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Estado de Minas

Labace começa hoje com clima de incerteza no Brasil

Maior feira de aviação executiva da América Latina começa hoje, em São Paulo, sob as ameaças da imprevisibilidade do dólar e da política econômica a partir do ano que vem


postado em 14/08/2018 06:00 / atualizado em 14/08/2018 07:44

A americana Cirius vai apresentar na feira o modelao SF50 Vision, um monomotor que até agora tem 65 aeronaves entregues(foto: Divulgação Cirius)
A americana Cirius vai apresentar na feira o modelao SF50 Vision, um monomotor que até agora tem 65 aeronaves entregues (foto: Divulgação Cirius)


São Paulo – Conhecida por ser o palco para quem tem muito dinheiro para gastar e costuma andar descolado da crise, a 15ª edição da Latin American Business Aviation Conference & Exibition (Labace), maior evento de aviação da América Latina, que começa hoje, terá como pano de fundo o clima de incerteza do país. Em um mercado dolarizado como esse, as oscilações da moeda americana podem minar o entusiasmo dos potenciais clientes. Além disso, pesa o fato de hoje ser impossível, mesmo para os economistas mais tarimbados, prever qual será a direção do vento depois das eleições presidenciais.

 

Apesar dos componentes desfavoráveis, a expectativa é que o evento gere negócios na casa de US$ 280 milhões – entre conversas iniciadas e contratos assinados. Das quase 100 empresas expositoras, 20% desembarcam no evento pela primeira vez.

Outras 55 vão participar como convidadas para fazer um reconhecimento do mercado nacional, participar de reuniões com os organizadores e avaliar se vale a pena incluir o Brasil nas ações de marketing no próximo ano. Essa é uma das formas encontradas para manter a visibilidade da Labace, apesar de a economia brasileira não estar favorável. No ano passado, por exemplo, foram feitas apenas três reuniões desse tipo, com o objetivo de prospectar novos expositores

China e Rússia Ainda que o clima não seja tão otimista, a feira deste ano terá estreantes. Pela primeira vez a Labace terá representantes da indústria aeronáutica chinesa e russa. Além das dificuldades de qualquer recém-chegada a um mercado, terão pela frente o desafio de encontrar um espaço para vender seus aviões e instalar uma operação no país que garanta o pós-venda, com o fornecimento de peças e serviço de manutenção.

Além disso, a feira será palco da estreia oficial em um evento público do avião Cirrus SF50 Vision, produzido nos Estados Unidos. Antes, o modelo havia sido exibido apenas em um evento fechado no litoral do Rio de Janeiro, em 2017. Já os demais fabricantes devem mostrar modelos já conhecidos.

 

Entre os principais expositores estão as fabricantes brasileiras Embraer e Helibras, além de Bombardier, Dassault, Cirrus, Garmin, Beechcraft, Bell Helicopter, Líder Aviação, TAM Aviação Executiva, Boeing Business Jets, Honeywell, Gulfstream, Pilatus. Por outro lado, mais empresas de serviços vão participar da feira deste ano, como explica Flávio Pires, CEO da Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag), organizadora da Labace. “Vemos uma paralisação no país neste ano, todos estão à espera da transição política. Isso acaba segurando a venda de aeronaves”, diz.

 

 Segundo Flávio Pires, o número de novos expositores na área de serviços aumentou 20% como um “reflexo da utilização maior dos aviões, que passaram a fazer mais horas de voo”. Quem acha mais prudente adiar a compra de mais aeronaves, usa mais as que já estão no hangar. Isso levou a um aumento da demanda por prestadores de serviço de limpeza, manutenção, venda de peças, por exemplo. São empresas que fazem desde a troca do carpete até a comercialização de peças sobressalentes.

 Mercado estável A Labace terá neste ano modelos a partir de US$ 2 milhões até US$ 60 milhões. O Brasil tem a segunda maior frota mundial de aviação geral (inclui todas as aeronaves que não fazem voos comerciais). Ao todo, são 15.406 aeronaves, segundo dados mais recentes (maio de 2018), entre jatos (756), turboélices (1.278), helicópteros (2.083) e aeronaves convencionais (11.204). O crescimento total foi de apenas 0,3% em relação aos números de 2016, com destaque para a alta de 3,7% nos turboélices e de 1,7% na frota de jatos. Já as aeronaves convencionais apresentaram uma queda e o total de helicópteros se manteve estável. Até antes da crise econômica do país, esse mercado vinha crescendo a uma taxa média de 7% ao ano. Em 2010, segundo a Abag, o país tinha 12.310 aeronaves.

 Parte da sustentação do mercado nacional de aviação geral veio das vendas para as regiões Centro-Oeste e Nordeste, que tiveram suas economias empurradas pelo bom desempenho da atividade agrícola, mas também do varejo, que vem investindo na interiorização de seus negócios.

Petrobras encolheu

 

 

 Por outro lado, o Brasil viu nos últimos anos o encolhimento de alguns segmentos, segundo o presidente da Abag. É o caso das empresas ligadas à atividade de exploração de petróleo, particularmente com a Petrobras. De acordo com Flávio Pires, a companhia brasileira tinha até cerca de três anos por volta de 150 contratos de helicópteros. Hoje esse número é de cerca de 60. Calcula-se que entre 500 e 600 profissionais perderam seus postos de trabalho em função desse enxugamento da empresa. “O pior é que a maior parte não conseguiu se recolocar”, lamenta.

 Mas se alguns segmentos estão reagindo mal nos últimos anos, outros podem ser bem promissores nos próximos anos. O presidente da Abag lembra que Embraer e Uber anunciaram no ano passado uma parceria para o desenvolvimento de um serviço de transporte aéreo urbano. Ainda não há uma data para o lançamento da novidade, que tem como plataforma um veículo elétrico, mas a promessa das empresas é garantir o acesso a um grande número de pessoas com o “Uber dos ares”.

 Outra frente que já tem apresentado bons resultados, segundo Flávio Pires, é a de aeronaves compartilhadas do tipo charter. Nos Estados Unidos, conta, o modelo de compartilhamento vem ganhando nos últimos anos a adesão principalmente de executivos e jovens empreendedores com idades entre 30 e 40 anos. No entanto, essa mudança de comportamento ainda não avançou no Brasil – para o presidente da Abag, talvez por questões culturais.

Paraquedas em monomotor é atração


A americana Cirrus deve ter um dos stands com maior público durante a Labace. A empresa vai apresentar pela primeira vez em um evento aberto, no Brasil, o modelo SF50 Vision, um jato monomotor que até agora tem 65 aeronaves entregues, uma fila de espera de aproximadamente 600 clientes – 10% deles são brasileiros, segundo Sergio Beneditti, diretor de vendas da Plane Aviation, que tem a representação da marca no país.

 O primeiro brasileiro deverá receber o Vision em janeiro. O nome não é revelado, mas, segundo o executivo de vendas, o comprador é um investidor da área de seguros corporativos e também tem uma rede de restaurantes. O preço-base do jato (sem impostos para a importação) é de US$ 2 milhões. A Cirrus hoje tem como principal produto no Brasil o SR22 Potenza. Muitos desses proprietários têm mostrado interesse pelo Vision, segundo Beneditti. Hoje, a frota da fabricante no país é de 400 aeronaves.

 Além de ser um jato monomotor, outra curiosidade do Vision e de outras aeronaves da Cirrus é que os modelos contam com um paraquedas para garantir uma segurança adicional aos passageiros. No Brasil, dois aviões já tiveram de acionar o dispositivo. No mundo, de um total de 7 mil unidades, 55 abriram o paraquedas. “É uma segurança a mais e até um fator adicional de convencimento na hora da venda. A aeronave chega ao solo a uma velocidade de 28km/h caso o acessório seja aberto”, explica Beneditti.

PRODUTO NACIONAL

 

A brasileira Embraer, que está no meio de um processo de venda do seu controle para a americana Boeing, apresentará na Labace, pela primeira vez, as aeronaves Phenom 100EV, Phenom 300E e Legacy 650E com interior completo. Os modelos já contam com as inovações de tecnologia e de design mais recentes, e serão exigidos ao lado dos Legacy 450 e Legacy 500 – todos da nova geração de jatos executivos da indústria.

 A divisão de aeronaves executivas é a que deverá ficar com os atuais controladores da Embraer caso a venda para a Boeing seja concluída segundo a proposta divulgada em julho. A empresa brasileira, uma das maiores fabricantes de jatos executivos do mundo, entrou nesse segmento em 2000, com o lançamento do jato Legacy. Já a Embraer Aviação Executiva foi constituída em 2005. Seu portfólio é composto pelos jatos Phenom100EV, Phenom 300E, Legacy 450, Legacy 500, Legacy 650E e Lineage 1000E.

 Atualmente, a frota da Embraer Aviação Executiva tem cerca de 1.200 jatos em operação, em aproximadamente 70 países. Ao todo, os clientes contam com uma rede global de 70 centros de serviços, entre próprios e autorizados.


Como será o evento

15ª Labace (Latin American Business Aviation Conference & Exhibition)

Local Aeroporto de Congonhas, em São Paulo
Aeronaves expostas 47
Principais expositores Embraer, Helibras, Bombardier, Dassault, Cirrus, Garmin, Beechcraft, Bell Helicopter, Líder Aviação, TAM Aviação Executiva, Boeing Business Jets, Honeywell, Gulfstream e Pilatus
Valores de US$ 2 milhões a US$ 60 milhões
Previsão de negócios US$ 280 milhões
Preço do ingresso R$ 450 para visitantes
Data de 14 a 16 de agosto, das 12h às 20h. No dia do encerramento, o evento termina às 19h
Informações www.labace.com.br


.Nos céus do Brasil
Frota brasileira 15.406 aeronaves *
Jatos 756
Turboélices 1.278
Helicópteros 2.083
Aeronaves convencionais 11.204

(*) Maio de 2018


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