São Paulo – Nem só de Alibaba e JD.com vive o país mais populoso do mundo. A Pinduoduo, um e-commerce chinês fundado há menos de três anos, acaba de estrear na Nasdaq e já vale mais de US$ 25 bilhões – quase o mesmo que toda a operação do Santander no Brasil.
Até aí, nada de novo. O milagre da multiplicação de usuários – e do crescimento de valor em tempo recorde – foi operado por uma forte integração com as redes sociais e o foco em usuários de cidades mais afastadas e de mais baixa renda da China, ainda ignoradas pelas maiores plataformas de e-commerce do país, que focam seus negócios nos consumidores de classe média.
Os usuários da Pinduoduo podem compartilhar informações dos produtos que querem comprar no WeChat (o WhatsApp chinês, controlado pela Tencent) e convidar amigos e familiares para criarem uma espécie de clube de compras. Com um grupo de pessoas comprando juntas o mesmo item, a plataforma consegue oferecer descontos expressivos, que podem chegar a 90% do valor original do produto, algo que nenhum concorrente consegue fazer.
Como resultado dessa estratégia, a compra com os amigos vira quase uma brincadeira para conseguir o melhor desconto. Huang costuma dizer que a Pinduoduo é uma Disney com a Costco (a varejista de desconto dos Estados Unidos). Ou seja, o lugar onde as compras encontram a diversão. O modelo de negócios fez com que a empresa viralizasse, tornando-se um fenômeno no país. E tudo isso muito rapidamente e com investimento mínimo em publicidade.
O crescimento foi meteórico até mesmo para os padrões das empresas de tecnologia chinesas. A Pinduoduo já tem mais de 340 milhões de usuários ativos (que fizeram ao menos uma compra nos últimos 12 meses), mais que os 302 milhões da JD.com e já se aproxima dos 550 milhões do Alibaba, apesar de a Pinduoduo ter ainda apenas uma fração da sua receita.
De janeiro a março deste ano, a Pinduoduo faturou US$ 220 milhões, praticamente o mesmo que no ano passado inteiro. Mas ainda segue no vermelho: o prejuízo líquido foi de US$ 83,7 milhões no ano passado, e de US$ 32 milhões no primeiro trimestre.
O crescimento explosivo da base de usuários foi música para o ouvido dos investidores. No IPO (oferta inicial de ações), os papéis saíram no teto da faixa, a US$ 19, e dispararam mais de 40% no primeiro dia, fechando a US$ 26,70. De lá pra cá, perderam um pouco do fôlego e agora estão sendo negociados com valores ao redor de US$ 22.
O IPO movimentou US$ 1,6 bilhão e colocou Huang, que tem 47% das ações, na lista dos 100 homens mais ricos do mundo feita pela Bloomberg. Outros investidores incluem a Tencent e a Sequoia.
O mesmo modelo de descontos que consagrou a plataforma tem atraído duras críticas. “A empresa oferece produtos baratos, mas, com frequência, eles têm uma qualidade muito baixa e chegam mal embalados”, disse à revista americana Fortune uma analista da consultoria Morningstar.
A qualidade duvidosa dos produtos não é o único problema da Pinduoduo. Também não faltam acusações de pirataria contra a empresa. Uma semana antes do IPO, uma fabricante de fraldas americanas chamada Daddy’s Choice entrou com um processo na Justiça alegando que a Pinduoduo permitiu conscientemente a venda de produtos falsificados com o nome da marca em seu site. A acusação é grave e pode comprometer a reputação do e-commerce chinês. Enquanto a Justiça não julgar o mérito da questão, a Pinduoduo continuará vendendo cada vez mais.
Os números da empresa
» 340 milhões de usuários ativos, o equivalente à população inteira dos Estados Unidos
» US$ 220 milhões de faturamento no primeiro trimestre, o mesmo que no ano passado inteiro
» US$ 25 milhões em valor de mercado, quase o mesmo que toda a operação do Santander no Brasil
» US$ 8,3 bilhões é a fortuna pessoal do fundador, Colin Huang, o que o coloca entre os 25 homens mais ricos da China e entre os 100 do mundo