos como petróleo e soja do que de um esforço de política econômica. "O superávit projetado para este ano é um detalhe apenas, porque não tem nenhum esforço para isso ocorrer", afirmou o presidente da entidade, José Augusto de Castro nesta terça-feira, 24.
Mais cedo, a AEB informou que revisou sua projeção para o saldo comercial de 2018 de um superávit de US$ 50,341 bilhões, conforme estimado em dezembro do ano passado, para um superávit de US$ 56,315 bilhões, uma queda de 15,9% em relação aos US$ 67,001 bilhões gerados em 2017.
O movimento na estimativa para o saldo comercial foi puxado pelas exportações, já que a projeção para as importações, em US$ 168,130 bilhões em 2018 (11,5% acima do ano passado), praticamente não mudou. Já as exportações passaram de uma estimativa de US$ 218,966 bilhões para US$ 224,445, uma alta de 3,1% em relação aos US$ 217,750 bilhões exportados em 2017.
A principal mudança em relação às estimativas anteriores, segundo Castro, são os preços do petróleo e da soja, alguns dos principais produtos básicos exportados pelo Brasil. O barril do petróleo, lembrou o presidente da AEB, era estimado entre US$ 50 e US$ 55 no fim do ano passado, mas, hoje, está na casa de US$ 75.
Já a tonelada da soja ficou em US$ 398,33, na média do primeiro semestre deste ano, contra US$ 378,92 na média da primeira metade de 2017. No caso da soja, a quebra da safra na Argentina neste ano foi determinante para a dinâmica de preços, enquanto as previsões para a produção brasileira vieram sendo reavaliadas para cima até registrar recorde.
Guerra comercial
Castro não vê espaço para a guerra comercial entre Estados Unidos e China criar grandes oportunidades de crescimento dos embarques para o país asiático. A sobretaxa imposta pelos chineses na soja americana pode levar a uma elevação marginal nas exportações brasileiras para a China, mas com efeitos maiores em 2019, já que a safra deste ano foi praticamente toda vendida.
"A soja não tem linha de produção, em que você coloca mais um turno. Além disso, o chinês não tem muito de quem comprar. É Estados Unidos, Brasil e Argentina", disse Castro. Além disso, o saldo final da guerra comercial é negativo, pois tende a reduzir o crescimento global, derrubando a demanda e as cotações das commodities.
As trocas de farpas comerciais entre China e Estados Unidos são apenas um dos fatores negativos do cenário futuro para o comércio exterior. Castro citou ainda a crise econômica na Argentina, principal destino das exportações de manufaturados, o quadro eleitoral marcado pela incerteza e elevações de custos para os exportadores.
Os custos ficarão mais caros por causa do tabelamento do frete consequência da greve dos caminhoneiros, pela extinção da devolução tributária do Reintegra e pela reoneração da folha de pagamentos.
(Vinicius Neder)