Diminutas no tamanho, micro e pequenas empresas (MPE) representam enorme oportunidade de emprego em Minas Gerais. No primeiro semestre deste ano, negócios de menor porte criaram duas vezes e meia mais postos de trabalho em relação às médias e grandes empresas. O saldo de empregos das MPE no período foi de 66.107, contra 18.737 das maiores – diferença de 252% –, alcançando, em junho, o recorde de 15.187 contratações remanescentes, maior resultado no Brasil. No país, esse saldo ficou em 13.131 vagas. Os dados são do levantamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-Minas), com base nos dados do Cadastro Geral e Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.
Outra boa notícia é que o superávit de vagas nas micro e pequenas empresas triplicou, na comparação entre o primeiro semestre deste ano e o mesmo intervalo de 2016. Enquanto, naquele ano, a diferença entre contratações e demissões foi de 22.143, esse número chegou a 66.107 no acumulado de janeiro a junho deste ano, apresentando crescimento de 198%. Entre as grandes, também aumentaram as oportunidades de trabalho e o saldo passou de 32.977 vagas negativas no primeiro semestre de 2016, para 18.737 positivas, este ano.
“As micro e pequenas empresas representam 60,7% das vagas no país. Elas ganham em volume, mas são muito sensíveis à economia”, observa a assistente da unidade de inteligência empresarial do Sebrae Minas, Gabriela Martinez. De acordo com dados do Sebrae, em 2016, 99,2% dos empreendimentos mineiros eram considerados micro ou de pequeno porte.
O professor do departamento de economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Fabrício Missio observa que o aumento do saldo de empregos é notícia para se comemorar, mas deve ser analisada com cuidado. “O setor é importante, mas está longe de ser capaz de puxar sustentadamente o crescimento da economia nacional”, diz.
Segundo Missio, se, por um lado, representam mais da metade dos empregos formais, elas correspondem a não mais de um terço do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. “Do ponto de vista do mercado de trabalho, essas empresas são importantes. Mas em um mundo cada mais globalizado e caracterizado pela concorrência internacional, é difícil imaginar uma economia grande, como a brasileira e como a do estado de Minas Gerais, ser puxada sustentavelmente por esse setor”, ressalta.
INVESTIMENTO
Os consultores de venda Lorena Ribeiro, de 30 anos, e Rafael Madureira, de 35, estão entre os que comemoram novos empregos. Os dois conquistaram as vagas na empresa de intercâmbio World Study, em BH. Lorena teve a carteira assinada em junho e Rafael em julho. A nova carreira faz Lorena, administradora pós-graduada em finanças e controladoria, se encher de esperança. “Sou ex-aluna da WS e estou apaixonada. Cada cliente que atendo é como se sonhasse junto”, conta, apostando em ascender numa carreira internacional.
A World Study está investindo em contratações para tentar reverter efeitos da crise, que diminuíram em pelo menos 12% o seu faturamento. Com o mercado da capital saturado, a estratégia é expandir vendas para o interior do estado. “Este ano está sendo difícil, mas estamos conseguindo manter nossa posição. Fizemos três substituições e abrimos duas novas vagas para consultores de venda, o que acabou aumentando a demanda”, explica o diretor da agência, Paulo César da Silva Júnior.
Saldos de empregos
(janeiro a junho)
2016 2017 2018
Micro e pequenas empresas 22.143 57.594 66.107
Médias e grandes empresas 32.977 2.167 18.737
Fonte: Sebrae-MG
Campo puxa empregos
É no interior do estado que está a maior parte das vagas, já que os setores de agropecuário e de extração vegetal puxam as contratações. Em junho, foram 99.729 admissões no total, contra 84.542 desligamentos em Minas. Entre as contratações, 16.388 estão ligadas ao campo. O Sul de Minas foi a região com maior saldo de empregos, com superávit de 6 mil vagas. Gabriela explica que as contratações no setor de agropecuária seguem uma sazonalidade, e que, em geral, compreendem postos com grau de instrução mais baixo, de ensino fundamental incompleto, e baixos salários.
Diretamente ligada ao setor agropecuário, a Biotran, empresa de biotecnologia em reprodução animal, situada em Alfenas, no Sul de Minas, contratou dois funcionários recentemente, ambos de nível superior, aumentando o quadro para 22 colaboradores. “A adoção dessas tecnologias tem sido quase uma obrigação para se adequar a esse novo cenário”, afirma. O que não quer dizer que o setor não sofra com a crise. “Infelizmente, a pecuária também sofre com a economia, acredito que poderia ser ainda melhor”, ressalta.
EXPANSÃO
Se considerados os municípios, Belo Horizonte lidera esse ranking, com 574. Surfando na onda próspera da tecnologia e da inovação, a JN2 E-commerce, com sede na capital mineira, criou, este ano, 10 vagas, além de contratar mais cinco para repor o quadro da empresa, que cria plataformas de comércio eletrônico e lojas virtuais. Trata-se de ampliação de 20% das vagas. “Toda vez que adquirimos mais clientes, vamos expandindo e contratando”, afirma o diretor técnico e cofundador da empresa, Fernando Juste, que prevê crescimento de 40% ao ano. “Este é um mercado mais agressivo”, justifica.