São Paulo – O crescimento do crédito para pessoa física, o aumento da receita com as tarifas, controle de despesas administrativas e a queda das despesas com provisões para calotes ajudaram o Banco do Brasil a chegar a um lucro líquido ajustado de R$ 6,3 bilhões no primeiro semestre de 2018 – alta de 21,4% na comparação com o desempenho dos primeiros seis meses do ano anterior. Levando-se em consideração apenas os números do segundo trimestre, o lucro ajustado foi de R$ 3,24 bilhões (alta de 22,3%) e o líquido bateu em R$ 3,135 bilhões (aumento de 19,7%).
O resultado obtido com a cobrança de tarifas, principalmente na linha de conta-corrente (alta de 7,2%), foi outro empurrão importante no resultado do banco. O aumento foi de 5,75% no primeiro semestre. Já as tarifas obtidas com a administração de fundos registraram crescimento de 13,2%.
FÔLEGO PARA O CRÉDITO A carteira de crédito ampliada (pessoa física, agronegócio e pessoa jurídica) apresentou uma ligeira recuperação, de 1,5% na comparação entre o primeiro e o segundo trimestres. O melhor desempenho veio da PF, com alta de 2,2%, seguida pela modalidade agro, com aumento de 2,1%. A PJ teve um crescimento de apenas 0,1%.
Os destaques ficaram com a carteira de crédito consignado, com alta de 24% nas contratações, e na carteira de crédito imobiliário, que cresceu 90,3% entre o primeiro semestre de 2017 e de 2018. O financiamento de veículos (feito pelo BB e pelo Banco Votorantim), expandiu 11,7%, o que dá à instituição financeira uma participação nesse mercado de 22,2%.
Foi a primeira vez que todas as modalidades de crédito subiram desde o pós-crise. “O banco passou por um período grande de redução da carteira de crédito por causa de perdas, principalmente em micro e pequenas empresas”, explicou o presidente do banco, Paulo Caffarelli, durante a apresentação dos resultados, em São Paulo.
Segundo o executivo, o banco continuará a crescer nas operações de crédito para PF e vai melhorar “substancialmente” o resultado no segmento de PF no segundo semestre. “O caminho para os próximos trimestres está pavimentado. Tenho certeza de que colheremos novos ganhos”, sinalizou.
Mas, apesar de o segundo semestre ainda seguir sob forte tensão por conta do quadro imprevisível das eleições presidenciais, Caffarelli mantém o otimismo e acredita que será possível melhorar os números no segundo semestre, particularmente com uma estratégia mais agressiva em algumas linhas de crédito.
As despesas administrativas tiveram elevação de 1,2% no primeiro semestre, ante aumento salarial de 2,8% concedido aos funcionários.
Outra área de negócio que se destacou foi a de consórcios, com alta de 27% no comparativo entre o primeiro semestre de 2017 e o de 2018. O banco vendeu cerca de R$ 5 bilhões no primeiro semestre, chegando ao seu melhor patamar histórico. Esse volume responde por 59% de todo o volume negociado pela modalidade de janeiro a dezembro de 2017.
PRIVATIZAÇÃO O executivo do BB não acredita que a instituição financeira sentirá os efeitos de um discurso de parte dos candidatos à Presidência da República, que propõe a privatização de empresas da União. Essa é a proposta, por exemplo, defendida por Paulo Guedes, coordenador do plano econômico de Jair Bolsonaro (PSL-RJ), líder em quase todas as pesquisas quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso em Curitiba, é excluído da lista de opções dos entrevistados. Em entrevista concedida à Reuters, em maio, o economista afirmou que a princípio não haveria restrição a nenhuma estatal no plano de privatização.
“A cultura organizacional do banco está acostumada a muitos anos de eleições, portanto, isso não nos afeta. Não perco nenhum segundo do meu sono por conta disso (a chance de privatizar o banco). Público ou privado no futuro, o banco segue rumo à consolidação. Não cabe a nós, mas sim aos acionistas, tomar esse tipo de decisão”, afirmou Caffarelli.
Ainda de acordo com o executivo, o clima eleitoral não tem afetado e não influenciará nos resultados do banco no segundo semestre. “A empresa sabe como agir em momentos como esse. Apesar de toda a volatilidade, temos condições para avançar e teremos um segundo semestre mais forte.”
FINTECHS
O presidente do BB também não demonstrou preocupação quanto ao crescimento das fintechs – startups que atuam com inovações tecnológicas no mercado financeiro. “Não tenho nenhum pingo de preocupação com as fintechs, ao contrário”, disse.
Segundo o executivo, os novos bancos que têm surgido sob o guarda-chuva da tecnologia são pequenos, com carteiras que oscilam entre 200 mil e 300 mil clientes. Caffarelli argumenta que o banco tem conseguido avançar entre os nativos digitais e oferecido alternativas de atendimento fora do ambiente das agências. Hoje, o BB já chegou a 2,2 milhões de clientes digitais e até o fim do ano a previsão é alcançar 3,3 milhões.
Dados do primeiro semestre mostram que 69% das contratações de crédito para pessoa física foram por meio do smartphone e 56% para financiamentos de veículos (contra 30% no acumulado entre janeiro e junho de 2017). O dispositivo tem gerado ainda 6 mil pedidos de emissão de cartão por dia.
As transações pela internet e telefone celular responderam por 77% do total de operações do BB no segundo trimestre. Além dos serviços para pessoa física, o banco também vai aumentar a oferta para as empresas. Por exemplo, com a contratação de Antecipação de Crédito ao Lojista (ACL) por meio de canais digitais.
Três ações para cada funcionário
Enquanto o presidente Paulo Caffarelli anunciava o lucro líquido de R$ 6,3 bilhões no primeiro semestre, cada funcionário do Banco do Brasil recebia uma nanoparticipação da instituição financeira. Os trabalhadores ganharam três ações BBAS3, independentemente do cargo ou do salário.
Pela cotação de ontem, equivale dizer que eles embolsaram por volta de R$ 100. Como os papéis fecharam em alta no pregão da BM&FBovespa, de 2,97%, os empregados do BB que passaram a fazer parte do mercado acionário já começaram com ganhos.
Mas os funcionários do banco não poderão negociar os papéis. Eles só terão direito a usufruir dos seus ganhos (ou arcar com perdas) quando deixarem o BB.
Apenas os funcionários da ativa receberam as ações que o banco tinha em sua tesouraria – um total de 295.248 papéis que mudaram de mãos. O BB terá a responsabilidade da custódia. Assim, os empregados não terão de arcar com esse custo.
A ideia dessa iniciativa, segundo Caffarelli, é que os funcionários do banco incorporem o “espírito de dono”. “Do foco no cliente é que virá a rentabilidade, o ganho de eficiência, o aumento de capital. Essa busca de rentabilidade não será de uma gestão, mas de milhares de donos que brigarão por isso”, disse.
Os destaques
» Lucro líquido ajustado (1º sem.):
R$ 6,3 bilhões
» Lucro líquido ajustado (2º trim.):
R$ 3,24 bilhões
» Índice de inadimplência (Inad 90) da carteira de empréstimos (2º trim.): 3,34%
» Provisão para perdas esperadas com inadimplência: queda de 31,9% no comparativo 2017/2018 – R$ 3,58 bilhões.
» Resultado com cobrança de tarifas (1º sem.): alta de 5,75%
» Carteira de crédito ampliada (1º sem.): alta de 1,5%
» Carteira de crédito consignado (1º sem.): alta de 24% nas contratações
» Carteira de crédito imobiliário (1º sem.): alta de 90,3%
Fonte: BB